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‘Noiva do Estado Islâmico’ ajudou CIA na busca por líder terrorista

Presa desde 2016, Umm Sayyaf indicou o paradeiro de Abu Bakr al-Baghdadi no Iraque; o jihadista era amigo de seu marido, morto em uma operação dos EUA

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Atualizado em 31 Maio 2019, 19h22 - Publicado em 31 Maio 2019, 18h50

A mais importante mulher integrante do Estado Islâmico (EI), Nisrine Assad Ibrahim, ajudou o governo americano na busca pelo principal líder do grupo, Abu Bakr al-Baghdadi, indicando os esconderijos do foragido na cidade de Mossul, no Iraque, segundo informações do jornal britânico The Guardian. Ibrahim está presa pelas forças americanas.

De acordo com documentos dos Estados Unidos, Nisrine, mais conhecida pelo “nome de guerra” Umm Sayyaf, ajudou a Agência Central de Inteligência (CIA) e os agentes curdos a montarem um perfil detalhado das movimentações de Baghdadi e de seus principais contatos.

A história foi confirmada por Umm Sayyaf em sua primeira entrevista desde que foi presa durante uma operação da força aérea americana na Síria. Nesse ataque, há quatro anos, foi morto seu marido, Fathi Ben Awn Ben Jildi Murad al-Tunis, então ministro de Petróleo do Estado Islâmico e um amigo próximo de Baghdadi.

Figura controversa entre governos estrangeiros, Sayyaf foi acusada de envolvimento em alguns dos crimes mais cruéis do grupo jihadista, incluindo o cativeiro e a tortura da ativista americana Kayla Mueller e de várias mulheres e meninas da minoria yazidi, estupradas por líderes mais antigos do EI.

Sentenciada à morte por uma corte de Erbil, no Iraque, a “noiva do Estado Islâmico” conversou com o Guardian em uma prisão da cidade. Ela era acompanhada por uma autoridade curda.

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Transferência para os EUA

A advogada de direitos humanos Amal Clooney já pediu a transferência de Umm Sayyaf do Iraque para os Estados Unidos, onde seria julgada novamente por seus crimes. No último mês de abril, Clooney contou ao Conselho de Segurança das Nações Unidas os detalhes da ação da acusada contra Mueller e outras reféns, apostando na causa da americana para ganhar o recurso.

Segundo a advogada, a árabe “trancou as reféns em um quarto, incentivou os espancamentos e colocou maquiagem nelas para ‘prepará-las’ para os estupros.”

Em fevereiro de 2016, ela identificou a casa em Mossul na qual Baghdadi estaria morando. Mas, de acordo com as autoridades curdas, comandantes americanos não apoiaram os planos de um ataque aéreo imediato e, com isso, possibilitaram a fuga do líder jihadista. As causas da hesitação foram o tráfego aéreo intenso naquela noite e o medo de um grande número de vítimas civis.

“Eu contei a eles onde estava a casa,” disse Umm Sayyaf. “Sabia que ele estava lá porque era uma das casas oferecidas a ele e um dos lugares que mais gostava.”

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Das mulheres do Estado Islâmico, Sayyaf era a mais próxima do líder terrorista graças ao seu casamento e a sua família, parte do alto escalão do grupo. Como uma das “noivas” mais importantes da organização, ela usufruía de um acesso atípico às reuniões e discussões privadas dos combatentes e esteve presente na gravação de vários dos áudios de Baghdadi para seus seguidores, algumas vezes na casa que dividia com o marido.

“Ele costumava fazer aquilo (gravações) em nossa sala de estar em Taji (cidade no centro do Iraque)”. “Na época, meu marido era chefe de imprensa do Estado Islâmico e recebíamos visitas frequentes de Baghdadi.”

Nos primeiros meses depois de sua prisão, Umm Sayyaf se recusou a cooperar com as autoridades, reagindo agressivamente às tentativas de conversa. Mas, no início de 2016, já indiciada, ela mudou o tom e começou a revelar informações confidenciais sobre a organização.

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Depois do fracasso da procura em Mossul, a mulher sugeriu que o líder do Estado Islâmico continuaria no Iraque, onde se sentia mais seguro. “Ele nunca se sentiu bem na Síria, sempre queria estar no Iraque e só viajava quando necessário. Da última vez que soube dele, seu plano era ir para Qaim (cidade iraquiana), saindo de Abu Camal (cidade síria), mas isso já faz algum tempo”, contou.

Umm Sayyaf recebe uma visita mensal de parte de sua família, isenta de envolvimento com terrorismo, e tem acesso e médicos e voluntários de ajuda humanitária. Apesar de sua cooperação com as autoridades, é improvável que ela consiga uma mudança em sua sentença.

“Nós não deixaremos ela ir embora. Ela veio de um ambiente muito radical e se voltar para o mundo pode ser tornar um deles”, disse um dos chefes da inteligência curda, em referência aos jihadistas.

Aparição rara

Apesar dos mistérios sobre sua localização exata, Abu Bakr Baghdadi teria feito sua última aparição há poucos meses. No dia 29 de abril, um homem se identificando como o líder do Estado Islâmico, cuja imagem não circulava há mais de cinco anos, gravou um vídeo com um discurso de encorajamento aos seus militantes.

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Nas imagens, ele elogia os terroristas que mataram 253 pessoas no Sri Lanka na Páscoa e estimula os jihadistas sob seu comando a combaterem até o “Dia do Juízo Final”.

Ele parece sentado sobre um tapete, com as pernas cruzadas, e um fuzil Kalashnikov no seu lado direito.  Seu braço direito está apoiado em uma pilha de almofadas. O discurso dura apenas quarenta segundos. Mas há mensagens escritas no restante do vídeo, de dezoito minutos. 

“A batalha de Baghuz acabou. Mas mostrou a selvageria, a brutalidade e as intenções doentias dos cristãos contra a comunidade muçulmana”, afirmou, referindo-se ao conflito no último bastião do EI na Síria, próximo da fronteira com o Iraque, conquistado pela coalizão liderada pelos Estados Unidos em abril.

A identidade do orador não chegou a ser confirmada, mas há semelhança com as fotos mais antigas do líder do Estado Islâmico.

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Segundo o Times, o vídeo parece ser um esforço para demonstrar que, apesar das tremendas perdas, o EI ainda está ativo e prestando atenção. O suposto Baghdadi fez referências às eleições em Israel e à queda dos líderes do Sudão e da Argélia e chamou os líderes regionais e jihadistas do EI na Bélgica, Austrália e Arábia Saudita pelos seus nomes.

Se realmente for Baghdadi o orador, este será seu segundo vídeo em cinco anos, segundo o jornal The Guardian. No texto, ele festeja os atentados no Sri Lanka. Embora tenha assumido a autoria dos ataques, ainda há dúvidas sobre a atuação do EI. “Os americanos e europeus fracassaram enquanto nós cumprimentamos nossos irmãos no Sri Lanka pela lealdade deles ao califado”, afirma o texto.

 

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