Maduro diz não aceitar ‘chantagens’ e acusa Trump de querer matá-lo
Líder venezuelano admite haver desertores entre os militares e diz que só negocia com a oposição sob a mediação da Rússia
Em entrevista à agência russa RIA publicada nesta quarta-feira, 30, o líder venezuelano Nicolás Maduro acusou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de orquestrar com a Colômbia um plano para assassiná-lo. Maduro afirmou ainda que não aceitará “ultimatos nem chantagens” e insistiu ter o apoio dos militares venezuelanos.
Em um deslize, porém, admitiu haver desertores na Força Armada Nacional Bolivariana, aos quais acusou de conspirarem para dar um golpe de Estado. “Eles agora são mercenários da oligarquia colombiana e conspiram da Colômbia para dividir as Forças Armadas”, afirmou, sem dar detalhes sobre o suposto plano americano.
Maduro enfrenta seu maior desafio desde que assumiu o poder, depois da morte de Hugo Chávez, em 2013. Tomou posse para seu terceiro mandato no último dia 10, mas parte da comunidade internacional não conferiu legitimidade a seu governo e apoiou o autodeclarado presidente interino, o opositor Juan Guaidó, escudado por amplas manifestações populares.
À agência RIA, Maduro repetiu o bordão de seu antecessor de que o presidente americano quer matá-lo. Bogotá e Washington já refutaram sua acusações anteriores como cortina de fumaça para seus problemas domésticos. Mas a especulação sobre ações militares americanas ganharam força nesta semana quando o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, descuidou de suas anotações durante uma entrevista à imprensa. “5.000 soldados para a Colômbia”, escrevera em seu caderno.
“Donald Trump deu, sem dúvida, uma ordem para me matarem, e disse ao governo da Colômbia e à máfia colombiana para que me matassem”, declarou.
Em sua conta no Twitter, Trump alertou cidadãos americanos para que não viajem para a Venezuela, dada a crise diplomática entre os Estados Unidos e esse país. Ele também ironizou o fato de Maduro ter se disposto a negociar com a oposição somente depois de Washington ter aplicado sanções draconianas sobre a estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA).
Maduro, porém, demonstrou boa vontade para engajar-se em uma possível negociação com a oposição venezuelana. Mas ignorou as ofertas do Uruguai e do México de mediar o diálogo e mencionou apenas a possível intermediação da Rússia.
Suas condições prenunciam a impossibilidade de acordo. Maduro afirmou-se contrário à exigência de Guaidó de convocação de eleições presidenciais o mais breve possível. Para ele, o próximo pleito só acontecerá no final de seu atual mandato, em 2025. Como alternativa, propôs a eleição para a Assembleia Nacional, onde a oposição detém a maioria dos assentos e que tem Guaidó como presidente.
A entrevista de Maduro foi publicada pela RIA poucas horas antes de outra manifestação em favor de sua renúncia. O protesto foi convocado por Guaidó. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), quarenta mortes foram confirmadas desde o início das manifestações, na quarta-feira 23.
Em sinal de indisposição com os países vizinhos que, em sua maioria, apoiam o presidente interino, a polícia prendeu dois jornalistas chilenos nas proximidades do palácio presidencial de Miraflores. Eles ainda não foram soltos.
(com Reuters)