O medo tomou conta dos jornalistas de Veracruz, um porto do leste do México fortemente custodiado pelo exército, presos no fogo cruzado de dois poderosos cartéis, após o assassinato esta semana de três fotógrafos e uma funcionária administrativa de um jornal.
Na última quarta-feira, pouco antes de desaparecer, Gabriel Huge, um experiente fotógrafo conhecido entre seus companheiros de sindicato como “El Mariachi”, entregou à irmã as chaves de seu carro, as de sua moto e sua câmera.
“Me entregou a câmera, imagina, agora penso que ele sabia o que ia acontecer”, disse à AFP Mercedes Varela, também mãe de Guillermo Luna, um jovem de 22 anos que decidiu seguir a profissão de seu tio e que foi assinado junto dele.
Os cadáveres foram encontrados muito cedo nesta quinta-feira, Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, em sacos pretos submersos em um canal do município de Boca del Río, parte da região metropolitana de Veracruz, no Golfo do México.
A descoberta ocorreu apenas cinco dias depois de Regina Martínez, correspondente da revista Proceso, ter sido encontrada estrangulada em sua casa de Xalapa, capital do estado.
Um jornalista de Vera Cruz, que pediu para não ser identificado por temor a represálias, lembrou que há mais de nove meses os encarregados de cobrir notícia policial deixaram de receber ligações de integrantes do crime organizado para controlar a informação.
Antes, ligavam de forma anônima para seus celulares para obrigá-los a não publicar alguma informação ou chegavam ao local onde cobriam um acidente ou assassinato para expulsá-los. Também ligavam quando queriam a presença da imprensa para divulgar um fato.
No entanto, isso não acontece desde julho passado, quando sequestraram e mataram Yolanda Ordaz, repórter de assuntos policiais de Notiver, um jornal onde também haviam trabalhado Huge e Miguel Ángel López, assassinado um mês antes junto com sua mulher e seu filho, este último também jornalista.
“Agora sabemos que a ameaça continua, porque continuam aparecendo corpos”, completou o jornalista. Oito repórteres e fotógrafos foram mortos em Veracruz desde 2011.
A disputa entre o cartel Los Zetas, uma organização criminosa formada na década de 1990 por ex-militares de elite desertores, e um grupo chamado Nueva Generación, vinculado ao poderoso lider Joaquín “Chapo” Guzmán, recrudescedeu em Veracruz em 2011 e deixou os comunicadores em meio ao fogo cruzado.
Segundo a estatal Comissão Nacional de Direitos Humanos, mais de 77 jornalistas foram assassinados no México desde 2000.