Maduro inventa outra: o ministério da Suprema Felicidade Social
A intenção do presidente é tornar o vice-ministério responsável pelos programas assistencialistas deixados de herança pelo caudilho Hugo Chávez
Os venezuelanos têm poucos motivos para sorrir nos últimos anos. Além do índice de inflação que poderá chegar a quase 50% neste ano, o país enfrenta um sério desabastecimento de itens básicos, como papel higiênico e produtos alimentícios. Presidente de um país assolado pelos desmandos deixados de herança pelo caudilho Hugo Chávez, Nicolás Maduro decidiu se preocupar com a “felicidade” da população de um modo inusitado. Seu governo anunciou nesta semana a criação do vice-ministério da Suprema Felicidade Social do Povo Venezuelano, que, segundo o jornal El País, terá a incumbência de coordenar os programas assistencialistas que tornaram os mais pobres dependentes do falecido general.
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Como não poderia deixar de ser, Maduro inventou a pasta para “honrar a memória de Chávez”, o seu mentor político. Após proibir os jornais locais de noticiar o desabastecimento de produtos, Maduro quer centralizar o controle das “misiones”, que consistem basicamente em uma fórmula para distribuir pequenas quantias de dinheiro aos beneficiários.
De fato, as riquezas extraídas dos poços de petróleo venezuelanos, a maior fonte de recursos do país, financiam os programas assistencialistas. A disseminação maciça das misiones foi um conselho que o ditador cubano Fidel Castro deu a Chávez em 2003. Por meio desta prática, o general instituiu um sistema de governo batizado por opositores de “medocracia”. O receio de perder os benefícios tornou a população fiel ao caudilho, e continuará garantindo o apoio ao governo de Maduro, mesmo com os preocupantes índices econômicos. “As misiones formam parte de um grande sistema da revolução socialista. Temos que levar essas misiones ao céu, esse é o nosso agradecimento a Chávez”, sentenciou Maduro.
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O responsável pelo vice-ministério será o ex-deputado Rafael Ríos, que terá o apoio do médico de Chávez, Julio César Alviarez. Aos escolhidos, Madurou desejou “todo o êxito” e pediu para que os programas assistencialistas cubram “o mais sublime e amado desejo do povo venezuelano”. Em contrapartida, o mandatário disse que não seguirá os conselhos para mudar o controle cambial que mantém a economia do país fragilizada. Há uma década vigora a ferrenha cotação do dólar em 6,30 bolívares, enquanto no mercado paralelo a taxa de câmbio é quase sete vezes maior que a oficial. Analistas consideram que a deterioração da economia venezuelana se deve, em parte, à falta de dólares em um país que depende das importações, tanto para a indústria como para a compra de alimentos e produtos de primeira necessidade.
Ao falar novamente sobre a situação econômica, Maduro repetiu a ladainha de sempre, Disse que uma “guerra nacional e internacional” é responsável pelo descontrolado índice inflacionário. “Com os investimentos que são feitos, o trabalho que se faz, se não estivesse submetida à guerra nacional e internacional desses fatores econômicos, a economia (venezuelana) teria um ano perfeito, teria reduzido a inflação abaixo de 20%”, disse. Alegando a necessidade de combater a corrupção e a “lógica capitalista destrutiva”, Maduro solicitou à Assembleia Nacional, no início deste mês, a aprovação da “Lei Habilitante”, que permitirá que ele governe por decretos pelo período de um ano.
(Com agência France-Presse)