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Jeremy Corbyn, o candidato “vermelho” a primeiro-ministro do Reino Unido

Tudo pode acontecer na eleição antecipada de dezembro — até o líder trabalhista, expoente da esquerda, tomar o lugar de Boris Johnson

Por Ernesto Neves Atualizado em 8 nov 2019, 09h50 - Publicado em 8 nov 2019, 06h00

O dilema do Brexit que engole o Reino Unido há três anos está provocando viradas impensáveis no panorama político britânico, antes tão previsível e disciplinado. Uma das mais surpreendentes envolve o problemático líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn. Militante da esquerda à moda antiga, cria do sindicalismo, frequentemente acusado de antissemitismo, Corbyn deslanchou neste mês uma feroz campanha das eleições antecipadas para 12 de dezembro com a firme intenção de pôr o reino no caminho do que ele chama de “socialismo democrático”.

Não veio para brincadeira. No primeiro discurso, desancou os “poucos privilegiados” que se beneficiam do “sistema corrupto” e deu nome aos tubarões. Citou: 1) o duque de Westminster, proprietário de bairros inteiros de Londres, a quem acusou de pôr famílias na rua para construir prédios de luxo; 2) Mike Ashley, dono de grandes redes de lojas, “bilionário que não paga o que os empregados merecem e está destruindo um time de futebol” — no caso, o Newcastle United, que também é seu; 3) Jim Ratcliffe, presidente do gigante petroquímico Ineos, “ricaço que ganha dinheiro poluindo o meio ambiente”; 4) Crispin Odey, gestor de fundo de investimentos “que ganha milhões apostando contra o país e na miséria dos outros”; e, por último, mas nada menor, 5) Rupert Murdoch, barão da mídia, cujo “império faz jorrar propaganda para um esquema viciado”. Seu adversário, o conservador Boris Johnson, não deixou por menos: acusou Corbyn de demonizar pessoas “com um desejo de vingança como não se via desde Stalin”, o mais cruel ditador soviético.

Vegetariano, 70 anos, o líder trabalhista tem propostas de arrepiar os cabelos dos que acreditam numa linha liberal da economia. Desde que a perspectiva de eleição se firmou no horizonte, o partido já propôs, entre outras medidas, confiscar 10% das ações das grandes empresas para repassá-las aos funcionários e promover um vasto programa de nacionalização. Também faz parte da agenda acabar com as escolas particulares e instaurar a semana de trabalho de quatro dias. Pelas declarações iniciais de Corbyn, conclui-se que a ala mais à esquerda vai para essa briga de foice e martelo em punho, sem os panos quentes que pôs na eleição de 2017, também antecipada por culpa do Brexit (o Partido Conservador venceu, mas perdeu sua maioria).

Digam o que disserem os candidatos em campanha, o ponto central da votação de dezembro é desatar o nó do Brexit. Boris Johnson conta com uma vitória que expurgará Westminster dos conservadores dissidentes e lhe dará a maioria de que precisa para ou aprovar um acordo ou sair da União Europeia sem acordo algum. Corbyn espera que o alto nível de irritação dos britânicos com o processo — e as trapalhadas de Boris desde que assumiu, em julho — incentive os eleitores a votar na oposição, que promete, ato contínuo, convocar um novo referendo sobre a saída da UE. Nas pesquisas, conservadores estão vários pontos à frente de trabalhistas, mas o volátil clima político do país desafia qualquer aposta, ainda que apostar seja um esporte nacional.

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A favor de Corbyn, no momento, está o pavor generalizado de um Brexit sem acordo, ameaça que Boris brandia com vigor, mas que vem relativizando desde que virou candidato. Uma saída abrupta significa, para o Reino Unido, a perda, de um dia para outro, de um mercado de meio bilhão de pessoas. Mesmo que os Estados Unidos ocupem parte do espaço (como Donald Trump já prometeu, de loiro para loiro, a Boris) e que os laços comerciais com a Europa sejam paulatinamente refeitos, o impacto deve ser devastador. Antecipa-­se um caos na circulação de pessoas e mercadorias, e as famílias do reino estão há meses enchendo a despensa diante da expectativa do maior desabastecimento desde a II Guerra.

Segundo dados do Banco de Com­pensações Internacionais, que supervisiona o sistema bancário mundial, em março, o último mês com informações disponíveis, os britânicos despacharam o equivalente a 19 bilhões de dólares para a Suíça e 14 bilhões para Luxemburgo. Nesse quadro, Corbyn, o vermelho, é visto como mal menor por todo mundo que tem muito a perder — inclusive banqueiros e executivos de grandes conglomerados. “Nacionalizar empresas é uma péssima ideia. Mas causará menos prejuízos do que um Brexit descontrolado”, resume Christian Schulz, analista financeiro de Londres. Haja pragmatismo.

Publicado em VEJA de 13 de novembro de 2019, edição nº 2660

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