A oposição a Vladimir Putin protestou novamente neste sábado em Moscou contra a vitória do primeiro-ministro russo nas eleições presidenciais de 4 de março, e prevê novas atividades do movimento de contestação, apesar de a mobilização ter sido menor que as anteriores.
As manifestações anteriores reuniram em Moscou dezenas de milhares de pessoas, em dezembro, janeiro e fevereiro, um protesto sem precedentes. A afluência de opositores neste sábado foi muito mais modesta.
Em um comunicado, a polícia informou que foram cerca de 10.000 participantes da manifestação no centro de Moscou. A oposição reivindicou 25.000 participantes.
“Estou um pouco decepcionado com a passividade das pessoas”, declarou à AFP Vitaly Erchov, 30 anos, que participou de todas as manifestações organizadas por uma oposição heterogênea. A manifestação mais importante somou cerca de 100.000 pessoas.
“É normal que a mobilização caia”, quando as manifestações se assemelham, declarou à AFP o analista político russo Dimitri Orechkin, ligado à oposição.
Agora “é necessário passar a outra coisa, criar partidos políticos que darão uma forma institucional a estes protestos”, explicou Orechkin.
O movimento teve início às 13h00 locais (07h00 de Brasília) na avenida Novo Arbat, em pleno centro da capital. A Prefeitura havia autorizado 50.000 pessoas e mais de 2.500 policiais tinham sido mobilizados para o ato.
O objetivo da manifestação é denunciar fraudes na eleição presidencial vencida por Vladimir Putin, com 63,6% dos votos, e decidir a tática a ser adotada para continuar este movimento opositor, segundo os organizadores.
“Nossas exigências são claras: uma reforma política, uma Justiça independente, o fim da censura e eleições antecipadas”, declarou Vladimir Ryjkov, um dos líderes do movimento.
A oposição a Putin — uma coalizão de movimentos políticos, sociais e de associações– conseguiu reunir em várias oportunidades dezenas de milhares de pessoas desde o começo do movimento de contestação depois das polêmicas eleições legislativas de 4 de dezembro passado, vencidas pelo partido Rússia Unida, de Putin.
Em 5 de março, um dias depois da eleição presidencial, a oposição reuniu cerca de 20.000 pessoas, segundo os organizadores (14.000 de acordo com a polícia).
Mas depois de quatro grandes manifestações que reuniram dezenas de milhares de pessoas, este movimento heterogêneo deve enfrentar o desafio do futuro, em um contexto de divisões internas.
O opositor russo e ex-campeão mundial de xadrez, Garry Kasparov, convocou os simpatizantes da oposição a não desanimar, afirmando que o movimento de protesto apenas está em sua aurora, apesar de a participação na manifestação deste sábado ter sido menor.
“Nos privam de liberdade há 12 anos (quando Putin chegou ao poder). É impossível fazer com que ela volte em três meses”, disse Kasparov.
No fim da manifestação, o líder do movimento de oposição Frente de Esquerda, Serguei Udaltsov, e uma dezena de seus partidários que caminhavam em direção a outra praça para continuar o protesto foram presos pela polícia mobilizada em massa no centro da cidade, constatou a AFP.
Foram libertados logo depois com ordem de se apresentar a um julgamento em 13 de março, informou Udalstov citado pela agência Interfax.
Os organizadores planejam uma nova manifestação no início de maio, na ocasião da posse de Putin, em 7 de maio, que retorna à presidência depois de dois mandatos entre 2000 e 2008 e uma legislatura como primeiro-ministro.
Em São Petesburgo, cerca de 300 pessoas protestaram, apesar de não terem recebido autorização. Cerca de 60 pessoas foram presas, segundo a polícia.
Em Nijni-Novgorod, a 440 km a leste de Moscou, a polícia dispersou violentamente uma manifestação não autorizada e prendeu por volta de 85 pessoas, informou um opositor à AFP.
Após criticar as manifestações em várias ocasiões, Vladimir Putin pediu na quarta-feira que seus detratores escutem “a voz do povo” e aceitem o resultado das eleições.