Jordânia vai às urnas pela 1ª vez após a Primavera Árabe
Irmandade Muçulmana boicotou a votação, alegando que o sistema eleitoral foi manipulado a favor de áreas pró-governo e contra regiões favoráveis ao partido
Os jordanianos votaram nesta quarta-feira nas primeiras eleições parlamentares do país desde as revoltas da Primavera Árabe. A Jordânia, uma monarquia apoiada pelos EUA e que faz fronteira com Israel, tem enfrentado protestos contra o governo do rei Abdullah II, embora as manifestações não tenham tido a mesma escala daquelas que derrubaram os governantes do Egito e da Tunísia e que se transformaram em guerras civis na Líbia e Síria.
O governo de Abdullah II prometeu eleições livres e justas. Porém, um boicote foi anunciado pela Irmandade Muçulmana, o principal partido islâmico do país e com forte apelo popular, alegando que o sistema eleitoral havia sido manipulado a favor de áreas rurais tribais, onde estão forças conservadoras e pró-governo, e contra grandes áreas urbanas povoadas, onde o partido é mais forte.
O abandono da votação pela Irmandade Muçulmana diminui as chances de os islâmicos realizarem uma mudança como a verificada no Egito, onde o impopular Mohamed Mursi, membro da Irmandade, chegou ao poder através das urnas para substituir o ditador Hosni Mubarak e acabou tornando-se um novo faraó. Por outro lado, o boicote também reduz a eleição na Jordânia a uma disputa entre líderes tribais, figuras já estabelecidas no país e empresários – são 1.500 candidatos na disputa por 150 lugares na Câmara Baixa. As denúncias de compra de votos são abundantes.
O resultado eleitoral poderá causar ressentimento em grande parte da população urbana pobre, que se sente excluída, política e economicamente. “Não há propostas nas campanhas dos candidatos. Elas são conduzidas emocionalmente e baseadas mais nas relações pessoais do que em programas construtivos”, disse o xeque Talal al-Madi, ex-senador de uma região tribal.
Mais de dois terços dos sete milhões de habitantes da Jordânia vivem em cidades, mas são representados por menos de um terço das cadeiras na assembleia. A eleição também ocorre em meio a uma preocupante crise econômica, com políticas de austeridade guiadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo foi forçado a adotar essas medidas para evitar uma crise fiscal depois de anos de gastos em um setor público inchado.
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(Com agência Reuters)