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Lilian Tintori: “Sinto que podem matar Leopoldo”

A esposa do preso político Leopoldo López conta sua angústia e fala sobre a repressão na Venezuela

Por Nathalia Watkins
Atualizado em 3 set 2016, 22h46 - Publicado em 3 set 2016, 15h00

Lilian Tintori é mãe da Manuela, de 7 anos, e do Leopoldo Santiago, 3, e esposa de Leopoldo López, um dos mais de oitenta presos políticos da Venezuela.

López foi levado a uma prisão militar em 2014 e sentenciado a quase 14 anos de prisão sem qualquer prova contra ele.

Na manifestação que aconteceu no dia 1º de setembro em Caracas, Lilian foi uma das pessoas que falou para multidão.

Em entrevista a VEJA, por telefone, ela contou sobre as perseguições e humilhações que sofreu ao longo dos anos e sobre a situação na Venezuela.

Há quanto tempo vocês são perseguidos pelo governo? A perseguição se intensificou em 2014, quando Leopoldo fez um chamado aos venezuelanos para despertar a consciência e para lutar por seus direitos. Ele queria buscar uma saída para essa crise que fosse constitucional, pacífica, democrática e pela via eleitoral.

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Foi a primeira vez que vocês se sentiram alvo de represálias? Não. O Leopoldo foi inabilitado politicamente em 2008, quando era prefeito do município de Chacao, em Caracas. Meus sogros também foram perseguidos judicialmente em 2009. Isso não é novo. Mas as coisas foram piorando com o tempo. Hoje Leopoldo é um perseguido político, tão perseguido que o colocaram preso em uma prisão militar. Ele está totalmente isolado. Está ilhado e solitário em uma torre, completamente sozinho.

Como vocês se comunicam? Só podemos nos falar durante os horários de visita. De resto, passam os dias e ele não pode sequer ligar para seus familiares.

Como são as visitas? São horríveis. Os militares nos tratam de forma intimidadora, nos ameaçam. A revista corporal é vexatória. Eles me despem completamente, me mandam rodopiar, me mandam abrir as pernas. A última durou 15 minutos, foi muito longa. Tanto na visita familiar quanto quando vou com os advogados, eles nos olham feio e fazem tudo lentamente. É pavoroso. Quando estamos dentro da prisão de Ramo Verde, eles nos gravam em áudio e vídeo. Leopoldo foi colocado em uma cela pequena, fizeram tortura psicológica e o ameaçaram de morte lá dentro.

A senhora tem medo de que isso possa acontecer? Sinto que podem matar Leopoldo. Sinto que a vida do meu marido está em perigo, que em qualquer momento eles vão me chamar e me dar a notícia de que o assassinaram. Esse é um governo criminoso, que não respeita os direitos humanos. Não há na Venezuela um Estado de Direito. O governo só buscar intimidar, perseguir e colocar medo, muito medo, em todo mundo. O objetivo deles é que eu me paralise, mas eu não vou deixar. Estou lutando por amor, pela minha família, pelo meu marido, por meus filhos, ninguém vai parar essa luta. E o amor é muito grande, o amor a Leopoldo, o amor a meu país, o amor a meus filhos. Não vou parar. Se nos perseguem, se nos intimidam, com mais força vou revidar, e o tenho feito por dois anos e meio. O país inteiro está conosco.

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Como a senhora aprendeu a lidar com a ausência de Leopoldo? É uma vida muito difícil. Primeiro, tenho de ser mãe e pai ao mesmo tempo. Além disso, também me dediquei a defender os direitos humanos e os presos políticos de meu país. Por isso, tenho viajado muito para o exterior. É um sacrifício diário.

As crianças entendem o que está acontecendo com o pai delas? Eles sabem de toda a verdade. Sabem que o pai delas é um herói, que está preso porque o presidente Nicolás Maduro não quer competir com ele politicamente. Se Maduro tentasse isso, o papai ganharia. Leopoldo tem muita força e desperta muito amor no povo. As crianças sabem que o pai delas quer mudar as coisas na Venezuela, construir escolas, universidades, estradas, colégios, parques para as crianças. Quer um país melhor. Elas entenderem que não podem ver o pai todo dia por causa de política.

A senhora teme pela segurança da sua família? Por garantia, nunca ficamos sozinhos. Sempre andamos com escoltas conforme recomendaram as medidas cautelares expedidas pela da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Além disso, temos medidas de proteção da Justiça venezuelana. Eles também nos protegem. O governo está tão dividido e desordenado que muitos dentro dele não estão de acordo com a perseguição, que não é só à família López. E muitos mostram solidariedade. Mais de 94% estão em desacordo com o que está acontecendo e querem uma mudança.

A população se identifica com a sua história? Sim. Eu tenho um marido preso, mas quantas mulheres não têm o marido morto pela violência que há nas ruas? Não me sinto sozinha, nunca me sinto sozinha. Eu sei também que a comunidade internacional sabe que nossa luta é absolutamente legítima. É uma luta por toda a nossa família e é uma luta absolutamente constitucional.

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Qual é a situação da Venezuela hoje? Há violação sistemática aos direitos humanos, vivemos a pior crise que já aconteceu na nossa história. A inflação faz com que a gente não tenha como pagar uma comida, manter uma alimentação básica. Para alimentar uma família de cinco pessoas, são necessários dezesseis salários mínimos. Há muita fome. Não há medicamentos para curar os doentes. Vivemos sob uma ditadura fracassada.

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