‘Nacionalismo com as vacinas prejudica o mundo’, diz OMS
Tedros Adhanom Ghebreyesus pediu que países e farmacêuticas respeitem ‘fila’ de distribuição da vacina contra a Covid-19
Em entrevista concedida nesta sexta-feira (8), Tedros Adhanom, chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), pediu que os estoques de vacina contra a Covid-19 sejam distribuídos de forma justa.
“Nenhum país é excepcional e deve furar a fila e vacinar toda a sua população enquanto alguns permanecem sem fornecimento da vacina”, disse.
Ele solicitou que países ricos deixem de fazer “acordos bilaterais” com os laboratórios para reservar doses do imunizante.
“Isso significa que as pessoas de alto risco nos países mais pobres e marginalizados não receberão sua dose”, disse.
O responsável explicou que estes acordos, inicialmente assinados pelos países ricos com as empresas farmacêuticas, e que posteriormente também foram feitos por países de rendimento médio, podem fazer subir os preços das vacinas.
“Peço encarecidamente aos fabricantes que deem prioridade ao envio das vacinas através do mecanismo Covax lançado pela OMS e seus sócios”, declarou.
No início desta semana, a OMS disse que a instalação da Covax arrecadou US $ 6 bilhões dos US $ 7 bilhões que buscou em 2021 para ajudar a financiar entregas para 92 países em desenvolvimento com meios limitados ou sem meios para comprar vacinas por conta própria.
O diretor-geral da agência de saúde também pediu aos países que solicitaram mais doses da vacina do que as necessárias que as “doem imediatamente à Covax, que está preparada para distribuí-las igualmente a partir de hoje mesmo”.
“O nacionalismo prejudica todo o mundo”, destacou, lamentando que a vacina tenha chegado apenas a alguns países pobres até agora.
O apelo coincidiu com uma decisão da União Europeia (UE), muito pressionada pelas críticas geradas pela lentidão das campanhas de vacinação, de dobrar suas encomendas da vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Pfizer/BioNTech.
O chefe de emergências, Mike Ryan, ecoou os comentários de Tedros, enfatizando a necessidade de dar doses aos grupos vulneráveis e aos profissionais de saúde da linha de frente primeiro, não importa onde vivam. “Vamos permitir que as pessoas vulneráveis e em maior risco adoeçam e morram por causa do vírus?” ele perguntou.
Embora Tedros não tenha mencionado os países, a UE disse que chegou a um acordo com a Pfizer e a BioNTech por 300 milhões de doses adicionais de sua vacina COVID-19, em um movimento que daria ao bloco europeu quase metade da produção global das empresas em 2021.
A disputa pelas vacinas se acelerou à medida que os governos também lutam para domar mais variantes infecciosas identificadas na Grã-Bretanha e na África do Sul, que ameaçam sobrecarregar os sistemas de saúde.
O chefe da OMS afirmou que 42 países iniciaram seus programas de vacinação, 36 de alta renda e 6 de renda média. “Está claro que os países de baixa renda e a maioria dos países de renda média ainda não estão recebendo a vacina”, denunciou.
A meta da OMS é fornecer doses a 20% da população dos países participantes do programa Covax antes do final do ano. A agência da ONU espera poder enviar as primeiras vacinas a partir do final de janeiro.