Índia envergonha-se de série de estupros, diz premiê
Narendra Modi pediu que as famílias conscientizem os filhos sobre os direitos das mulheres. Também defendeu a construção de banheiros
A Índia se envergonha da série de estupros e ataques contra mulheres no país, afirmou nesta sexta-feira o primeiro-ministro Narendra Modi, em seu primeiro discurso no Dia da Independência como premiê. “Abaixamos a cabeça de vergonha quando ouvimos sobre estupros. Por que não podemos evitar isso?”, questionou o premiê, pedindo que as famílias conversem com seus filhos sobre os direitos da mulher, destacando a necessidade de se valorizar o papel delas no país e defendendo o fim do aborto de fetos femininos.
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“Quando uma filha vai sair, os pais perguntam onde ela está indo. Mas quando um filho volta para casa, alguém se atreve a perguntar de onde ele está vindo? Ele pode ter estado com as pessoas erradas, fazendo coisas erradas. Afinal, uma pessoa que estupra é filho de alguém. Por que os pais não aplicam para seus filhos o mesmo critério de bom comportamento destinado às suas filhas?”, disse, em declarações reproduzidas pelo jornal britânico The Guardian.
O brutal estupro coletivo de uma estudante na capital do país, em dezembro de 2012, provocou uma série de protestos e resultou em mudanças na legislação, tornando mais severas as punições contra crimes sexuais. As alterações, no entanto, não tiveram o esperado resultado de diminuir o número de ataques, que continuam frequentes e ainda chocam a população. O primeiro-ministro cobrou uma mudança de atitude. “A lei tomou seu curso, mas cada pai tem a responsabilidade de ensinar seus filhos a diferença entre o certo e o errado”.
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Banheiros – Modi também lamentou as péssimas condições sanitárias da Índia e prometeu criar um país mais seguro, limpo e saudável para as mulheres e os mais pobres. Ele pressionou políticos a garantirem a construção de banheiros nas residências e sanitários separados para meninos e meninas nas escolas. Em maio, duas jovens foram encontradas enforcadas em uma árvore depois de terem sido vítimas de um estupro coletivo quando iam para um banheiro no meio do mato por não terem sanitário dentro de casa.
Aproximadamente metade da população de mais de 1,2 bilhão de habitantes vive nas mesmas circunstâncias. “Estamos no século XXI e ainda não há nenhum dignidade para as mulheres, elas têm de esperar a escuridão cair para ir para fora defecar em espaços a céu aberto. Podem imaginar os problemas que elas têm de enfrentar por causa disso?”
As declarações relacionadas às questões de gênero foram as que mais entusiasmaram os que acompanharam o discurso na capital Nova Délhi. E destoaram de afirmações irresponsáveis de algumas autoridades indianas, algumas das quais chegaram a culpar as próprias mulheres pelos ataques de que são vítimas.
Ao contrário de antecessores, o premiê não leu um discurso previamente escrito. Ele também dispensou a estrutura à prova de balas no pódio. Resta transformar suas palavras em ações que, de fato, melhorem a situação da população em geral e das mulheres em especial. Estatísticas oficiais apontam mais de 240.000 casos de abusos contra mulheres registrados no país em 2012. Ativistas, no entanto, ressaltam que o número não representa o total de crimes, uma vez que boa parte não chega a ser denunciada às autoridades.