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Na ONU, Lula retoma discurso do primeiro mandato e promete extinguir fome

Presidente criticou o Conselho de Segurança da ONU e falou em 'incapacidade' com a guerra na Ucrânia

Por Amanda Péchy e Caio Saad
Atualizado em 19 set 2023, 13h46 - Publicado em 19 set 2023, 11h17
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  • O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta terça-feira, 19, retomou discurso de seu primeiro mandato, de 2003 a 2006, e voltou a prometer a extinção da fome. Um dos temas mais esperados, a guerra na Ucrânia, ganhou pouco destaque em sua fala, e serviu para criticar a atual composição do Conselho de Segurança da ONU.

    Lula usou seu discurso para destacar pilares já anunciados por ele, ao assumir a presidência do G20, no último fim de semana, na Índia: uma ação global de combate à fome, a redução das desigualdades e o desenvolvimento econômico sustentável, baseado em aspectos não apenas econômicos, mas ambientais e sociais.

    “A fome, tema central da minha fala neste Parlamento Mundial vinte anos atrás, atinge hoje 735 milhões de seres humanos, que vão dormir esta noite sem saber se terão o que comer amanhã”, afirmou.

    O petista acrescentou que a desigualdade no mundo aumentou, já que os 10 maiores bilionários atualmente possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade.

    “O destino de cada criança que nasce neste planeta parece traçado ainda no ventre de sua mãe. Se irá fazer todas as refeições ou se terá negado o direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar diariamente. É preciso, antes de tudo, vencer a resignação, que nos faz aceitar tamanha injustiça como fenômeno natural. Para vencer a desigualdade, falta vontade política daqueles que governam o mundo”, disse ele.

    Lula voltou a abrir a assembleia 14 anos depois de discursar na sede das Nações Unidas, em Nova York, pela última vez. Mais uma vez, com o mote de que o Brasil está de volta ao cenário internacional, o petista criticou o atual sistema de governança, que permite, na sua visão, que o lado desenvolvido do planeta afaste das grandes decisões o chamado Sul Global.

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    “Como não me canso de repetir, o Brasil está de volta. Nosso país está de volta para dar sua devida contribuição ao enfrentamento dos principais desafios globais. Resgatamos o universalismo de nossa política externa, marcada pelo diálogo com todos”, afirmou o líder brasileiro.

    Segundo ele, os países ricos estão cada vez mais protecionistas, prejudicando o desenvolvimento igualitário do mundo. No discurso, o petista também lançou críticas ao neoliberalismo e a movimentos de extrema direita.

    “Em meio aos escombros do neoliberalismo, surgem aventureiros de extrema direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas. Muitos sucumbiram à tentação de substituir um neoliberalismo falido por um nacionalismo primitivo, conservador e autoritário”, declarou, acrescentando que só voltou à Presidência do Brasil graças à vitória da democracia e superação do ódio, desinformação e opressão.

    O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, também fez um elogio à multipolaridade, que, segundo ele, se encontra em crise atualmente. Ele defendeu a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, bem como o empoderamento de órgãos internacionais, para “refletir o mundo como é hoje”.

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    A reforma do Conselho é um desejo antigo de Lula, que demanda um assento permanente para o Brasil. Atualmente, compõem o grupo Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China.

    No discurso, Lula destacou a incapacidade do Conselho de Segurança em lidar com conflitos atuais, como a guerra na Ucrânia. Segundo ele, ver que persistem antigas disputas não resolvidas e que surgem ou ganham vigor novas ameaças “é perturbador”.

    “A guerra da Ucrânia escancara nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU”, declarou, mas sem dar demasiado destaque à questão ucraniana em especial, assemelhando-a à crise humanitária no Haiti, o conflito no Iêmen, as ameaças à unidade nacional da Líbia e os golpes em Burkina Faso, Gabão, Guiné-Conacri, Mali, Níger e Sudão.

    No entanto, entre os membros permanentes, os Estados Unidos são contra a ampliação. A China também não aceita a ideia, por causa do Japão, que também é candidato. E a Rússia, apesar das declarações de apoio ao Brasil, foi um dos países que barraram o assento brasileiro no passado, alegando que o Ocidente já tinha três representantes: Estados Unidos, Reino Unido e França.

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    Além disso, como Guterres, Lula prestou homenagem às vítimas das tempestades, bem como às do grande terremoto que atingiu o Marrocos na semana passada. Ele comparou as crises ao ciclone que atingiu o Rio Grande do Sul, também na semana passada, causando enchentes sem precedentes, destacando o papel da mudança climática no aumento de eventos climáticos extremos.

    “O mundo não tinha consciência da crise climática. Hoje, ela mata e impõe perda e sofrimento sobre nossos irmãos, sobretudo os mais pobres”, declarou Lula.

    Segundo o petista, a Agenda 2030, mais ampla e mais ambiciosa ação coletiva da ONU voltada para o desenvolvimento sustentável, “pode se transformar no seu maior fracasso”, porque a maior parte dos objetivos de desenvolvimento sustentável “caminha em ritmo lento”.

    “Nesses sete anos que nos restam, a redução das desigualdades dentro dos países e entre eles deveria se tornar o objetivo-síntese da Agenda 2030”, afirmou, acrescentando que o Brasil está comprometido a implementar todos os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, de maneira integrada e indivisível.

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    Para o petista, o Brasil está na vanguarda da transição energética, já que a matriz energética nacional é uma das mais limpas do mundo – 87% é proveniente de fontes limpas e renováveis. Ressaltando o Plano de Transformação Ecológica (que tem por objetivo proporcionar mudanças estruturantes na economia e meio ambiente brasileiros) como uma aposta na industrialização e infraestrutura sustentáveis, afirmou ainda que o país tem soberania e capacidade para se tornar líder no setor da sustentabilidade.

    “O mundo inteiro sempre falou da Amazônia. Agora, a Amazônia está falando por si”, discursou.

    O secretário-geral das Nações Unidas também deu destaque para a crise das mudanças climáticas, exemplificando o desastre na Líbia que, na semana passada, viu cerca de 5 mil mortos por enchentes sem precedentes no país. Segundo ele, eventos extremos como esse só vão se intensificar.

    “A mudança climática não está apenas transformando o clima, mas a vida como a conhecemos em todo o mundo”, declarou.

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    O petista terá agenda cheia após o discurso inicial, tendo recebido mais de 50 pedidos de encontros bilaterais antes mesmo de sua chegada aos Estados Unidos. Uma das reuniões já foi confirmada com o presidente americano, Joe Biden, na quarta-feira. Depois desse encontro, é esperado o anúncio de uma iniciativa conjunta dos Estados Unidos e Brasil sobre melhoria de condições de trabalho e geração de empregos.

    O presidente Lula se encontrará ainda com seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, nesta quarta-feira, 20. A reunião bilateral vai ocorrer às 17h, no hotel do petista em Nova York, o Lotte New York Palace, confirmaram fontes do Planalto a VEJA. A expectativa para o encontro era grande por parte de setores da comunidade internacional, principalmente da Casa Branca e de países da União Europeia. A reunião acontecerá por iniciativa dos ucranianos, após vários desencontros entre os dois chefes de Estado nos últimos meses.

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