‘Não sou um caso psiquiátrico, sou penalmente responsável’, diz Breivik

Copenhague, 20 abr (EFE).- Durante o quinto dia de julgamento dos atentados de 22 julho na Noruega, o fundamentalista cristão ultradireitista Anders Behring Breivik afirmou nesta sexta-feira que não se considera um doente mental, que possui plena consciência de suas ações e, por isso, deve ser julgado por todos seus atos.
‘Este processo é muito simples. Não sou um caso psiquiátrico, sou penalmente responsável’, informou a imprensa norueguesa com bases nas suas declarações, que não são retransmitidas por conta de uma ordem do próprio tribunal.
Além de ter assumido ‘toda’ a responsabilidade dos ataques, Breivik fez questão de ressaltar que não se sente culpado, já que, segundo ele, a culpa recai sobre os defensores do ‘multiculturalismo’ que ameaça a existência dos noruegueses.
‘O dia 22 de julho não se trata de familiares e nem de mim, trata-se do futuro da Noruega e da Europa’, afirmou o responsável pela morte de 77 pessoas.
O extremista norueguês, de 33 anos, sabe que ‘destruiu’ muitas famílias e que causou ‘uma dor inimaginável’, mas, por outro lado, afirma que nem quer e nem pode pensar nisso.
‘Não acho que poderia estar nesse julgamento sem antes ter eliminado minhas emoções. Se tivesse que tentar compreender o sofrimento que causei não poderia estar sentado aqui ou viver depois do dia 22 de julho’, afirmou.
Apesar da insistência dos representantes legais das vítimas do massacre, Breivik não aceitou assumir a culpa. ‘Isso não é possível, me derrubaria mentalmente. Não posso eliminar os escudos mentais que tenho’, assinalou.
Breivik assegurou que há seis anos usa uma forma de meditação japonesa para anular as emoções e se comparou com um soldado ‘kamikaze’ japonês em uma ação suicida.
Durante o julgamento, o acusado reiterou sua admiração pela Al Qaeda e ainda declarou que estudou o modo de atuação dessa rede terrorista islâmica, assim como a de outros grupos como a organização terrorista ETA.
‘A fraqueza de organizações comunistas como a ETA é que eles possuem medo da morte. Não se atrevem a fazer um ataque suicida. Não acreditam na outra vida, essa é sua maior desvantagem’, disse.
Sobre sua vida privada, destacou que sempre teve uma ‘boa relação’ com sua mãe e uma vida social ‘normal’, além de ser uma pessoa ‘muito simpática’ e com emoções ao revelar que chorou no enterro de um amigo. No entanto, a partir de 2006 ele passou a usar um ‘mecanismo de proteção’ similar ao dos soldados.
Breivik também foi questionado pelos juízes sobre muitos aspectos relativos ao primeiro ataque com a caminhonete-bomba em Oslo, como informações relacionadas à fabricação do explosivo e de sua ideologia.
Muitas dessas respostas insistiam na questão do multiculturalismo, que, segundo ele, é apoiado por toda a imprensa da Europa e que é a base do sistema educacional, definido por ele como ‘campo de doutrinamento’. De acordo com Breivik, este fato destrói os papéis tradicionais de uma sociedade.
Se a imprensa norueguesa não houvesse ‘censurado’ as ‘revoltas islâmicas’ na França e na Suécia antes das eleições gerais de 2009, a direita populista teria assumido o poder, o que poderia dar início a uma linha de imigração mais ferrenha, ‘a nível dinamarquês’, um fato que também poderia ter evitado o ataque, declarou.
Breivik só demonstrou sinais de irritação ao ser questionado sobre seu primeiro relatório psiquiátrico, onde o acusado é declarado um doente mental.
A juíza principal, Wenche Elizabeth Arntzen, pediu respeito aos autores do estudo, enquanto Breivik chamava os autores do relatório de ‘Asbjørnsen’ e ‘Moe’, dois conhecidos escritores de contos populares noruegueses do século XIX. EFE