Incêndios misteriosos amedrontam moradores de Berlim
Às vésperas das eleições municipais na Alemanha, capital acumula perto de 500 veículos queimados este ano. Especialistas vêem relação com Londres

O prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, em campanha pela reeleição no pleito de 18 de setembro, admite não ter solução para os incêndios em série. “Não temos como vigiar a cidade inteira”
Às vésperas das eleições para prefeito, a disputa eleitoral em Berlim perdeu o destaque. Nas últimas semanas, o costume – necessário – entre os berlinenses é buscar informação, na internet, no rádio e na TV, sobre os carros incendiados na noite anterior. O problema que começou como um protesto criminoso isolado evoluiu para uma incômoda rotina. Desde o começo do ano mais de 500 carros já foram queimados na cidade. A situação se agravou há cerca 15 dias, e especialistas acreditam que a intensidade dos ataques foi influenciada pela ação de vândalos na Inglaterra.
A chefe de polícia de Berlim, Margarete Koppers, acredita que os carros incendiados nesta nova etapa sejam um ato simbólico. “Até 2009, o crime era atribuído a ativistas de extrema esquerda que protestavam contra a especulação imobiliária. E eram queimados carros de luxo de fábricas geralmente alemãs, como Mercedes-Benz, Volkswagen e BMW. Os criminosos atuais continuam atacando em sua maioria carros alemães, mas a política parece não ser mais o motivo. Nos últimos dias, os carros queimados não são de luxo e a maioria dos ataques ocorreu em vários bairros da cidade, desde os de classe operária até os de classe média alta”, afirma Margarete.

Entre os políticos, há os que atribuem a destruição a terroristas. Este é, por exemplo, o diagnóstico de Wolfgang Bosbach, da União Democrática Crista (CDU). A Fração do exercito Vermelho, RAF, mais conhecida como Grupo Baader-Meinhof – organização guerrilheira alemã de extrema-esquerda, que coordenou ataques de extrema violência em 1970 – também começou suas ações com incêndios.
A administração da cidade oferece recompensa de 5 mil euros (cerca de 11.500 reais) para quem der informações que contribuam com a identificação ou prisão dos criminosos. O incêndio de carros também chegou a outras cidades. Na semana passada, automóveis foram queimados em Dusseldorf, Hamburgo, Chemnitz, Colônia, Munique e Marburg.

Paralelamente aos incêndios de carros, bombas de pequeno porte explodiram na última semana deixando feridos, e carrinhos de bebê vêm sendo incendiados desde o fim do ano passado – ao todo, 50 casos foram registrados. Nesses ataques, já houve três mortes: as de um casal e um bebês. Berlim tem inúmeros prédios residenciais sem elevador. Quem vive na cidade e tem crianças pequenas costuma deixar o carrinho no térreo, na entrada do prédio.
A queima de veículos durante a noite não chega a ser uma novidade na cidade. De 2007 a 2010, 633 carros foram incendiados. Mas, na onda atual de incêndios, a motivação permanece incógnita por um detalhe: não há presos. O prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, em campanha pela reeleição no pleito de 18 de setembro, admite não ter solução para os incêndios em série. “Não temos como vigiar a cidade inteira”, disse o prefeito, em relação à ação policial.
Mesmo com o elevado número de policiais para o patrulhamento noturno e investigação, cerca de 250, incluindo oficiais vestidos à paisana, mais o apoio de 150 policiais federais e helicópteros, o vandalismo não deu trégua. ‘Matéria prima’ para o banditismo não falta: a maioria dos 1,2 milhões carros registrados na cidade pernoita na rua, pois grande parte dos prédio de Berlim não tem garagem.
Wowereit também convocou os berlinenses a ficar atentos. O apelo do prefeito surtiu algum efeito na última sexta-feira, mas ainda sem prisões: por volta das 23h, no bairro de Kreuzberg, um morador vigilante viu um suspeito se encaminhar para um estacionamento. Logo depois um Mercedes pegou fogo. A testemunha, acompanhada de outros moradores, conseguiu apagar o fogo, mas não conseguiu pegar o criminoso.