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Henri Falcón, adversário de Maduro, carrega o estigma de ‘traidor’

Militar reformado tenta evitar a reeleição do oponente na Venezuela

Por AFP 19 Maio 2018, 12h30

Não sou um traidor. Sou um homem sem complexos”, defende-se Henri Falcón, militar reformado que tenta evitar a reeleição Nicolás Maduro na Venezuela. Seus conflitos com aliados, do chavismo e da oposição, marcam uma corrida política sempre sob suspeita.

Em transformação camaleônica, Falcón passou de acompanhar por duas décadas Hugo Chávez e sua retórica anti-imperialista a desafiar Maduro com as promessas de dolarizar a economia e abrir as portas à “ajuda humanitária” do governo americano de Donald Trump.

Com 56 anos, estatura mediana, cabelos grisalhos e voz serena, nunca hesitou em dar um guinada. De fato, sua candidatura rompeu o boicote de sua última aliada, a opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), que convocou a abstenção nas eleições de domingo, 20 de maio, por considerá-las “fraudulentas”.

“Fez boas gestões. É um homem trabalhador, concentrado na gestão pública mais que em partidos, mas tomou uma decisão errada ao se candidatar”, disse à AFP o deputado opositor Simón Calzadilla, amigo e ex-aliado de Falcón.

O “conflito político” para fazer “novas alianças” caracteriza Falcón, segundo Miguel Mirabal, cientista político radicado em Maryland (EUA), que seguiu de perto a evolução do político.

“A gente não sabe para onde vai. Chavismo? Oposição? É um mistério”, disse à AFP Rafael Rivero, comerciante de 51 anos, vendo passar uma marcha de simpatizantes de Falcón em Barquisimeto, capital do estado Lara (oeste), seu antigo reduto político.

Passado chavista

Advogado de formação, Falcón nunca pensou em entrar para a política até ver Chávez na TV aceitar o fracasso do golpe de Estado, que comandou em 4 de fevereiro de 1992.

“Inclusive foi visitá-lo na prisão”, contou ao jornal El Impulso sua esposa Marielba Díaz, com quem tem quatro filhos.

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Conheceu o ex-presidente em sua passagem pela Força Armada, da qual se retirou em 1991 como suboficial do Exército, e aderiu ao movimento político criado por Chávez após deixar a prisão, embrião do atual Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).

Foi membro da Assembleia Constituinte de 1999, trampolim para assumir o controle de Lara, sua casa, embora tenha nascido em Nirgua, no estado vizinho de Yaracuy.

Forjou sua liderança em oito anos como prefeito de Barquisimeto (2000-2008) e nove como governador de Lara (2008-2017), cargo que conquistou no auge de sua popularidade com 73,5% dos votos.

Seu crescimento foi meteórico. Nas primeiras demonstrações de rompimento com o chavismo, passou de prefeito a governador, oferecendo uma “revolução eficiente”.

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Por ordem de Chávez, expropriou, como prefeito, uma grande zona agrícola. Paradoxalmente, seu repúdio a tomar em Lara armazéns da Polar – a maior empresa de alimentos venezuelana – foi um ponto de distanciamento com o chavismo.

Ao ver sua aproximação com opositores, Chávez lhe disse em público: “Mande-os pro caralho”.

Mas a ruptura era iminente. “A relação entre um chefe de Estado e os governadores e prefeitos não pode se limitar a ordens”, justificou Falcón em sua carta de renúncia ao PSUV em 2010.

“Cavalo de Troia”

Dois anos depois, fundou o partido Avançada Progressista e o inscreveu na MUD. Chávez o chamou então de “traidor”.

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Na MUD foi chefe de campanha de Henrique Capriles nas eleições de 2013, nas quais Maduro venceu por estreita margem. Hoje, essa coalizão o acusa de “fazer o jogo” do presidente.

Diante das críticas de um lado e do outro, Falcón se diz atacado por extremos em um país polarizado.

Sua metamorfose incluiu uma mudança de imagem quando, semanas antes de Chávez morrer de câncer, tirou o bigode que usou por anos.

O presidente (1999-2013) já tinha ungido sucessor Maduro, cujo farto bigode preto foi um símbolo da campanha contra Capriles.

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“É um maratonista, um corredor de longa distância, que carrega uma cruz nas costas: ser visto como um cavalo de Troia”, disse Mirabal à AFP.

Embora em 2017 tenha perdido as eleições pelo governo de Lara para Carmen Meléndez, ex-ministra da Defesa de Maduro, Falcón acredita que sua hora chegou.

Confia em capitalizar o descontentamento popular com a hiperinflação e a falta de produtos básicos, prometendo salários em dólares e a devolução de sítios confiscados.

Para isso, convoca seus eleitores a derrotar seu “pior inimigo”: a abstenção. Mas antes, diz à AFP o cientista político Luis Salamanca, deveria convencer muitos de que não é “um chavista encoberto”.

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