Mubarak diz que ficará na presidência do país até setembro
Ditador anuncia transferência de alguns poderes a vice e mudanças na Constituição
Em discurso transmitido pela TV estatal, o presidente do Egito, Hosni Mubarak, disse que não vai renunciar e permanecerá no poder até as eleições presidenciais de setembro. Ele se comprometeu a proteger a Constituição do país até que ocorra a transferência do cargo ao vencedor em um “pleito honesto”. O pronunciamento surpreende depois que membros do governo anunciaram, na tarde desta quinta-feira, que Mubarak deveria deixar o poder.
“Eu expresso o meu comprometimento para continuar a proteger a Constituição e o povo do Egito. Vou transferir o poder a quem ganhar as eleições de setembro em um pleito livre em transparente”, disse o ditador, que está há 30 anos no poder e sofre uma forte pressão para renunciar.
Durante o discurso, Mubarak anunciou “procedimentos constitucionais”, com mudanças nos artigos 76, 77, 88, 93 e 189 e a suspensão do 179. Em relação ao estado de emergência, disse que é preciso garantir que o cancelamento da medida não comprometa a segurança do país. Ele afirmou ainda que o diálogo com a oposição resultou num consenso preliminar para resolver a crise. Disse que iria transferir alguns poderes ao vice-presidente, Omar Suleiman, mas não esclareceu como isso ocorrerá.
O ditador ainda repetiu outras promessas que já havia feito nos últimos dias: não nomeará seu filho Gamal para concorrer nas eleições de setembro e também disse que punirá funcionários corruptos ou que cometeram violência contra o povo. O presidente afirmou que não aceitará a interferência estrangeira no país. “Não posso aceitar ordens ditadas de fora”, disse.
Apostas – Mais cedo, o premiê Ahmed Shafiq havia dito que a saída de Mubarak estava sendo discutida pelas lideranças do país. O secretário-geral do Partido Nacional Democrático (PND), Hossan Badrawi, chegou a afirmar que o presidente estava prestes a transferir o poder a Suleiman.
Uma autoridade sênior do governo egípcio também indicou que o presidente Mubarak deveria ceder a Presidência aos militares do país. Segundo a fonte, o processo para implementar reformas e possibilitar uma transição política natural teria fracassado e, por isso, Mubarak estaria sendo forçado a renunciar à sua “autoridade constitucional”.
Diante das apostas, as Forças Armadas – que garantiram apoio aos governantes egípcios nas últimas seis décadas – anunciaram estar tomando medidas para manter a segurança da nação. O grupo oposicionista Irmandade Muçulmana disse que temia um golpe militar.
Reações – Os manifestantes reunidos na praça Tahrir, no centro do Cairo, reagiram furiosos ao anúncio de Mubarak. Eles pediram que o exército se una a eles na rebelião.
Este foi o 17º dia consecutivo em que os opositores tomaram as ruas do Egito para protestar contra Mubarak e, pela primeira vez, também se voltaram contra Suleiman – que até então conseguia se manter imune às manifestações. Segundo a ONU, pelo menos 300 pessoas morreram e 5.000 ficaram feridas em confrontos desde o dia 25 de janeiro.
(Com agências Estado e France-Presse)