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Macri arrisca perder votos ao receber Bolsonaro na Argentina

Líder brasileiro desagrada argentinos ao criticar Cristina Kirchner e gera receios na campanha de reeleição do presidente

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 6 jun 2019, 13h20 - Publicado em 6 jun 2019, 11h39

Ao apertar a mão de Jair Bolsonaro na Casa Rosada nesta quinta-feira, 6, o presidente da Argentina, Maurício Macri, arriscou-se a perder votos na eleição de eleição de outubro, segundo analistas argentinos. Ainda assim, o recebeu com honras de visita de Estado e cedeu o palácio de governo, no centro de Buenos Aires, para os encontros do brasileiro com os líderes do Congresso e da Corte Suprema de Justiça.

A visita de Bolsonaro nada tem a ajudar o candidato em sua reeleição. Macri tenta ao máximo evitar a colagem de sua imagem na do líder brasileiro – ainda mais quando está em franca disputa com a ex-presidente e atual senadora Cristina Kirchner, a peronista mais habilitada à caça de votos da Argentina.

“Se há algo que Macri não quer é ser tachado de ideológico, de centro direita, de populista de direita, de neoliberal”, afirma Carlos De Angelis, professor de Sociologia da Opinião Pública da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires.

“A imagem de Macri já está deteriorada. Começou seu governo com 66% de aprovação. Agora, está com 28%. Mas, no atual contexto, a visita de Bolsonaro poderá afetar ainda mais sua campanha eleitoral”, avaliou o analista político Diego Reynoso.

A mais recente pesquisa eleitoral divulgada no país, do instituto Synopsis, aponta vantagem de apenas 0,4 ponto porcentual para a chapa Alberto Fernández-Cristina Kirchner em um segundo turno, se descontados os eleitores indecisos (7,4%). O presidente tem 46,1% de intenções de voto, enquanto a dupla peronista, 46,5%, segundo o jornal Perfil. Nesta quinta-feira, o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna entrou na corrida presidencial, fato que tornará ainda mais difícil para Macri preservar seu eleitorado cativo.

Para De Angelis, Macri tem núcleo duro conservador, que representa cerca de 15% de seu eleitorado cativo. Trata-se de uma parcela preocupada com a segurança pública e passível ao discurso duro de Bolsonaro nessa área. A representante mais visível dessa linha é a ministra de Segurança, Patrícia Bullrich, considerada como possível vice na chapa de Macri.

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Mas há também os 20% muito decepcionados com os resultados da política econômica de Macri e a parcela mais progressista de seu eleitorado – a que quer a descriminalização do aborto e defende as agendas de igualdade de gênero e de direitos das minorias. Essa parcela do eleitorado certamente não ficará contente com a chegada do líder brasileiro, alerta De Angelis.

Nessa última categoria entram também os argentinos que vivenciaram os anos de chumbo da ditadura militar (1976 a 1983) argentina, que deixou 30.000 mortos e desaparecidos, além de torturados e de bebês sequestrados e entregues a outras famílias. Não à toa, as Mães da Praça de Maio, que se reúnem desde os anos 1970 na frente da Casa Rosada todas as quintas-feiras, iniciará uma série de manifestações contra a presença de Bolsonaro no país.

Para o analista político Daniel Bilotta, o desgaste a ser provocado por esses protestos não chegará a macular Macri. “Esta é uma questão para as pessoas da minha geração. Na universidade onde leciono, a maior parte dos estudantes não sabe quem foi Videla”, afirmou Bilotta, referindo-se a Jorge Videla,  líder do golpe militar de 1976 que governou a Argentina por cinco anos e acabou condenado à prisão perpétua pela morte de 31 presos políticos.

Diego Reynoso considera que pior seria a visita de Bolsonaro depois de 22 de junho, quando as candidaturas à Presidência serão formalizadas. “Quanto mais perto das eleições, pior seria. Neste momento, a campanha de Macri ainda tem como controlar o dano a ser sofrido.”

Pedido a Deus

Cristina Kirchner, candidata a vice na chapa peronista: alvo de Bolsonaro na Argentina (Martin Acosta/Reuters)

Bolsonaro desembarcou nesta quinta-feira em Buenos Aires com dois passivos anotados pelos formadores de opinião argentinos. Primeiro destino internacional dos presidentes brasileiros recém-empossados, a Argentina tornou-se o quinto lugar a ser visitado por Bolsonaro. O gesto foi percebido como uma desatenção do governo do Brasil com seu principal sócio no Mercosul.

O outro passivo é o conjunto de declarações do presidente brasileiro de apoio à vitória de Macri nas eleições e contra Cristina Kirchner – uma ingerência em assuntos políticos internos notada e recebida como ofensa, pelo lado peronista, e com receio, no círculo de Macri. Nop início de maio, Bolsonaro chegou a dizer que pedia “a Deus” pela derrota eleitoral de Kirchner para que o país vizinho não se torne uma “nova Venezuela”.

“Ao contrário do que ele imagina, Bolsonaro não fará um favor eleitoral ao visitar Macri, que não tem nada a ver com o líder brasileiro. Ele ajudará a subtrair mais votos de Macri”, afirmou Jorge Arguello, ex-embaixador da Argentina nas Nações Unidas e em Washington nos governos dos Kirchner. “Suas declarações sobre as eleições na Argentina foram imprudentes e inoportunas. Custa-nos entender que um presidente peça a Deus para que um candidato não vença a eleição no país vizinho.”

Arguello chama a atenção para o fato de que o Bolsonaro que visita a Argentina nesta quinta-feira é bem diferente do que foi no início de seu mandato, quando poderia muito bem ter desembarcado em Buenos Aires sem afetar a campanha eleitoral de Macri. O retrocesso da economia brasileira nos últimos cinco meses diminuiu as expectativas e o peso da atual visita de Bolsonaro à Argentina que, nesta crise, depende bem mais dos Estados Unidos e seu poder sobre o Fundo Monetário Internacional (FMI) do que do país vizinho.

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“Em janeiro, ele era o presidente de uma economia que iria crescer 2,6%. Agora, Bolsonaro é o presidente de uma economia que expandirá menos de 1%”, afirmou o embaixador.

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