Natalia Kidd.
Buenos Aires, 15 jun (EFE).- A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, irá à cúpula do G20 disposta a defender sua política econômica e reivindicar às grandes potências um freio do fluxo de recursos destinados ao setor financeiro em troca de um aumento do investimento produtivo para sair da crise.
No fórum do México, a Argentina – um dos três membros latino-americanos do G20 – deve ser alvo de fortes críticas por causa de suas políticas de restrição às importações, compra de dólares e por medidas polêmicas, como a nacionalização da YPF ao grupo espanhol Repsol.
Essas críticas, inclusive, foram feitas por outros membros do G20, como União Europeia, Estados Unidos e México, que questionaram a desapropriação da YPF. Da mesma forma, os europeus denunciaram a Argentina perante a Organização Mundial do Comércio (OMC) por suas medidas comerciais protecionistas.
‘Os impedimentos ao comércio exterior, a desapropriação da YPF, a visita a países como Angola e os impedimentos cambiais são políticas muito mal vistas pelo resto dos países do G20’, disse à Agência Efe o analista Patrício Giusto, da empresa de consultoria Diagnóstico Político.
Estas políticas levaram os republicanos americanos a colocar no Senado dos EUA a possibilidade da Argentina ser expulsa do G20, medida que Giusto não vê como viável por enquanto, embora pode ser contemplada pelo Grupo se Buenos Aires persistir com estas medidas.
‘Não é um tema das discussões formais do G20 e não há nenhuma indicação que haverá uma decisão de modificar a conformidade do grupo’, disse há umas semanas a chanceler mexicana, Patricia Espinosa.
Mesmo assim, Giusto falou que na reunião de Los Cabos as críticas sobre a Argentina estarão presentes e serão ‘moderadas’, embora alguns países possam fazer declarações mais incisivas e a presidente reagir com um contra-ataque. ‘É esperável que haja declarações fortes de Cristina, que aproveitará o cenário para redobrar a aposta’, destacou Giusto.
De fato, na semana passada a presidente deu pistas de como será sua participação na cúpula. Cristina afirmou que há algo de errado na liderança mundial, pois a economia global está ‘pior’, além disso a presidente considerou que é hora de ‘tomar o touro pelos chifres’ e disse que tentará terminar com o destino de recursos ao setor financeiro para reconduzi-lo ao setor produtivo.
‘É imprescindível que respostas e soluções comecem a ser dadas. Vamos reivindicar isso à Europa e Estados Unidos’, disse a presidente. Para ela, ‘quem produz as crises dificilmente podem resolvê-las’.
Diante das eventuais críticas a suas políticas, Cristina vai ao México com uma série de argumentos. Entre eles estão: afirmar que as importações da Argentina cresceram no ano passado 31%, muito mais do que nos países desenvolvidos, e garantir que seu país é, atrás da Alemanha e segundo dados da OCDE, o membro do G20 com maior ‘liberdade para investir’.
A presidente também pretende defender que, na realidade, é a Argentina que enfrenta práticas comerciais protecionistas por parte dos países desenvolvidos, quando suas exportações são prejudicadas por impedimentos tarifárias ou barreiras sanitárias.
Na cúpula de Los Cabos, na qual o México impulsionará um compromisso do G20 contra o protecionismo comercial no mundo, Cristina manterá encontros bilaterais com o presidente russo, Vladimir Putin, e o francês, François Hollande, e pela primeira vez irá em um fórum público com o espanhol Mariano Rajoy desde a controvérsia da YPF. EFE