Manifestantes incendeiam prédio da presidência na Bósnia
Na pior crise desde o fim da guerra de 1992-1995, ruas do país são tomadas e prédios públicos são atacados. Manifestantes demonstram insatisfação com a incapacidade do governo de conter o desemprego, que ultrapassa os 40%
A inação dos políticos diante dos altos índices de desemprego levou a Bósnia-Herzegovina a enfrentar sua pior crise desde o fim da guerra de 1992-1995. Nos últimos três dias, as ruas do país foram tomadas por manifestantes e prédios públicos foram atacados, incluindo o da presidência, que teve uma parte incendiada.
Os protestos começaram na cidade de Tuzla, que já foi o centro industrial do norte do país, após a confirmação de que as fábricas locais seriam fechadas e vendidas – deixando a maioria da população do município sem emprego. Rapidamente o movimento se espalhou para outras localidades, incluindo Mostar, Zenica e Bihac, com manifestações em apoio aos operários de Tuzla e contra a ineficiência do governo em melhorar a economia.
Também houve protestos em Banja Luka, a capital da metade sérvia do país, e em Sarajevo, onde o prédio da presidência foi atacado. A imprensa local informou que a polícia usou bala de borracha, gás lacrimogêneo e jatos d’água para dispersar os manifestantes que também atiravam pedras na construção. Segundo o jornal Dnevni Avaaz, o corpo de bombeiros designou treze equipes para conter o incêndio, mas os brigadistas não estavam conseguindo chegar ao local.
Os manifestantes exigem que o governo tome medidas urgentes para diminuir os alarmantes índices de desemprego, que ultrapassam os 40%, segundo dados oficiais – muitos cidadãos estão fora do mercado formal.
O prédio da administração municipal em Tuzla foi saqueado. Em Zenica, outro prédio público foi incendiado e dezenas de pessoas ficaram feridas. Os chefes dos governos locais das duas localidades informaram nesta sexta-feira que estavam renunciando a seus cargos.
Leia mais:
Tribunal de Haia condena ex-presidente bósnio-croata
Ex-ministro é condenado por crimes durante a Guerra da Bósnia
Divisões – Composta por duas entidades políticas autônomas, que contam com seus próprios representantes governamentais, a Bósnia-Herzegovina é integrada pela Federação da Bósnia-Herzegovina e pela República Sérvia. A complexa estrutura administrativa e as profundas divisões étnicas contribuíram para que o país mergulhasse na completa estagnação. (Continue lendo o texto)
Reuters
Segundo a rede britânica BBC, até mesmo políticas comuns para qualquer governo, como conceder registros de identidade à população, se tornaram processos extremamente lentos e burocráticos. No ano passado, mães desesperadas formaram uma corrente humana em torno do principal prédio do governo para cobrar a permissão para registrarem seus filhos.
O intrincado sistema de divisão de poder baseado em cotas étnicas estabelecido pelo acordo de paz que acabou com a guerra nos anos 90 tem atrapalhado o desenvolvimento do país, que ficou para trás de outras repúblicas resultantes da dissolução da ex-Iugoslávia, como a Croácia, que passou a fazer parte da União Europeia no ano passado.
“O que está acontecendo agora é o que já se esperava há muito tempo que acontecesse. Se algumas pessoas precisam renunciar, deveriam fazê-lo”, disse Zeljko Komsic, membro croata da Presidência tripartidária do país. Os outros membros são o bósnio Bakir Izetbegovic, e o sérvio Nebojsa Radmanovic.
Histórico – A Bósnia-Herzegovina foi criada a partir da dissolução da Iugoslávia, mas os seus problemas tiveram sequência com a sangrenta guerra civil que tomou conta do país entre 1992 e 1995. Liderados pelo Exército do ditador Slobodan Milosevic, os sérvios iniciaram uma faxina étnica na região e executaram milhares de pessoas pertencentes à maioria muçulmana que havia declarado independência da Sérvia. A Guerra da Bósnia fez 100 000 vítimas fatais e resultou em 2 milhões de refugiados. O conflito teve fim somente depois da assinatura do acordo de Dayton, ou Protocolo de Paris, que delimitou a formação do território bósnio com as duas atuais entidades autônomas.
(Com agência Reuters)