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O futuro incerto de Netanyahu

Pela primeira vez em uma década, primeiro-ministro não sai vencedor de uma eleição em Israel. Ele tem três processos nas costas e seu cargo parece ameaçado

Por Kátia Mello
Atualizado em 20 set 2019, 09h56 - Publicado em 20 set 2019, 06h30

Quando saiu fortalecido de uma eleição dificílima em abril, completando dez anos de governo e abalado por denúncias de corrupção, o primeiro-­ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, foi coberto de glória: provara que sua celebrada mágica para escapar de situações difíceis continuava em vigor. Mas seu partido, o Likud, não conseguiu amarrar as alianças de que precisava. Em vez de arrastar as negociações e dar chance a outras lideranças, Netanyahu decidiu arriscar e convocar uma nova eleição. Ao que tudo indica, a manobra não deu certo. Na votação de terça 17, quem conquistou mais cadeiras no Parlamento — 33, duas a mais que o Likud — foi a coa­lizão centrista Azul e Branco, liderada pelo general reformado Benny Gantz. Cabe agora ao presidente Reuven Rivlin convidar o líder partidário com maiores possibilidades de obter a maioria de 61 deputados para formar o governo, e Gantz é o primeiro da fila.

Pouco depois de as urnas se fecharem, o general discursou e propôs um governo de “união” — neste momento, uma das palavras mais pronunciadas em Israel. Netanyahu cancelou a ida a Nova York para discursar na Assem­bleia-Geral da ONU na próxima semana, decisiva para a formação de um governo. Até o grande amigo Donald Trump afastou-se, ao declarar que a relação preferencial dos Estados Unidos “é com Israel”, e não com o primeiro-ministro. Para Bibi, como é chamado, os próximos dias definirão se permanece ou não como uma força na política israelense.

As opções para a formação do novo governo são variadas e complicadas, e só com muita mágica Neta­nyahu tem chance de sair favorecido. Caso Gantz se torne primeiro-ministro, entrará para o time mundial dos novatos que chegaram e venceram, já que nunca havia disputado uma eleição antes da de abril passado. A união mais almejada é a do Azul e Branco com o Likud — que, no entanto, só deve se tornar minimamente viá­vel se Netanyahu sair de cena. “Essa coalizão provavelmente seria menos radical em relação aos conflitos com os palestinos do que os últimos governos de direita”, prevê o cientista político Amos Zehavi, da Universidade de Tel-Aviv. “Mas o Azul e Branco está longe de apoiar uma ampla conciliação árabe-­israe­len­se”, ressalva, lembrando que Gantz, entre outras coisas, é favorável à política de assentamentos judeus na Cisjordânia. Nas últimas semanas de campanha, Netanyahu foi mais longe e prometeu anexar de vez partes da região que a comunidade internacional considera sob ocupação e onde vivem 65 000 palestinos.

Netanyahu perdeu pontos nesta eleição por sua dependência dos partidos ultraortodoxos, vistos com desconfiança pela maior parte do eleitorado. Sua proximidade com os grupos religiosos foi justamente o estopim para o rompimento do principal aliado do Likud, o partido Israel, Nosso Lar, de Avigdor Lieberman, da extrema ­direita. Com nove preciosos votos no Parlamento, Lieberman, transformado em fiel da balança nas negociações para um novo governo, é um dos que insistem na coligação entre os dois maiores partidos — sem Neta­nyahu. O mais surpreendente nesta votação foi o avanço da Lista Árabe Unida, união de pequenos partidos que elegeu treze parlamentares e que em abril fracassara.

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Se nenhum governo estiver formado até o fim de outubro, nova eleição terá de ser convocada, provavelmente a partir de janeiro — um cenário que causa arrepios a Neta­nyahu. Ele é citado em três processos por corrupção, que começam a ser julgados em 2 de outubro e que podem conduzi-lo à cadeia. Seguindo como primeiro-­ministro, Bibi conseguiria levar adiante a intenção de encaminhar ao Knesset, o Parlamento israelense, um projeto de lei que amplia o alcance do foro privilegiado. A manobra congelaria os processos e o livraria da Justiça. O rival Gantz, durante a campanha, repudiou com veemência esse projeto, alegando ser uma interferência indevida do Legislativo no Judiciário. Enquanto os partidos negociam, a atividade parlamentar de Israel permanece suspensa, com grandes prejuízos financeiros. Desde abril, o país gastou pelo menos 800 milhões de dólares com o sustento de parlamentares inativos e a realização de duas eleições. Se um terceiro turno vier a ser convocado, o gasto deverá superar 1,3 bilhão de dólares. Israel vive dias difíceis — e tudo indica que seu futuro exclui Bibi.

Publicado em VEJA de 25 de setembro de 2019, edição nº 2653

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