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Israel volta às urnas sem perspectiva de estabilidade política

Menos de seis meses depois da primeira eleição, Netanyahu luta para continuar no poder e para desvincilhar-se de processos judiciais por corrupção

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 set 2019, 07h00 - Publicado em 17 set 2019, 07h00

Israel realiza nesta terça-feira, 17, sua segunda eleição em menos de seis meses. A última votação acabou de forma inconclusiva, e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu falhou nas negociações para formar um governo de coalizão da extrema direita ultraortodoxa com a mesma vertente secular. As mais recentes pesquisas, porém, mostram um cenário ainda nebuloso e apontam para um período mais longo de instabilidade política após o novo pleito.

“O cenário mais provável após as eleições é o do inesperado”, diz o professor de Ciência Política Gideon Rahat, da Universidade Hebraica de Jerusalém. “Ninguém conseguiria prever que teríamos uma nova votação depois de tão pouco tempo e também é difícil prever agora como serão os próximos meses”.

Netanyahu tem pela frente grandes obstáculos que colocam em risco seu reinado de 13 anos. O premiê, que pode vir a enfrentar acusações criminais por seu envolvimento em três casos de corrupção, depende do apoio de sua coalizão para garantir a imunidade parlamentar por um largo período e evitar o julgamento.

Bibi, como o mandatário é conhecido em Israel, foi desafiado por seu ex-aliado e líder da extrema direita secular Avigdor Lieberman após as eleições de abril. O ex-ministro da Defesa e fundador da legenda Israel Nosso Lar se recusou a participar do governo de Netanyahu depois que o partido do premiê, o Likud, prometeu apoiar um projeto de lei que regulamenta a isenção dos estudantes judeus ultraortodoxos de servirem nas Forças Armadas.

Sem o apoio de Lieberman, Bibi não conseguiu os 61 assentos do Knesset (o Parlamento israelense) necessários para formar uma coalizão com maioria viável. Diante da possibilidade de seu opositor e líder do partido de centro-direita Azul e Branco, Benny Gantz, ganhar o direito de liderar as negociações para tentar formar um governo, Netanyahu preferiu convocar um novo pleito.

Menos de seis meses depois, os israelenses voltam às urnas com um cenário praticamente idêntico ao da última eleição. Os mesmos conflitos que pairavam sobre o Knesset no semestre passado continuam a atormentar Bibi – e Avigdor Lieberman já deixou claro que não irá ceder em prol de um gabinete liderado por Netanyahu.

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“Nada mudou desde o impasse da última eleição”, diz Noah Slepkov, consultor político e ex-assistente parlamentar do Knesset. “Tudo que se discutia e estava na mesa de negociações continua ali”.

“Não há uma saída fácil para o problema que se criou após a última votação”, explica Rahat. “A situação está ainda mais complicada, na verdade”.

O embate entre Netanyahu e Lieberman dividiu o país entre aqueles que apoiam um governo mais radical e religioso e aqueles que querem uma administração mais liberal e secular. Além de decidir a composição do Knesset, o resultado das eleições desta terça-feira também servirá como um ótimo termômetro sobre o que a população espera para o futuro do país.

Cartaz de campanha de Benjamin Netanyahu em Jerusalém: aperto de mão de Donald Trump para atrair eleitor – 16/09/2019 (Ahmad Gharabli/AFP)

O fiel da balança

Com sua oposição à coalizão de Netanyahu no primeiro semestre, Lieberman ganhou posição de destaque na política de Israel. Nascido na Moldávia, na então União Soviética, o ultranacionalista foi chefe de gabinete no primeiro governo de Bibi, mas rompeu com o Likud por desentendimentos sobre concessões aos palestinos e fundou seu próprio partido.

Até a discórdia de maio passado, ele fazia parte da coalizão de Netanyahu, com quem parecia cultivar uma grande amizade. Com o rompimento definitivo, tornou-se o novo fiel da balança do equilíbrio da política israelense.

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Lieberman, que sempre foi considerado mais radical do que Netanyahu em questões como política externa e do conflito Israel-Palestina, agora atrai eleitores mais moderados e até mesmo de centro com seu discurso secular.  Além do alistamento militar de ultraortodoxos, ele também defende outros temas que agradam sua base eleitoral de imigrantes da ex-URSS, como a instituição do casamento civil no país.

O ex-ministro da Defesa de Israel e líder do partido Israel Nosso Lar, Avigdor Lieberman: mais poder eleitoral do que antes de romper com Netanyahu – 30/05/2019 (Amir Levy/Getty Images)

As mais recentes pesquisas de opinião mostram que o Likud de Netanyahu não conseguirá formar uma coalizão com os 61 assentos necessários no Parlamento sem o apoio do Israel Nosso Lar. Se as previsões de concretizarem, a renovação do governo de extrema-direita israelense pode estar nas mãos de Lieberman.

Da mesma forma, o ex-chefe do Estado Maior do Exército Benny Gantz e seu partido de centro-direita Azul e Branco também não seriam capazes de negociar uma aliança com outras legendas de centro ou de esquerda sem o apoio do ultranacionalista.

