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Irã aproveita protestos no Egito e na Tunísia para realizar número recorde de execuções

Com as atenções voltadas para as manifestações, uma população carcerária inflada e a proximidade do aniversário da Revolução Islâmica, o regime viu a situação ideal para executar 97 pessoas no período de um mês

Por Manuela Franceschini
13 fev 2011, 09h59

O dia 19 de dezembro de 2010 entrou para a história do Irã com a execução de 22 pessoas em apenas 24 horas. Trata-se de uma das datas com as estatísticas mais elevadas no que se refere à aplicação da pena de morte no país. No mês de janeiro, o índice continuou a subir, batendo um novo recorde: 97 pessoas executadas. Elas foram condenadas pelo arbitrário sistema judicial iraniano por tráfico de drogas. O número é o triplo do registrado no mesmo período há um ano, segundo um levantamento da ONG International Campaign for Human Rights no Irã. Com a dificuldade de se obter dados oficiais em um regime tão fechado, os números levantados por organizações internacionais que defendem os direitos humanos são a única fonte de informação sobre o que se passa na República Islâmica.

Se continuar neste ritmo, o Irã terá realizado mais de 1.000 execuções até o fim de 2011. E o motivo não é apenas a rotineira tirania do regime, conforme apontam analistas ouvidos pelo site de VEJA. Um conjunto de fatores provocou o aumento alarmante das execuções: o mundo voltado para os conflitos no Egito e na Tunísia, a proximidade do 32º aniversário da Revolução Islâmica e um problema doméstico: uma população carcerária inflada.

Tunísia e Egito – Com as crises políticas nos países árabes, o governo do Irã pôde executar prisioneiros de maneira silenciosa, sem chamar a atenção da imprensa. “Como a atenção internacional estava muito ocupada com Egito e Tunísia, o regime iraniano aproveitou para colocar em prática sua política desumana”, diz a iraniana Mina Ahadi, porta voz do Comitê Internacional contra a Execução e do Comitê Internacional contra o Apedrejamento.

Ainda assim, a Organização das Nações Unidas (ONU) chegou a se manifestar sobre o assunto e declarou perplexidade. A entidade disse que, em vez de atender aos apelos da comunidade internacional, as autoridades iranianas ampliaram o uso da pena de morte por meio de uma Justiça obscura.

Protestos – A ocasião também foi oportuna para os opressores mostrarem que os iranianos devem, sim, temer o regime. De acordo com Mina, há muitas pessoas desempregadas no Irã, os índices de pobreza e o preço dos alimentos aumentaram, e a população está insatisfeita. “O regime tem medo de uma nova revolução e tenta mostrar com as execuções que é ele quem manda. Essa é uma política muito bem marcada”, afirma.

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O 32º aniversário da Revolução Islâmica no Irã, comemorado no dia 11 de fevereiro, é uma data tensa, em que a oposição costuma organizar manifestações contra o regime. As tentativas do governo de frear esses protestos são diversas. Em 2010, a velocidade da internet foi reduzida em todo o país, o acesso às contas de e-mail foi dificultado e forças policiais foram espalhadas pelas ruas, agredindo líderes opositores. Dezenas de manifestantes ficaram feridos.

Se diante do mundo o Irã se posicionou a favor dos manifestantes do Egito e da Tunísia – pela “islamização do planeta” – , dentro do país a política é outra: deixar claro, pela força, a intolerância a protestos. “É um excelente momento para eles reforçarem o islamismo e também mostrarem sua autoridade dentro do próprio país”, avalia Ann Harrison, da Anistia Internacional. As manifestações no Egito, que pedem a queda do presidente Hosni Mubarak, contam também com o apoio da Irmandade Muçulmana, a maior e mais antiga organização islâmica do país.

População carcerária – Uma questão prática soma-se aos motivos políticos para o aumento das execuções. “Além de querer mostrar poder diante dos conflitos no Egito e na Tunísia, há o problema no sistema carcerário do Irã. Houve um aumento do número de presos e o regime simplesmente decidiu apagá-los”, diz Hadi Ghaemi, diretor-executivo da Campanha Internacional pelos Direitos Humanos no Irã. “Esse extermínio não continuará, no entanto, se houver uma reação internacional realmente forte.”

A maneira como o Irã rebateu as críticas internacionais foi a saída clássica usada pelo país do presidente Mahmoud Ahmadinejad. “A série de execuções não é assunto do resto do mundo”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Ramin Mehmanparast. Ele também informou que 80% das pessoas enforcadas eram traficantes de drogas e lançou mão de uma ironia. “Se o Irã não combater o tráfico de drogas, a Europa e o Ocidente serão atingidos”, disse, solidário.

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