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Grande desafio de Biden será superar herança deixada por Trump nos EUA

Presidente democrata abre um novo capítulo em um país dividido e em crise, que pode demorar anos para se recuperar do último mandato

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 jan 2021, 14h16 - Publicado em 20 jan 2021, 14h10

Joe Biden assume a Presidência dos Estados Unidos com inúmeros desafios. Além da pandemia de coronavírus e da crise econômica deixada pela doença, o democrata ainda precisará enfrentar um país extremamente divido e em polvorosa após quatro anos de governo de Donald Trump. As bases da democracia americana foram profundamente abaladas, e não será fácil reconstruí-las.

Após semanas de discursos inflamados e ameaças de que não deixaria o cargo, Trump por fim se despediu da Casa Branca nesta quarta-feira, 20, mas deixou para trás uma horda de seguidores que ainda não reconhecem a legitimidade de Biden. A reivindicações de fraude nas eleições de novembro, apesar de totalmente infundadas e mentirosas, prometem ser uma das principais heranças do agora ex-presidente republicano.

“Um segmento muito grande do público americano ainda não considera Biden como o presidente legitimamente eleito em uma votação livre e justa, apesar das declarações consistentes dos órgão eleitorais e da certificação do Congresso”, diz James Campbell, cientista político e professor na Universidade de Buffalo, em Nova York. “Esta será uma sombra duradoura sobre a Presidência de Biden”

Em uma cidade sitiada e quase irreconhecível, com 25.000 agentes da Guarda Nacional e reforços policiais chegando de todo país, Biden fez seu juramento em frente à ala oeste do Capitólio, em uma cerimônia sem a tradicional multidão que se aglomera na esplanada para saudar o novo presidente.

A decisão de Trump de não participar da cerimônia de posse e de voar para a Flórida pela manhã, sem dar as boas-vindas ao novo inquilino da Casa Branca, mostra a tensão que o país vive. O mandato do republicano foi marcado por escândalos e pela rotatividade permanente de seu gabinete. Em quatro anos, o Congresso abriu dois processos de impeachment contra ele, o último por “incitamento à insurreição” contra o Capitólio.

A tomada da sede do Congresso foi a gota d’água nas fileiras republicanas, e vários de seus líderes decidiram abandonar o presidente. O ato de violência executado pelos seguidores do ex-presidente deixou ao menos cinco mortos, entre eles um policial.

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Ainda nesta quarta-feira, o governo Biden vai anunciar 17 decretos para reverter várias das políticas do governo Trump: da construção de um muro na fronteira do México aos ataques ao multilateralismo que culminaram no abandono do Acordo de Paris para o clima e sua decisão de deixar a Organização Mundial da Saúde (OMS) em meio a uma pandemia.

As marcas deixadas pelo governo de Trump na democracia americana, porém, devem ser mais difíceis de serem apagadas. Em apenas quatro anos, o republicano desrespeitou todo um corpo de leis, normas, práticas e crenças desenvolvidas ao longo da história do país e incentivou seus devotos a seguir seu exemplo.

O desrespeito às instituições levou, em última instância, à invasão do Capitólio e à abertura de um segundo processo de impeachment contra Trump. O republicano é o único presidente na história do país a enfrentar duas tentativas de afastamento no Congresso.

Na área da imigração, instaurou políticas duras cujas consequências para as famílias deportadas e separadas nas fronteiras podem levar anos para serem revertidas. Durante seu mandato, o republicano ainda enfrentou alguns dos maiores protestos contra o racismo sistêmico e a violência policial já vividos pelo país. As manifestações chamaram a atenção para um problema histórico, mas também traçaram mais uma linha que separa os americanos mais progressistas dos seguidores da extrema direita.

Há ainda marcas de Trump que permanecerão na política externa, pelo menos durante os primeiros meses do novo governo, como o endurecimento da estratégia em relação a China e a manutenção da embaixada em Israel em Jerusalém. Biden tem ainda o desafio de reestabelecer os laços quebrados com a diplomacia mundial e recolocar os Estados Unidos novamente no centro do sistema multilateral americano.

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“Trump pregou o unilateralismo, isolou os Estados Unidos e nos tirou da liderança mundial em muitas áreas”, diz Dewey Clayton, analista político e professor da Universidade de Louisville. “O mundo está menor do que já foi e é preciso que os países trabalhem juntos para superar a crise atual”.

A crise do Covid-19, uma das principais causas da derrota trumpista, evidenciou ainda a baixa capacidade de coordenação e implementação de ações efetivas para parar a propagação do vírus e o avanço das mortes, aliado ao discurso negacionista. Os efeitos da má gestão, porém, caem totalmente sobre o colo de Biden nos próximos meses.

Na frente socioeconômica, as desigualdades são consideradas preocupantes, uma vez que o problema vem se deteriorando nas últimas três décadas e foi agravado após a crise financeira de 2008 e também na atual pandemia do Covid. A eleita para chefiar o Departamento do Tesouro, Janet Yellen, pediu ao Congresso que olhe agora para os gastos e se preocupe com o déficit, dada a magnitude da crise múltipla que o país atravessa.

Para tentar superar todos os obstáculos, sejam eles mais óbvios ou mais obscuros, Biden está prestes a retomar a construção de alianças tradicionais. As audiências no Senado para confirmar os indicados para compor o gabinete começaram terça-feira, para preparar o caminho para a equipe lidar com as múltiplas crises que o país enfrenta.

“Após quatro anos de governo de Donald Trump, ficou provado que precisamos de uma pessoa com experiência e educação política à frente do país para caminharmos para frente”, diz Dewey Clayton. “Biden tem uma longa carreira no Senado e na vice-presidência e é conhecido como um grande conciliador, o que pode nos ajudar nesse momento”.

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