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Israel proibirá entrada de palestinos que ameaçam Eurovision

Campanha de boicote acusa a competição de "encobrir" violência israelense em Gaza e na Cisjordânia

Por Pietra Carvalho
Atualizado em 7 Maio 2019, 15h09 - Publicado em 7 Maio 2019, 13h51

As autoridades de Israel querem impedir a imigração de ativistas que planejam protestos na final do concurso Eurovision, a ser sediado no país na próxima semana. O governo teme que o evento, uma competição musical transmitida para o mundo todo, seja alvo de manifestações contra o tratamento agressivo de suas Forças Armadas ao povo palestino.

O Eurovision, uma espécie de The Voice continental, reúne artistas de toda a Europa e de países convidados. O concurso mais longevo da televisão mundial chega à sua 64ª final entre os dias 14 e 18 de maio, sediado em Tel Aviv, cidade na costa israelense.

Alguns dos concorrentes já chegaram a Israel. O palco está sendo montado, e grama já é aplicada no lugar onde os convidados assistirão à festa, de frente para o mar. O evento se tornou alvo da campanha Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), que preconiza o fim da colonização e da ocupação de territórios palestinos.

Os ativistas acusam Israel de usar a competição musical para “encobrir” suas políticas contra o povo palestino nas áreas ocupadas em Gaza e na Cisjordânia. O último fim de semana foi um dos mais sangrentos desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, em 2014. 

Em uma escalada de violência no conflito, uma série de ataques de lado a lado no sábado 4 e no domingo 5 deixou pelo menos 25 mortos na região da Faixa de Gaza. A repressão de Israel foi resposta a uma série de disparos de foguetes vindos da região. Entre as vítimas estão quatro civis israelenses e 21 palestinos, dos quais doze eram membros de grupos radicais islâmicos, como o Hamas. 

Apesar do anúncio de um cessar-fogo na segunda-feira 6, o primeiro-ministro e titular de Defesa israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que a sua campanha no território palestino não terminou. Mesmo sem protestos de algum dos 42 concorrentes, os organizadores do Eurovision temem que as manifestações possam tirar proveito do show, muito popular na Europa, atraindo centenas de milhões de espectadores.

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Netta Barzilai, vencedora do Eurovision, e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, se encontram após vitória do país na edição de 2018 (//Reprodução)

“Esta será uma grande festa, com a participação de milhares de pessoas, mas estaremos extremamente vigilantes para evitar que alguém venha até aqui para incomodar ou destruir”, afirmou o porta-voz do ministro de Relações Exteriores de Israel, Emmanuel Nahshon.

“Nós não queremos proibir a entrada no Estado de Israel. Mas por outro lado, se tivermos certeza que estamos enfrentando ativistas anti-Israel que tem o único propósito de atrapalhar o evento, usaremos sim os dispositivos legais que temos em relação à imigração”, completou.

Esta edição do Eurovision está envolta em polêmicas desde o início. Logo após a vitória da música israelense em 2018, premiando o país como sede de 2019, Netanyahu afirmou que pretendia realizar o concurso em Jerusalém, como parte de uma campanha do seu governo para o reconhecimento da cidade sagrada como capital da nação.

Jerusalém já sediou o Eurovision em duas ocasiões anteriores – em 1979 e em 1999 -, depois que a transgênero Dana International ganhou com sua música Diva, tornando-se ídolo em Israel e um ícone da comunidade LGBT.

Neste ano, a União Europeia de Radiodifusão (EBU), patrocinadora do evento, escolheu Tel Aviv como sede para tentar se afastar ao máximo o concurso das questões políticas. Seu líder, o alemão Frank-Dieter Freiling, publicou um comunicado nesta terça-feira, 7, pedindo que Netanyahu garanta a “liberdade de expressão” e o “acesso para todos que quiserem comparecer” à final.

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Competição Alternativa

Outros movimentos palestinos, em parceria com artistas internacionais, estão planejando um evento concorrente ao Eurovision, com transmissão online. Chamado de Globalvision, contará com concertos ao vivo em Dublin e em Belém.

