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Jantar de Bolsonaro com Bannon nos EUA é bofetada no governo de Trump

Como um filósofo astrólogo e um consultor desempregado perseguem o protagonismo na visita do presidente brasileiro a Washington

Por Lúcia Guimarães Atualizado em 15 mar 2019, 21h23 - Publicado em 15 mar 2019, 20h58

Vamos supor que Angela Merkel faça uma visita oficial ao Brasil e, antes mesmo de pisar no Palácio do Planalto, jante com João Pedro Stédile, o líder do MST, na embaixada alemã. Nenhuma chance. Seria uma bofetada diplomática no país anfitrião. Mas, na noite do domingo, 17, na embaixada do Brasil em Washington, um renegado e ex-assessor enxotado da Casa Branca vai, afinal, apertar a mão do presidente Jair Bolsonaro e sentar-se à mesa com ele.

Sabe-se que Steve Bannon foi convidado para jantar com o presidente, como foi confirmado aos sussurros por diplomatas defensivos. Mas o convite não se deu por iniciativa do atual embaixador Sérgio Amaral, algo evidente para quem acompanhou a carreira do diplomata.

Ao longo de décadas e mesmo durante o período do pueril alinhamento diplomático com a esquerda, sob o PT, o Itamaraty primou pela falta de ingerência em assuntos internos de outros países. Agora, não chega a ameaçar com aventuras. Mas a inclusão de Bannon entre os convivas do jantar na embaixada é uma quebra de protocolo com o país anfitrião.

O convite foi obra da dobradinha Olavo de Carvalho e Eduardo Bolsonaro. O astrólogo Carvalho tornou-se guru ideológico da ala mais radical do governo brasileiro e patrocinador da indicação de vários ministros, entre os quais o chanceler Ernesto Araújo. Eduardo, o filho número 3, foi ungido – ou usado – pelo mal barbeado ex-assessor de Donald Trump como líder regional de seu ultradireitista Moviment.

O polêmico Stephen K. Bannon, de 65 anos, é um ex-oficial da Marinha americana e ex-investidor de Wall Street com uma passagem por Hollywood como produtor. Em 2012, com a morte de Andrew Breibart, o fundador do Breibart News, ele passou a dirigir esse website extremista de direita. Foi também um dos fundadores da Cambridge Analytica, empresa digital envolvida no escândalo sobre a manipulação da campanha pelo Brexit.Em agosto de 2016, quando o hoje condenado Paul Manafort deixou a direção da campanha de Donald Trump para a Casa Branca, Bannon foi nomeado para o posto. Com a vitória republicana, ganhou o cargo de estrategista e conselheiro sênior do presidente eleito. O estilo abrasivo e as posições antiglobalistas e anti-imigração de Bannon alienaram a atuação do genro de Trump, Jared Kushner, e de sua filha Ivanka, que apoiavam outros egressos de Wall Street do governo.

Pouco depois do incidente terrorista em Charlottesville, na Virginia, em agosto de 2017, quando um nacionalista branco jogou seu carro contra a multidão e matou uma jovem, Bannon deixou o cargo. Insistiu que sua partida fora voluntária. Mas estava inequivocamente enfraquecido e fora escorraçado da Casa Branca por Trump.

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Uma fonte amedrontada do Itamaraty avalia a ideia de trazer uma figura extremista e marginal no centro de poder, em Washington, é uma grosseria com o anfitrião na Casa Branca. “Não, Bannon ainda tem influência expressiva entre os conservadores,” diz a voz nervosa do outro lado da linha para justificar a inclusão do agitador ao lado de acadêmicos conservadores respeitados, como Walter Russell Meade, à mesa de Bolsonaro.

Outro diplomata mais graduado concorda em número e grau com o fato de que nossa diplomacia jamais incluiria Bannon num compromisso do presidente em visita oficial ao exterior.

Puxadinho radical

Em reportagem de 8 de março, a rede BBC foi conferir a força do chamado Moviment, um brancaleônico agrupamento de populistas que o belga Michaël Modrikamen, líder e parceiro de Bannon, descreve como um clube. Parece mesmo um clube exclusivo porque Modrikamen não citou nem o Brasil.

Em sua mansão num subúrbio de Bruxelas, onde passeia sua cadela de guarda Thatcher, uma homenagem à ex-primeira-ministra britânica que preferiria um tratamento de canal à companhia da dupla Bannon-Carvalho, o líder do Movement admitiu que conta com escasso apoio oficial na Europa. A exceção é a Liga, do italiano Matteo Salvini.

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Apoiadores iniciais, como o Partido de Independência do Reino Unido (Ukip), se afastaram. O Movement havia prometido uma reunião de cúpula com dezenas de grupos de apoio para janeiro passado, mas o encontro não se materializou.

Hotel Internacional Trump
Hotel Internacional Trump em Washington, Estados Unidos – 30/10/2016 (AaronP/Bauer-Griffin/GC Images/Getty Images)

Isso leva a mais perguntas do que respostas. Quem financia o Movement? Por que espalharam a informação de que o presidente Jair Bolsonaro iria beijar a mão de Steve Bannon numa festa em sua casa na capital americana, um compromisso que não faz parte da agenda oficial?

E qual o interesse de Bannon e Gerald Branto hedge funder, em alugar o auditório do Trump International Hotel, em Washington, para uma sessão especial do documentário O Jardim das Aflições, de 2017, sobre Olavo de Carvalho, uma figura cujo peso intelectual nos Estados Unidos faria o saudoso humorista carioca Sérgio Porto comentar que ele “desponta para o anonimato”?

O hotel operado pela empresa do presidente americano está no centro de denúncias sobre lucro derivado do cargo de seu dono, algo vetado pela Constituição. Vive infestado de lobistas de corporações nacionais e estrangeiras ansiosas por cair nas graças do empresário presidente. Mais do que um jardim, é um pântano de dúvidas aflitas.

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