Na Tunísia, população protesta e quatro ministros renunciam
Os manifestantes são contra manter no governo aliados do presidente deposto
“Conservaram os cargos porque precisamos deles nesta fase de construção democrática”
Ghannouchi, sobre os ministros do presidente deposto
Apenas um dia depois do anúncio do governo de união na Tunísia, quatro ministros decidiram renunciar aos cargos. Segundo a rede britânica BBC, três deles faziam parte da União Geral de Trabalhadores Tunisianos ( UGTT), legenda que desempenhou papel-chave nos protestos que derrubaram o ditador Zine El Abidine Ben Ali e que não reconhece o novo governo.
“Nos retiramos do governo a pedido de nosso sindicato”, declarou Husin Dimasi, que havia sido designado na véspera ministro do Emprego. Os outros dois são Abdelyelil Bedui, conselheiro do primeiro-ministro, e Anuar Ben Guedur, secretário de Estado conselheiro do ministro dos Transportes. Eles foram, mais tarde, acompanhados pelo ministro da saúde, Mustafa ben Jaafar, um dos líderes-chave da oposição. O anúncio ocorreu em meio a uma onda de protestos da população que tomou conta das ruas da capital Tunis e outras cidades nesta terça-feira.
Os manifestantes são contra a decisão do primeiro-ministro Mohamed Ghannouchi de manter seis ministros do presidente deposto, do partido RCD, no governo de “união nacional” e muitos o acusam de “traição”. A polícia reprimiu as dezenas de protestos com violência, usando bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes. Helicópteros também foram usados para monitorar o caos nas ruas. “Podemos viver apenas com pão e água, mas não com o RCD”, gritavam os grupos, que planejam mais atos para esta tarde.
O país está em estado de emergência desde a última sexta-feira, quando o ditador Zine El Abidine Ben Ali, no governo desde 1987, abandonou o cargo de presidente e partiu para o exterior. Desde então, Ghannouchi assumiu a presidência interina. Sua fuga veio na esteira de uma série de confrontos de rua entre a população e o exército, ao longo de mais de um mês.
Ghannouchi – Também na manhã desta terça, o premiê respondeu às críticas ao novo governo em entrevista à rádio francesa Europe 1. “Conservaram os cargos porque precisamos deles nesta fase de construção democrática, na qual temos que preparar as eleições em seis meses e garantir a segurança”, declarou Ghannouchi, completando: “Todos têm as mãos limpas e são muito competentes. Têm méritos. Graças à dedicação deles, conseguimos reduzir os danos. Manobraram, tergiversaram, ganharam tempo para preservar o interesse nacional”.
O primeiro-ministro prometeu ainda que os responsáveis pela repressão violenta das manifestações e que “provocaram essa matança, serão julgados”. Além disso, Mohammed Gannouchi declarou ter a “impressão” de que nos últimos meses Leila Trabelsi, a esposa do presidente deposto, era quem comandava o país.
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(Com agência EFE)