“Os palestinos que vivem na Cisjordânia e em Gaza não podem ir à final do Eurovision em Tel Aviv por causa do bloqueio, entre outros fatores”, afirmaram os organizadores. “Já o Globalvision é uma plataforma sem fronteiras para os artistas palestinos brilharem e para os israelenses e os fãs da Eurovision se unirem a eles no espírito de igualdade”, defenderam.

Um dos artistas da iniciativa, Bashar Murad, de 26 anos, diz ser um fã do Eurovision desde criança e lamenta os caminhos do concurso deste ano. “O Eurovision deveria unir as pessoas, mas agora é quase uma aula sobre como ajudar Israel a manter a opressão e a ocupação. Eles estão quase encorajando isso.”

“Apesar de ser uma competição pop e divertida, você não pode tirá-la do contexto do lugar em que ela está sendo sediada e quem está sendo afetado ali”, argumentou Murad.

O Eurovision também coincidirá com a semana em que os palestinos relembram o Nakba, quando mais de 700.000 pessoas foram expulsas de suas casas na guerra pela criação de Israel, há 71 anos.

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Ativistas afirmam que o próprio centro Expo Tel Aviv, onde acontecerão as apresentações do Eurovision, foi construído no lugar de uma vila árabe, Shaykh Muwannis, cujos residentes foram expulsos pelos israelenses em 1948.

Os manifestantes do BDS que desejam protestar em Israel se inspiram em um movimento sul-africano anti-apartheid e já acumulam algumas conquistas em seu boicote ao país. No ano passado, a cantora americana Lana Del Rey e outros 19 artistas desistiram de um festival de verão israelense, seguindo o exemplo da cantora neozelandesa Lorde poucos meses antes, após protestos da iniciativa.

A cantora israelense Netta Barzilai, intérprete da música vencedora em 2018, condenou as tentativas de boicote. “Este é um festival de luz. As pessoas que boicotam a luz estão espalhando a escuridão.”

Entre os concorrentes deste ano, os músicos da banda Hatari, da Islândia, publicaram uma declaração desafiando o primeiro-ministro israelense. Eles se descrevem como um grupo “anticapitalista, tecno-distópico e praticante de sadomasoquismo” e desafiaram Netanyahu a lutar wrestling, uma arte marcial tradicional em seu país, logo depois da final do Eurovision.

Segundo a proposta do grupo, o prêmio por sua vitória na disputa marcial seria o direito a permanecer em Israel para estabelecer “a primeira colônia BDSM (“Bondage”, Disciplina, Dominação, Submissão, uma corrente sadomasoquista) na costa mediterrânea.”

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Fábrica de Estrelas

O Eurovision, ou Festival Eurovisão da Canção, acontece todos os anos desde 1956 e lançou artistas mundialmente famosos, como Céline Dion e a banda ABBA. Todos os países da Europa, além de convidados como Israel e a Austrália, fazem seletivas internas e elegem um representante para o concurso continental.

Tradicionalmente, seis países estão automaticamente classificados para a final. São eles os “Big Five”, França, Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido, participantes mais antigos, e o vencedor da edição anterior, neste ano, os israelenses.

Os outros finalistas são escolhidos em duas semifinais, que serão realizadas nos dias 14 e 16 de maio. Os dez melhores em cada uma delas se apresentará na grande final, no dia 18, que contará com Madonna como atração do intervalo.

Depois de novas apresentações, os 26 países na disputa tem que distribuir pontos para os outros concorrentes. Representantes da indústria fonográfica de cada nação podem dar de 1 a 12 pontos para cada participante. O público também da seus pontos por telefone ou SMS, mas nem eles nem os profissionais podem dar votos para sua própria nação.

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Porta-vozes do júri profissional de cada país revelam as pontuações que eles atribuíram aos outros na transmissão ao vivo. Depois, são reveladas as médias dos pontos dos espectadores, do país com a média mais baixa para a mais alta, até que seja revelado o vencedor.

(Com AFP)

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