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Governo Trump concluiu apenas 60% da obra do muro na fronteira com México

Construção era principal promessa de campanha do republicano, mas presidente encontrou dificuldades para obter financiamento no Congresso

Por Vinícius Novelli
28 out 2020, 09h17

Quando ainda era candidato, em 2016, Donald Trump dedicou boa parte de seus comícios a apontar e criticar as consequências do grande fluxo imigratório que se dirige anualmente aos Estados Unidos. O republicano, então, prometeu o que viria a se tornar o principal mote de sua campanha: a construção de um muro na fronteira com o México. Apesar de ter endurecido as regras de imigração ao longo de seus quatros anos de mandato, Trump instalou apenas oito novos quilômetros de muro em áreas não protegidas da divisa.

O presidente originalmente havia prometido 819 quilômetros de muro construído até o final do mandato. Posteriormente, a meta foi reduzida para 724 quilômetros. Somente 60% das obras foram concluídas até agora. 

Segundo a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos, apenas oito novos quilômetros de muro foram erguidos em áreas onde não havia nenhum tipo de barreira. Outros 430 quilômetros foram construídos para substituir cercas elétricas e barreiras simples, reforçando as áreas que já eram protegidas. 

Atualmente, 252 quilômetros estão em fase de pré-construção. Ao todo, as proteções na fronteira, que vão de muro a patrulhamento por satélite, abragem 1.100 dos cerca de 3.000 quilômetros de fronteira.

Logo no primeiro mês de seu mandato, o presidente publicou decreto autorizando a construção do muro. A Casa Branca, porém, enfrentou grandes problemas para arrecadar os fundos necessários para a obra, já que o orçamento anual do governo necessita de aprovação no Congresso.

Diante das adversidades, Trump prometeu que faria com que o México pagasse pela construção. O ex-presidente mexicano Henrique Peña Neto disse que isso estava fora de cogitação. O americano, então, ameaçou taxar em 20% os produtos importados do país vizinhos, algo que também não surtiu efeito.

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A forma que o republicano encontrou de angariar recursos foi pressionar senadores e deputados. “Para que esse dinheiro fosse direcionado para a construção do muro, Trump precisa defender junto no Congresso para que esses recursos sejam alocados da maneira que ele quer”, avalia a Fernanda Magnotta, coordenadora de Relações internacionais da FAAP. “Se você faz a vontade do presidente aprovando o muro, em contrapartida você tem que tirar de outro lugar. E aí entrar um discussão sobre quem vai se responsabilizar pela falta que esse recurso vai fazer em outras frentes”, diz.

Na Constituição americana, é prerrogativa do Congresso elaborar o orçamento. Ao presidente cabe fazer as correções pontuais ou sugestões no texto. Caso o orçamento não seja de forma alguma aprovado, o governo federal é “desligado”. Foi o que aconteceu entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019.

Trump pedia 5 bilhões para financiar o muro, mas o Congresso se recusava a aprovar uma quantia tão alta. O republicano não cedeu e o governo federal ficou 34 dias sem funcionar, período no qual mais de 800.000 funcionários públicos foram forçados a tirar férias não remuneradas ou a trabalhar sem receber salário.

A máquina publica voltou a operar após um acordo da Casa Branca com o Congresso, que cedeu ao presidente 1,3 bilhões de dólares dos 5 que pedira. Trump saiu perdendo, mas já em fevereiro declarou emergência nacional na fronteira com o objetivo de desviar 8 bilhões de dólares das agências federais para a obra. Após a Câmara dos Deputados e o Senado vetarem a decisão, o presidente teve que voltar atrás na própria ordem.

Trump, porém, conseguiu financiar a sua promessa de campanha por meio de decisões judiciais e manobras no orçamento de agências federais. O presidente chegou a redirecionar 1 bilhão de dólares do Pentágono. Por fim, o republicano conseguiu arrecadar 15 bilhões de dólares para a construção, mas não terminou a obra.

A falta de um muro, porém, não impediu o presidente de endurecer as regras imigratórias. Sua gestão foi marcada por recordes nas prisões de imigrantes na fronteira – 460.294 entre abril e outubro de 2019 –, e em denúncias de violações de direitos humanos em centros de detenção superlotados e com péssimas condições de vida. Crianças também foram separadas de seus pais e, até o momento, mais de 500 ainda não foram reunidas.

No cenário regional, a diplomacia americana conseguiu que o México impedisse que imigrantes da América Central entrassem em território mexicano com o objetivo de cruzar a fronteira americana. Seu governo ainda proibiu qualquer solicitante de refúgio de aguardar a emissão dos documentos dentro dos Estados Unidos.

Vital para 2016, estrela apagada em 2020. Durante os três debates contra os rivais democratas – sendo um deles entre o vice-presidente, Mike Pence, e a senadora Kamala Harris –, o muro sequer foi mencionado. Para a campanha de Trump, não falar sobre o muro é não correr o risco de colocar mais uma pedra no caminho da reeleição.

“Trump continua com a mesma intenção, e o eleitorado dele continua sensível quanto à imigração. Só que ele sabe que se colocar esse assunto em debate, ele será cobrado por não ter entregado o muro”, diz Magnotta .”Ele prefere não se expor”.

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