Praga, 18 dez (EFE).- Aos 75 anos, Vaclav Havel, que morreu neste domingo em Praga, foi presidente da Tchecoslováquia e da República Tcheca, mas também um grande opositor do regime comunista, que levantou a bandeira da ‘Revolução de Veludo’ em 1989.
Dramaturgo e intelectual de prestígio, Havel era considerado como um dos dirigentes europeus mais respeitados por sua defesa da liberdade e dos direitos humanos.
Nascido em Praga em 5 de outubro de 1936 em uma família burguesa com negócios de restauração, ele teve problemas para fazer o ensino superior por razões políticas.
Durante anos trabalhou como técnico de laboratório químico e finalizou o bacharelado só em 1954. Entre 1955 e 1957, cursou a Escola Técnica Superior de Praga.
Ao concluir o serviço militar em 1960, foi contratado pelo Teatro da Balaustrada de Praga, primeiro como maquinista e depois como diretor de obra adjunto e dramaturgo. As peças ‘A festa no jardim’ e ‘Memorandum’ foram classificadas pela crítica como promissoras.
Em 1967 formou-se na Escola de Arte Dramática da Academia de Belas Artes de Praga.
Participou à frente do clube de escritores independentes na Primavera de Praga, movimento de reformas políticas que desencadeou a invasão soviética de 1968. Por esta razão, sua obra foi proibida em 1969 na Tchecoslováquia e com isso ele teve de deixar a capital e mudar-se para Trutnov.
Ele foi o promotor e o porta-voz da iniciativa dissidente ‘Carta 77’, documento assinado por 300 intelectuais de ampla repercussão internacional que reivindicava democratização do regime.
Membro desde 1978 do comitê para a defesa dos injustamente perseguidos (Vons), organização criada a partir da ‘Carta 77’, ele ficou sob prisão domiciliar e foi condenado a quatro anos e meio de prisão, mas não interrompeu sua atividade literária e sua colaboração com a imprensa opositora clandestina.
A queda do muro de Berlim em 1989 favoreceu o clima social contra o sistema autoritário tcheco que foi aproveitado por Havel ao lado de outros importantes intelectuais para iniciar o Fórum Cívico (OF), plataforma que integrou as forças de oposição ao regime comunista e liderou o processo de transição democrática denominada de ‘Revolução de Veludo’.
Em 29 de dezembro de 1989 foi nomeado presidente da República da Tchecoslováquia em substituição a Gustav Husak e em 5 de julho de 1990 foi confirmado para o período de dois anos pela Assembleia Federal surgida a partir das eleições democráticas de junho.
Durante sua gestão trabalhou pela integração de seu país nas instituições europeias e pela abertura das relações diplomáticas.
Contrário ao projeto de não submeter à divisão do estado tcheco ao plebiscito, em 20 de julho de 1992 ele renunciou. No entanto, aceitou ser o primeiro presidente da recém-criada República Tcheca em 26 de janeiro de 1993 e tomou posse no cargo em 2 de fevereiro.
Em 20 de janeiro de 1998 foi reeleito pelo Parlamento para novo e último mandato de cinco anos. Sua trajetória de vida e política o transformou em referencial ético.
Como presidente divergiu em política externa e econômica de seus primeiros-ministros, o conservador Vaclav Klaus e o social-democrata Milos Zeman, e inclusive chegou a manifestar opiniões contrárias à postura oficial da comunidade internacional.
Finalizou seu mandato em 2 de fevereiro de 2003. Nos últimos anos sua participação nos assuntos políticos ficou restrita por motivos de saúde.
Após deixar a Presidência, continuou participando de foros e organizações sociais e políticas em defesa da democracia. Em 2003, criou o Comitê Internacional para a Democracia em Cuba (CIDC), que reivindica a democracia para a ilha.
Em abril de 2008 contribuiu para a criação de outra instituição, a Fundação Europeia para a Democracia pela Associação (EFDP). Além disso, em Praga promove o Fórum 2000 desde sua criação em 1997, por iniciativa dele mesmo, que reúne personalidades de todo o mundo para debater sobre questões sociais e políticas.
Desde que em 1996 teve retirado um tumor no pulmão direito, sofreu inúmeras hospitalizações por problemas respiratórios. A última em 8 de março de 2011, após uma infecção respiratória aguda.
Vaclav Havel era casado com a atriz Dagmar Havlova, desde 4 de janeiro de 1997. Sua primeira mulher, Olga, faleceu de câncer em 1996. EFE