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Modelo milionária doa metade do salário ao Black Lives Matter

Joan Smalls, que se identifica como 'negra e latina', cria movimento para indústria da moda fazer doações ao invés de postar mensagens solidárias nas redes

Por Amanda Péchy Atualizado em 8 jul 2020, 21h51 - Publicado em 8 jul 2020, 15h31

Desde que protestos anti-racistas tomaram os Estados Unidos e o mundo no mês passado, devido ao assassinato de George Floyd por um policial branco, membros do movimento negro começaram a revelar com pente fino o racismo estrutural em diversas instâncias sociais. Estátuas vieram ao chão, cidades iniciaram processos de reforma na polícia, figuras de destaque nos esportes fizeram denúncias. Agora, a indústria da moda encontra-se na mira dos críticos, sendo acusada de promover uma discriminação sistêmica e de surfar na onda dos protestos com iniciativas vazias.

Em resposta a esse clima atual, a supermodelo Joan Smalls fez uma jogada ousada: durante o resto do ano de 2020, ela prometeu metade de seu salário para organizações associadas ao movimento negro nos Estados Unidos. Não só isso: ela convoca o resto do mundo da moda a fazer o mesmo, por meio da plataforma DonateMyWage.org.

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“Como modelo, às vezes a indústria se resume apenas ao glamour, à beleza. Mas não me sinto bem em participar de um setor que poderia fazer muito mais sobre o problema do racismo”, diz Joan Smalls à VEJA. Ela, que se identifica como uma “mulher negra e latina”, declara que apoiar as organizações que lutam pelos direitos dos negros foi uma forma de lidar com a frustração de não conseguir atacar diretamente o problema.

Em um vídeo publicado em seu perfil do Instagram, a modelo porto-riquenha acusa a indústria de práticas racistas.

“Vejo todas as agências, revistas e marcas postando telas pretas em suas contas do Instagram [fazendo referência a um protesto on-line no dia 2 de junho]. Mas o que isso realmente significa? O que a indústria da moda realmente fará sobre isso? É apenas mais uma tendência?”

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O site DonateMyWage.org foi criado em resposta a esse protesto, chamado #blackouttuesday, em que marcas e apoiadores do movimento negro deixariam de se auto-promover, postando apenas uma tela preta em espécie de greve pelas redes sociais. Inicialmente voltado para músicos negros lutando para se manter durante a pandemia de coronavírus, que paralisou a indústria cultural, a plataforma foi adquirida por Smalls para dar continuidade à proposta, agora voltada para a moda.

“Esta indústria que lucra com nossos corpos pretos, nossa cultura de inspiração constante, nossa música e nossas imagens pisam em ovos em torno das questões”, diz a modelo no vídeo. “Vocês fazem parte do ciclo que perpetua esses comportamentos conscientes.”

Smalls foi a primeira modelo latina da marca de beleza Estée Lauder, em 2011, e a primeira mulher não-branca a aparecer na capa da revista Porter, em 2015. Ela é uma das raras modelos não-brancas que figuram a lista da Forbes das mais bem pagas pela indústria.

“Só que isso é uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo que sinto orgulho, me pergunto por que não existem outras garotas como eu, por que não há igualdade em todos os aspectos?”, conta à VEJA. “Houve momentos em que desmoronei, chorei e fiquei frustrada, porque queria fazer algo a respeito”, completa.

Nascida em Porto Rico em 1988, ela afirma que já esperava se deparar com racismo quando começou a desfilar em Nova York, em 2007. “Sofri muito preconceito, não havia espaço para negros nos desfiles”, diz.

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“Para suportar o racismo, eu tinha que me ver como um produto que estava lá para bombar uma marca. Tentei excluir o fator humano para não levar para o lado pessoal”, confessa Smalls.

A modelo desfilou para a marca de lingerie Victoria’s Secrets, considerada uma das menos diversas do setor pelos próprios profissionais do mundo da moda. Apenas em 2019, uma tímida campanha mostrando modelos de diferentes tons de pele começou a cutucar uma tradição de décadas de padrão de beleza feminino – que nem chega perto de outros espectros da diversidade, como orientação sexual, tipos físicos e grupos demográficos.

“As mudanças não podem ocorrer apenas em revistas e anúncios, precisa ser de dentro para fora. As equipes precisam ser mais multiculturais”, diz Smalls. Além de atacar a estrutura racista, a modelo explica que marcas poderão comercializar com mais eficiência se seus consumidores se sentirem representados.

O cenário já parece estar mudando. Segundo o relatório de diversidade da plataforma The Fashion Spot do fim de 2018, nas Fashion Weeks de Nova York, Londres, Milão e Paris, 36,1% das modelos não eram brancas (o que inclui negras, latinas e asiáticas). É um salto em relação aos desfiles de 2014, quando apenas 17% delas não eram brancas.

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Smalls alerta, contudo, que isso não basta: “O movimento DonateMyWage não é apenas sobre o dinheiro, mas sobre conscientização. Todos precisamos continuar nos educando sobre racismo”, explica. Mais que os dólares gastos, é o tempo gasto para desvendar os nós da discriminação que permeia revistas, marcas de moda, shows, anúncios e marketing – para que a iniciativa vá além, também, 2020. “Se pudermos fazer ao menos uma pessoa parar para pensar, considero o projeto bem-sucedido”.

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