Itália: 200 mil imigrantes podem chegar pelo mar ao país este ano
Em Bruxelas, líderes europeus discutem a retomada das buscas no Mar Mediterrâneo e uma possível operação militar contra traficantes de pessoas que atuam na caótica Líbia
Cerca de 5.000 imigrantes por semana podem chegar à Itália pelo mar provenientes de portos do norte da África nos próximos cinco meses, se não forem tomadas medidas para conter a situação, segundo projeção do Ministério do Interior italiano. Os números, publicados na quinta-feira pelo jornal Il Messaggero apontam que 200.000 podem chegar até o fim do ano.
A chegada de imigrantes normalmente aumenta nos meses de primavera e verão na Europa, devido às melhores condições meteorológicas no Mediterrâneo, mas a situação deve ser ainda pior por causa da situação de conflito instabilidade na Líbia, de onde parte a maioria dos imigrantes. O país está mergulhado no caos desde a queda, em 2011, de Muamar Kadafi, com dois governos que disputam o poder.
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Os chefes de Estado da União Europeia (UE) se reunirão nesta quinta em uma cúpula extraordinária em Bruxelas para avaliar a possibilidade de uma operação militar contra traficantes de seres humanos. Segundo o projeto, os países poderiam lançar uma operação para “identificar, capturar e destruir os barcos antes de serem utilizados pelos traficantes”. Se a proposta for aceita, a organização desta operação militar dependeria da coordenação de vários países e precisaria de bases jurídicas para poder funcionar. Uma operação deste tipo para destruir embarcações na Líbia precisaria de um mandato jurídico das Nações Unidas para a UE poder atuar em águas ou território de outro país.
As tragédias se intensificaram após a Itália cancelar o Mare Nostrum, um programa de buscas que salvou a vida de mais de 100.000 pessoas no ano passado. O governo italiano justificou a decisão dizendo que os demais países da UE não queriam arcar com os custos das operações. Foi aprovado em substituição ao Mare Nostrum o programa Triton, cujo raio de abrangência é bem menor que o anterior e engloba apenas a patrulha das fronteiras do bloco econômico. A aprovação do Triton encontrou respaldo entre nações da UE defensoras do argumento de que salvar a vida dos imigrantes à deriva encorajaria outros a partirem em direção ao continente europeu.
A retomada das buscas, opção também prevista para ser discutida hoje em Bruxelas, seria uma forma de conter um agravamento da situação nos próximos meses. Organizações internacionais afirmam que a temporada de maior fluxo de imigrantes no Mar Mediterrâneo ainda não teve início. Ao menos 3.200 pessoas morreram durante todo o ano de 2014 em travessias clandestinas na região. Se o panorama atual for mantido, os grupos de defesa dos direitos humanos estipulam que o número de vítimas poderá ultrapassar 30.000 neste ano.
(Da redação)