Maduro cria órgão controlador da economia e rede de notícias obrigatória
Objetivo declarado da instituição econômica, que contará com a participação das Forças Armadas e das comunas, é garantir abastecimento no país
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta quinta-feira a criação de um novo órgão de fiscalização da economia para “coordenar, inspecionar, controlar e garantir o funcionamento total da economia”, nas palavras do mandatário, que divulgou a notícia em rede nacional de rádio e televisão. Veículos, cada vez mais, devem ser usados para propagandear atos governistas, como ficou claro em outro anúncio feito por Maduro esta semana, sobre o lançamento do ‘Noticiário da Verdade’, jornal que terá de ser obrigatoriamente transmitido pelas emissoras.
Para justificar as novas ferramentas de controle, o discurso do herdeiro político de Hugo Chávez é um só: combater os ‘inimigos do estado’. No caso do jornal, que terá duas edições diárias, a alegação é que os veículos privados não devem difundir os atos oficiais e “tornam invisíveis as conquistas” de sua gestão. A verdade é que os canais de TV e rádio independentes no país foram fechados ao longo dos catorze anos de Chávez no poder. E os discursos em cadeia nacional são um recurso usado com frequência, principalmente em período de campanha eleitoral.
Economia – O avanço sobre a economia, por sua vez, é uma tentativa de encobrir as deficiências do governo nesta área, herança maldita deixada por Chávez na forma de falta de investimentos, sucateamento da indústria, deterioração fiscal, inflação e corrupção. É mais fácil, porém, afirmar e repetir que os problemas decorrem de sabotagem. Para dar um verniz de seriedade às acusações contra a oposição, uma das medidas anunciadas nesta quinta foi exatamente a ativação de uma linha telefônica gratuita para receber denúncias da população sobre sabotagem.
Além disso, a partir da próxima semana, as empresas serão inspecionadas para que os níveis de produção sejam verificados. As empresas de transporte e comercialização também serão fiscalizadas, com o objetivo declarado de “neutralizar a pretensão da direita apátrida de sabotar a cadeia de distribuição de produtos”.
“Uma por uma tem que ser recenseada. Uma por uma tem que ser inspecionada e aqueles que querem trabalhar, devem contar com todo o apoio, mas aos que não desejam trabalhar, deve ser aplicada a lei”, disse Maduro.
O mandatário também anunciou que caberá a ele mesmo presidir o organismo de controle, que contará com a participação ativa das Forças Armadas, que sustentam o governo, o comandante da milícia bolivariana, que reúne grupos armados clandestinos, os ‘coletivos’, que atuam na intimidação de opositores. Também vão confabular ministros de várias pastas, incluindo Comércio, Alimentação, Juventude, Agricultura e Terras, e representantes das comunas, um poder paralelo regional controlado pelo presidente. “Assumo a batalha econômica contra os planos da guerra fascista contra o povo”, acrescentou o herdeiro de Chávez.
Colômbia – O governo também anunciou uma negociação de mais de 600 milhões de dólares envolvendo o envio de produtos da Colômbia para abastecer a Venezuela. “Eu disse ao presidente Santos que precisava de todo o apoio para garantir à Venezuela um abastecimento absoluto de produtos e, principalmente, uma poderosa reserva de três meses que devemos consolidar”, disse Maduro.
Recentemente, as relações entre os dois países ficaram estremecidas, depois que o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, recebeu o líder opositor Henrique Capriles em Bogotá, enfurecendo os chavistas. A reaproximação ocorreu em julho, quando Santos reuniu-se com Maduro na Venezuela.