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Nova Orleans dá a volta por cima 10 anos após o Katrina

Por Da Redação
29 ago 2015, 14h51

Há exatos dez anos, o furacão Katrina arrancava edifícios de suas fundações e provocava uma enorme inundação em Nova Orleans (EUA), onde algumas pessoas morreriam afogadas em suas próprias casas. Aqueles que conseguiram subir nos telhados ou alcançaram um local seguro em terra firme tiveram que esperar vários dias por ajuda, enquanto a “Big Easy” — apelido de Nova Orleans — mergulhava no caos. Hoje, casas sobre palafitas cintilantes substituíram a maioria das carcaças em decomposição que emergiram depois da drenagem da cidade, mais baixa que o nível do mar em comparação com Amsterdã. As fanfarras desfilam novamente no movimentado bairro francês, atraindo moradores e turistas em seu rastro. E o paraíso gastronômico pode se gabar dos 600 restaurantes que tem a mais hoje.

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“Nossa cidade se reergueu e o restabelecimento faz parte de uma das histórias de tragédia, triunfo, ressurreição e redenção mais notáveis do mundo”, declarou recentemente o prefeito Mitch Landrieu. “Em uma palavra: resiliência”, disse ele. Calcula-se que mais de 1.800 pessoas tenham morrido ao longo da costa do sul dos Estados Unidos — a maioria em Nova Orleans — e que mais de 1 milhão de pessoas tenha deixado a região quando o furacão de categoria 5 (o topo da escala) se aproximava, em 29 de agosto de 2005. O desabamento de diques mal construídos e mal conservados, que não resistiram à pressão da tempestade, causou a maioria das mortes.

Cerca de 80% de Nova Orleans foi inundada pela água que subiu mais de seis metros de altura. As falhas na resposta das autoridades do então governo do republicano George W. Bush evidenciaram as dificuldades do país em seus procedimentos de emergência, apesar dos bilhões investidos em segurança interna depois dos ataques de 11 de Setembro de 2001. O balanço financeiro dos custos da tragédia ultrapassou os 150 bilhões de dólares.

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Uma economia próspera — Conhecida no passado como o maior mercado de escravos americano, Nova Orleans era uma cidade dividida pela cor da pele antes da tempestade, com problemas graves de criminalidade, escolas subfinanciadas, infraestrutura precária e uma economia lenta. Uma questão fundamental com que a cidade teve de lidar ao iniciar a sua reconstrução depois do Katrina foi: refazer tudo como era antes ou agarrar a oportunidade para uma mudança positiva?

“Após a catástrofe do Katrina, parece-me que a cidade passou a se perceber quase como um indivíduo traumatizado”, diz Sean Cummings, construtor responsável pela renovação de grande parte do centro da cidade. “Será que eu levo a vida que deveria levar?”, continua ele, concluindo que Nova Orleans precisava mudar.

Dez anos mais tarde, a economia da cidade prospera. A taxa de ocupação hoteleira é maior do que antes da tempestade, 14.000 empregos foram criados desde 2010 e o ritmo de abertura de novas empresas é 64% mais elevado do que a média nacional. A criminalidade caiu, o número de assassinatos atingiu o seu nível mais baixo em 43 anos em 2014 e a população carcerária diminuiu em dois terços. As escolas também melhoraram, com notas e uma taxa de graduação acentuadamente mais elevada.

Embora a cidade tenha se recuperado em muitos aspectos, ainda há muito a ser feito, garante o presidente do conselho municipal, Jason Williams. “Nova Orleans é uma cidade particularmente empobrecida e nós sofremos com a pobreza geracional”, diz. Além disso, as obras de recuperação de infraestrutura e edifícios danificados pelo Katrina – as redes elétricas, os supermercados, hospitais, casas e diques – ainda não estão concluídas. Nova Orleans tem a segunda taxa de maior disparidade de renda dos Estados Unidos e a expectativa de vida em suas zonas mais desfavorecidas é de apenas 54 anos, ou 25 anos menos do que em bairros mais ricos a poucos quilômetros de distância.

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Rosana Cruz, da organização para a justiça racial Race Forward, acusa o prefeito de dar prioridade aos turistas e aos recém-chegados, em vez dos residentes de longa data. “É realmente uma abordagem digna de uma república de bananas”, disse ela. “Nós gastamos excessivamente com aqueles que virão aqui.”

Luto de uma comunidade — Alguns moradores dizem que a atmosfera da cidade, antes mais afro-caribenha e creole do que americana, mudou. Grande parte da população nunca retornou. Nova Orleans perdeu 100.000 habitantes em comparação com o período pré-Katrina e muitos moradores atuais são recém-chegados. A população negra perdeu 115.000 pessoas, baixando a 60% da população total em 2013 contra 68% em 2000, de acordo com o último censo.

Asia Rainey, poeta e chefe de um pequeno negócio, cresceu no Lower Ninth Yard, uma área duramente atingida pelo furacão. Ela ainda está de luto por seus amigos, sua família e uma comunidade que nunca retornou. “É difícil segurar”, diz ela. “Isso não pode ser mais a Nova Orleans sem as pessoas que a construíram.”

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(Com agência France-Presse)

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