Langlois diz em Paris que o conflito na Colômbia não terminou

Paris, 1 jun (EFE).- O jornalista francês Roméo Langlois, que chegou nesta sexta-feira a Paris após ter sido libertado na véspera depois de 33 dias em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), chamou a atenção sobre a situação na Colômbia e assegurou que o conflito no país não terminou, ao contrário do que faz parecer o governo.
Logo após aterrissar no Aeroporto Roissy-Charles de Gaulle, onde foi recebido por seus pais, irmãos, alguns amigos e dois ministros franceses, o repórter assegurou que seu sequestro é ‘a forma que a guerrilha tem para chamar a atenção para um conflito que persiste’.
‘A Colômbia continua em guerra, as Farc seguem ativas da mesma forma que outros grupos. Há uma crise humanitária extremamente severa, da qual ninguém fala’, declarou à imprensa Langlois, que acusou as autoridades de Bogotá de impor ‘um bloqueio informativo’ sobre a situação do país.
Langlois será recebido nesta tarde pelo presidente francês, François Hollande, a quem entregará uma mensagem que lhe deram as Farc.
Instalado há oito anos na Colômbia, onde trabalhava de forma regular para o canal ‘France 24’ e ocasionalmente para o jornal ‘Le Figaro’, o jornalista francês afirmou que, com frequência, as autoridades colombianas lhes acusavam de ser ‘portadores de maus augúrios’.
Nesse contexto Langlois coloca as críticas vertidas contra ele pelo ex-presidente colombiano, Álvaro Uribe, a quem não quis responder de forma direta.
‘Tem um ódio visceral contra as Farc (…) Ele não gostou de me ver sair sorridente e com uma câmera, esperava ver-me humilhado’, disse.
A ‘campanha agressiva’ de comunicação de Bogotá para fazer o mundo pensar que o conflito acabou leva a guerrilha a ver-se obrigada a realizar sequestros midiáticos, como o seu ou e da ex-candidata presidencial colombiana Ingrid Betancourt, para ‘chamar a atenção da comunidade internacional’, ponderou.
‘As Farc, que querem uma solução negociada para o conflito, se veem obrigadas a sequestrar gente como eu para chamar a atenção sobre o conflito extremamente grave que há no país. Para isso serviu meu sequestro, para isso serviu o de Ingrid Betancourt’, frisou.
O objetivo da guerrilha, segundo Langlois, é fazer com que ‘a comunidade internacional se envolva’ na solução do conflito, porque não acreditam que possa ajeitar-se ‘entre colombianos’ devido à ‘grande divisão e ódio’ que há na sociedade.
‘É necessária a participação de outros países, sobretudo da Europa, como a França’, assinalou o repórter, que lembrou que a guerrilha lhe entregou uma carta destinada ao novo presidente francês.
‘Não há nenhuma grande revelação. Em geral, as Farc pedem à França que siga exercendo seu papel de país amigo para ajudar a encontrar uma solução negociada’, declarou o jornalista, que não quis dar muitos detalhes sobre a carta.
Acompanhado da ministra da Cultura, Aurélie Filippetti, e do responsável pelo Desenvolvimento, Pascal Canfin, de sua família e de amigos, Langlois parecia sereno e brincalhão, não criticou seus sequestradores, mas reconheceu que chegou a sentir medo.
‘O assunto se politizou devido à campanha eleitoral francesa’, disse Langlois, que esperava ser libertado em, no máximo, 15 dias.
O jornalista revelou que temeu ter o mesmo destino que Ingrid Betancourt, que permaneceu mais de cinco anos nas mãos da guerrilha até ser libertada em uma operação militar.
Ferido de bala no braço esquerdo durante a emboscada da guerrilha na qual foi sequestrado quando se dispunha a gravar uma operação do Exército contra o narcotráfico, Langlois não acredita que seja nada grave.
O jornalista passará agora alguns dias com sua família, mas espera retornar à Colômbia para continuar trabalhando. EFE