Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Hidroelétrica fará desaparecer cidade turca de 10.000 anos

Monumentos históricos serão retirados do local, em uma mudança faraônica; vídeo mostra o transporte do mausoléu de Zeynel Bey

Por Reuters
Atualizado em 20 out 2017, 18h49 - Publicado em 20 out 2017, 18h45

O Rio Tigre serpenteia entre as ruínas e minaretes de Hasankeyf, a cidade turca pela qual passaram romanos, bizantinos e tribos túrquicas. Mas esta cidadela de ao menos 10.000 anos de antiguidade será engolida pelas águas em breve. Quando terminarem as obras da gigantesca usina hidroelétrica de Ilisu, o rio sairá de seu curso, apagando Hasankeyf e suas pontes de pedra da paisagem.

O projeto do governo pretende fornecer energia e irrigação necessárias para o desenvolvimento do sudeste da Turquia, uma zona populada sobretudo por curdos, que durante muito tempo foi deixada de lado pelo governo central.

Os monumento históricos ficarão a salvo em um lugar seguro, após uma mudança faraônica que lembra as que foram realizadas nos anos 1960 no Alto Egito por Gamal Abdel Nasser durante a construção da represa de Assuã no Nilo.

Mas para os moradores de Hasankeyf, é uma calamidade. “Vamos tentar lutar o quanto pudermos para impedir a devastação da beleza e da história desta cidade”, de 6.000 habitantes, afirma Mehmet Emin Aydin, um comerciante local. Com as obras da represa quase concluídas, “não há possibilidade de voltar atrás”, lamenta Arif Ayhan, da associação do comércio e do turismo em Hasankeyf. “Em vez de ignorar os habitantes, tinham que ter escutado eles. As pessoas daqui têm a impressão de que o Estado as deixou de lado”.

Operação faraônica

O processo de contenção da água, que dará lugar a um lago artificial que em alguns meses engolirá Hasankeyf, começará em 31 de dezembro. Por isso a mudança dos monumentos já começou. Em uma operação espetacular, as autoridades deslocaram, em maio, o mausoléu de Zeynel Bey, construído no século XV em homenagem a uma das personalidades da tribo Ak Koyunlu, que na época controlava a Anatólia Oriental.

O comboio precisou de cinco horas para percorrer os dois quilômetros que separam Hasankeyf da nova localização da construção medieval, uma tumba cilíndrica coberta por uma cúpula.

Continua após a publicidade

As autoridades esperam que este “parque arqueológico” situado à beira do futuro lago artificial se transforme em uma atração turística. Mas alguns criticam que se dê continuidade ao projeto sem se preocupar em salvaguardar a herança histórica. A federação europeia do patrimônio cultural Europa Nostra denuncia que o projeto foi feito “sem consultar suficientemente as comunidades locais nem os especialistas” e que, nestas condições, os outros monumentos correm “um grande perigo”.

‘Grande benefício’

A publicação nas redes sociais, em agosto, de vídeos em que os habitantes e ativistas mostravam o que era, segundo eles, engenheiros dinamitando a escarpa de Hasankeyf geraram polêmica. Apesar destes vídeos, o governador da província de Batman negou o uso de explosivos.

Como protesto, o deputado opositor Mehmet Ali Aslan se acorrentou a uma pedra do penhasco.

Continua após a publicidade

A primeira pedra da usina de Ilisu, na província vizinha de Mardin, foi colocada em 2006, quando o atual presidente, Recep Erdogan, era primeiro-ministro. Ele prometeu que este colosso traria “um grande benefício” aos habitantes.

Ilisu faz parte do Projeto do Sudeste da Anatólia, que quase caiu por terra por uma série de incidentes. Em 2009, vários investidores suíços, austríacos e alemães se retiraram dele, estimando que carecia de garantias em termos de proteção do meio ambiente e do patrimônio. O governo turco reagiu dizendo que seria financiado com a ajuda de bancos turcos.

O governo se comprometeu a realojar os habitantes de Hasankeyf, e foram construídas mais de 700 casas na parte alta do povoado. “Não quero nada do Estado, só quero que não toque em Hasankeyf”, protesta com tristeza Ayvaz Tunç.

“A única coisa que peço é que Hasankeyf fique como está, com todo seu esplendor”, acrescenta. “Quero morar aqui. Não quero que a cidade desapareça sob as águas”.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.