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‘Lista negra’ israelense enche de incertezas a vida na Cisjordânia

Por Da Redação
10 mar 2012, 10h06

Antonio Pita.

Jerusalém, 10 mar (EFE).- Milhares de palestinos da Cisjordânia estão na ‘lista negra’ dos serviços secretos israelenses, alguns por motivos tão surpreendentes como ter parentesco com um adolescente que atirou pedras contra soldados ou se negar a dar delações ao Exército.

São os ‘menuei Shabak’, pessoas comuns que de repente descobrem que estão proibidas de trabalhar em Israel, viajar ao exterior, ser atendidas em hospitais palestinos em Jerusalém Oriental ou cultivar terras na faixa anexada pela barreira de separação.

Israel não revela quantos são, apesar da ONG Machsom Watch garantir que um ex-responsável militar de assuntos civis na região, Ilan Paz, calculou em uma conversa em 180 mil, de um total de 2,5 milhões de cisjordanianos.

Como é comum na ocupação militar israelense, a ‘lista’ não é um documento físico e público, mas uma coleção de opacas decisões democráticas que enchem de incertezas as vidas de muitas famílias.

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O sistema funciona assim: um palestino qualquer chega de manhã ao posto de controle militar israelense para atravessar e, como todos os dias, ir ao seu trabalho.

Após a habitual espera, entrega ao soldado seu documento de identidade, mas desta vez a entrada é negada.

Ahmde, de 45 anos e natural de Jenin, é um dos muitos que trabalhava no Estado judeu até que passou a engrossar a invisível tribo dos rechaçados.

‘Antes tudo corria bem. Graças a Deus tinha um trabalho em Israel. Mas agora não posso entrar e ninguém me explicou o porquê, nem uma palavra’, lamenta após superar o medo de que o jornalista pudesse ser um agente secreto.

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Sua mulher, seis filhos e três irmãs dependiam desse salário.

Já no caso de Naeem, que trabalhou desde a adolescência em Israel e em assentamentos judaicos como pedreiro, a permissão para atravessar a reserva que leva até suas terras de cultivo foi retirada em 2006.

‘Vejo minhas terras pela janela e ensino a meus filhos, mas há seis anos que não posso pôr os pés nelas’, diz à entrada de seu povoado, Yayus, próximo de Kalkilia.

‘Construí casas e sinagogas para os israelenses desde os 16 anos. Cresci lá. Não vejo outro motivo para fazer isso do que o fato de minhas terras serem próximas a colônia de Zufim’, acrescenta.

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Estas cenas ocorrem na passagem de Allenby, que separa a Cisjordânia da Jordânia, mas é controlada por Israel e por onde milhares de palestinos passam para visitar parentes, estudar ou fazer negócios no país vizinho como ir até o aeroporto, o que as autoridades israelenses negam em seu território.

Shawan Yabarin, diretor da Al Haq, a maior ONG de direitos humanos da Cisjordânia, só pôde atravessar Allenby na semana passada, pela primeira vez em seis anos, graças a uma permissão especial do Tribunal Supremo israelense para participar de uma conferência em Genebra.

A corte rejeitou retirar a proibição, sustentada em informações secretas, e preferiu permitir a viagem ao invés de revelar sobre o que era acusado.

Diante da interdição, muitos desistem, como se tratasse de um imutável desígnio divino, e outros recorrem à ONG ou pagam entre 315 e 980 euros a advogados particulares, alguns dos quais alegam ter ‘contatos no Shabak’ (o serviço secreto interno israelense responsável pela decisão) para atrair clientes.

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Os que levam o caso à Justiça recebem respostas ‘vazias e padronizadas’ sobre o motivo da proibição legal, como ‘por em perigo a segurança da região’ ou ‘manter contatos com o Hamas’, em referência a um amigo ou familiar no movimento islamita, explica Sylvia Piterman, da Machsom Watch e autora do relatório ‘Prisioneiros invisíveis’.

Um terço dos pedidos de retirada da proibição administrados pela Machsom Watch foram aceitos pela administração militar e cerca de 70% após a apelação judicial.

Outra organização israelense de direitos humanos, a Hamoked, obteve 65% de vitórias nos 350 casos resolvidos de proibições de atravessar à Jordânia que tramitou desde 2009.

Dados que, de acordo com Sylvia, provam que os rechaçados dificilmente ameaçam a segurança de Israel, ao que se soma que, de fato, cerca de 10 mil vivem ilegalmente no país, escondidos ou cruzando a fronteira de madrugada para ganhar o pão.

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‘Não acho que estejam esperando receber a permissão para atacar alguém’, ironiza Sylvia, que defende que a ‘lista negra’ é feita para recrutar colaboracionistas.

‘Se nos ajudar os ajudaremos’ é a frase que escuta a legião de desesperados para se livrar de uma proibição que pode condená-los à pobreza ou, nos casos mais extremos, privá-los de tratamentos médicos inexistentes na Cisjordânia.

‘O fato de que os pedidos de retirada requeiram presença física abre o terreno para as pressões. É muito comum a prática de tentar obter colaboração de quem pede a revogação’, afirma Elad Kahana, advogada da Hamoked.

Consultadas pela Efe, fontes de segurança israelense afirmaram que todos os pedidos de entrada ‘são avaliados caso a caso, de forma profissional e de acordo com critérios relevantes’.

‘A entrada dos moradores palestinos em Israel não é um direito automático e esta posição está respaldada por diversas decisões do Supremo’, informaram sobre um tema burocrático motivo de inquietação para muitos palestinos da Cisjordânia, perante o temor de figurar na chamada ‘lista negra’. EFE

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