Manuel Merino, novo presidente do Peru, também é investigado por corrupção
Chefe do Congresso é investigado por tráfico de influência e substitui Martín Vizcarra, alvo de impeachment por 'incapacidade moral'
O chefe do Congresso peruano, Manuel Merino, assumiu a Presidência do Peru nesta terça-feira, 10, depois que Martín Vizcarra sofreu impeachment por “incapacidade moral” devido a casos de corrupção, se tornando o terceiro político a assumir o cargo desde 2016, em um reflexo da fragilidade institucional do país. Contudo, seu histórico também tem manchas.
Como seus antecessores, Merino está envolvido em escândalos e é investigado por tráfico de influência. Supostamente, o discreto político teria facilitado contratos entre sua família e o governo.
A administração peruana contratou a arquiteta Elba Merino de Lama, irmã do novo presidente, para um projeto do governo de saneamento rural. A mãe de Merino, por sua vez, alugou um escritório ao Instituto Nacional de Defesa Civil. Enquanto isso, Marco Antonio Merino, irmão, é proprietário de uma empresa que fornece insumos agrícolas ao Ministério da Agricultura. O político nega qualquer participação nessas contratações.
Em meio a protestos contra a remoção de Vizcarra, Merino prometeu que deixará o cargo em 28 de julho de 2021, o dia em que termina o atual mandato do governo, e negou ter “comprado” votos pelo impeachment.
Em setembro passado, ele já havia recebido críticas por ter ignorado o protocolo e entrado em contato com as Forças Armadas logo depois da primeira aceitação da moção de vacância contra Vizcarra. À época, o então parlamentar disse que o objetivo era apenas “informar as Forças Armadas da situação”.
“Juro por Deus, pelo país e por todos os peruanos que exercerei fielmente o cargo de presidente”, declarou Merino nesta terça-feira. O agrônomo é quase desconhecido pela população peruana.
Legislador da região norte de Tumbes, na fronteira com o Equador, integra há 41 anos o partido Ação Popular, de centro-direita e tradicional opositor do fujimorismo. Ele se elegeu pela primeira vez para o Legislativo em 2001, sob a bandeira da agronomia, com uma votação inexpressiva.
Ao longo das décadas, sua popularidade não aumentou. Apenas 5.271 eleitores o apoiaram no último pleito, em janeiro. Mesmo assim, Merino foi escolhido como presidente do Congresso (e o primeiro na linha de sucessão de Vizcarra), por ser o parlamentar com mais experiência dentro de seu partido.
Em seu primeiro mandato, entre 2001 e 2006, ele fez parte da parte da base de apoio do ex-presidente Alejandro Toledo, atualmente foragido nos Estados Unidos acusado de corrupção.
Apesar da nova posição do líder do Executivo, o partido Ação Popular rachou em relação à conveniência de remover Vizcarra em meio à pandemia de coronavírus e recessão econômica causada por ela.
“O Peru sai institucionalmente mais fraco deste processo”, diz Augusto Álvarez Rodich, analista político do jornal peruano La República. “Merino será um presidente fraco. Esse é o cenário em um contexto de eleições gerais (em abril de 2021) com uma pandemia”, completou.
(Com AFP)