Manifestantes e policiais entram em confronto na Ucrânia
Participantes tentaram chegar ao Parlamento. Pelo menos dois ficaram feridos
Uma série de confrontos foi registrada neste domingo ao fim de um protesto em Kiev, na Ucrânia, que reuniu cerca de 200.000 opositores. A mobilização foi realizada na Praça da Independência e, quando estava próxima do fim, alguns manifestantes tentaram romper um cordão de segurança para chegar ao Parlamento. Eles entraram em furgões da polícia que bloqueavam o acesso e incendiaram um dos veículos. As forças de segurança responderam com golpes de cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral, além de jatos d’água. Pelo menos duas pessoas ficaram feridas.
Leia também:
Rússia e Ucrânia selam acordo sobre energia e dívida
Na Ucrânia, 20 mil pessoas protestam contra o governo
Ucrânia, um país com um histórico de tragédias
Um dos líderes da oposição, o ex-boxeador Vitali Klitschko, tentou acalmar os ânimos, pedindo que a multidão não provocasse a polícia. Dezenas de participantes usavam capacetes ou máscaras, em sinal de desprezo a uma das novas leis do país, que pune as pessoas que protestarem mascaradas ou com capacetes.
“A nova legislação é ilegal”, afirmou Klitschko, líder do Partido Udar (Golpe), em um palco instalado na praça. Ele pediu que as forças de segurança se unam aos opositores. Alguns políticos foram vaiados pela multidão, acusados de não terem um plano de ação. Depois de o movimento de contestação ter conseguido mobilizar milhares de pessoas em dezembro do ano passado, ele perdeu força após a assinatura no mesmo mês de acordos econômicos que forneciam um crédito de 15 bilhões de dólares ao país e reduziam o preço do gás russo em cerca de um terço.
“Precisamos passar a ações mais decisivas”, afirmou o estudante Ruslan Kochevarov. “Esperamos que, depois das manifestações, as pessoas não parem, mesmo que muitos se perguntem por que se mobilizar no futuro depois de dois meses de protestos sem resultado”, disse. A adoção das novas leis repressivas pode dar mais vigor aos protestos. Os textos, votados em meio a cenas de caos no Parlamento, estabelecem penas de prisão de 15 dias a cinco anos.
Uma lei pune com multas, confisco de carteiras de motorista e apreensão de carros qualquer manifestação envolvendo mais de cinco veículos. Um outro texto obriga as ONG beneficiadas com financiamentos ocidentais a se registrarem como “agentes do exterior”. Este termo, usado para definir os opositores na época do líder soviético Josef Stalin, tem sido mencionado com frequência para denunciar os manifestantes na Rússia de Vladimir Putin, que adotou uma lei semelhante em 2012.
Os ocidentais alertaram as autoridades ucranianas para estes textos, e Timoshenko denunciou a instauração de uma “neo-ditadura”. O ministro das Relações Exteriores sueco, Carl Bildt, um ardoroso defensor da aproximação entre Ucrânia e UE, disse à rede de televisão ucraniana hromadske.tv que os europeus haviam discutido com os americanos sanções contra algumas pessoas do governo. “Nós falamos sobre isso com os americanos. Isso tem a ver, antes de tudo, com a questão da violência. Nossa posição exata é de que a violência não deve ser empregada contra os participantes pacíficos de manifestações”, afirmou.
(Com agência France-Presse)