“Lieberman se vê como um potencial futuro primeiro-ministro”, diz Noah Slepkov.

Segundo o analista, além de buscar amparo para seus ideais laicos, o moldávio também enxerga na atual configuração política de Israel uma oportunidade de derrubar Netanyahu e de ganhar apoio para se lançar como candidato nos próximos anos.

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Governo de unidade

As últimas pesquisas divulgadas pela imprensa local indicam que o Likud pode obter até 32 assentos no Knesset. Junto com seus aliados ultraortodoxos e de extrema direita, somaria até 59 cadeiras – duas a menos do que o necessário para a maioria.

O maior concorrente em número de votos de Bibi é o mesmo das eleições anteriores: Benny Gantz. O Azul e Branco está empatado com a legenda de Netanyahu nas pesquisas, com 32 assentos. Já o partido de Lieberman deve conquistar entre 8 e 10 lugares.

Sem o apoio do Israel Nosso Lar, muitos analistas acreditam que restaria ao Likud buscar uma aliança com o Azul e Branco de Gantz para evitar uma terceira eleição em menos de um ano. Tal união daria origem ao chamado “governo de unidade nacional”, no qual duas legendas rivais se associam quando não há nenhuma outra possibilidade de coalizão.

Gantz já sinalizou que poderia aceitar negociações neste sentido, mas deixou claro que não fará parte de uma administração comandada por Benjamin Netanyahu devido ao seu histórico de casos de corrupção.

O general da reserva Benny Gantz, do Azul e Branco: aliança com o Likud, sim; mas para Netanyahu se manter no poder, não  – 10/04/2019 (Ilia Yefimovich/dpa/Getty Images)

Até o momento, não há sinais de que lideranças dentro do Likud poderiam aceitar o acordo e forçar a renúncia de Bibi. Tampouco há chances de Gantz mudar de ideia. Mas a política israelense é conhecida por sua fluidez, e mudanças repentinas de rumo não podem ser descartadas.

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Na véspera da eleição, na segunda-feira 16, o governo de Netanyahu chegou a considerar o adiamento do pleito em razão de operações militares contra os palestinos. Segundo o jornal Haaretz, seu gabinete desistiu pouco antes de ordenar um ataque do Exército na Faixa de Gaza, que obrigaria o país a postergar a votação para garantir a segurança de seus cidadãos.

O ‘mágico’ Netanyahu

Chamado de “mágico” por seus eleitores, graças a suas habilidades políticas e capacidade de se manter no poder por 13 anos, Benjamin Netanyahu enfrenta em 2019 um dos maiores desafios de sua carreira. Pela primeira vez na história, o Knesset não foi capaz de formar um governo de maioria, e o premiê foi obrigado a convocar novas eleições.

O resultado do pleito desta terça-feira pode definir o futuro político de Bibi e também os caminhos do processo criminal que ele responde por envolvimento em três casos de corrupção — dois deles envolvendo pagamentos e concessão de favores a meios de comunicação em troca de cobertura favorável na imprensa.

Sua continuidade como primeiro-ministro está diretamente ligada aos processos. Enquanto permanecer no cargo, Netanyahu tem o apoio do Knesset para garantir sua imunidade parlamentar e evitar um indiciamento formal.

No dia 2 de outubro, Bibi participará de sua primeira pré-audiência perante a Justiça, na qual pode ser acusado oficialmente por “corrupção”, “abuso de confiança” e “desfalque”, a depender do resultado das eleições.

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Apesar dos casos de corrupção e da decepção de uma segunda eleição em menos de seis meses, o premiê ainda mantém grande apoio em Israel. Segundo uma pesquisa realizada pelo jornal Israel Hayom em parceria com o canal de televisão i24NEWS, 42% dos eleitores acreditam que Netanyahu é o mais qualificado para o cargo de primeiro-ministro.

Assim como em pleitos anteriores, os eleitores mais fiéis de Bibi têm se mostrado dispostos a ignorar os deslizes em sua carreira, e a focar em suas conquistas nas áreas econômica e diplomática. Muitos, inclusive, reproduzem o discurso oficial do premiê de que as denúncias de corrupção não passam de uma “caça às bruxas” para prejudicá-lo politicamente.

“Ele é um líder populista e, assim como outros populistas, recebe apoio de sua base seja como for, desde que mantenha sua imagem de líder forte”, diz Gideon Rahat, da Universidade Hebraica de Jerusalém.

Para aumentar ainda mais sua popularidade entre o eleitorado, no domingo 15, Netanyahu autorizou a legalização de uma colônia judaica na região do Vale do Jordão na Cisjordânia ocupada.

Na semana passada, Bibi já havia prometido anexar todas as colônias judaicas do vale caso vencesse as eleições. O território é estratégico e representa aproximadamente 30% da Cisjordânia ocupada. O anúncio foi duramente criticado pelas autoridades palestinas, que acreditam que, se for realizado, equivale à morte do processo de paz entre Israel e Palestina.

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