Alfonso Fernández.
Washington, 21 abr (EFE).- O Fundo Monetário Internacional (FMI) insistiu nesta quarta-feira sobre a necessidade de equilibrar ajustes com estímulos econômicos para conseguir uma consolidação fiscal ‘a médio prazo’ e estimou que as economias avançadas voltarão a crescer normalmente em dois ou três anos.
‘Em muitos países das economias avançadas são necessárias mais ações para alcançar uma consolidação fiscal admissível, evitando medidas contracionistas’, explicou o Comitê Financeiro e Monetário do FMI em comunicado divulgado em Washington, na conclusão dos encontros de primavera do fundo e do Banco Mundial (BM).
Como ressaltou ao longo da semana de atividades, o FMI advertiu sobre os perigos de ajustes fiscais rápidos que danificam a recuperação frágil em alguns países. ‘É necessária a consolidação fiscal em médio prazo, tanto nos Estados Unidos como na Europa, para voltar ao crescimento normal em dois ou três anos’, afirmou em entrevista coletiva Tharman Shanmugaratnam, presidente do Comitê do FMI e também ministro das Finanças de Cingapura.
As previsões do fundo para o crescimento mundial para 2012 e 2013 foram levemente elevadas, em 3,5% e 4,1%, dois décimos acima de suas últimas estimativas de janeiro. A alta foi impulsionada pelos sinais positivos da economia dos EUA e dos emergentes. No entanto, a Europa fechará este ano em recessão, com uma contração do 0,3% e crescerá 0,9% em 2013.
Enquanto isso, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, falou sobre o esforço internacional dos últimos meses, especialmente na Europa, para atender as novas tensões financeiras e destacou o fortalecimento do ‘guarda-chuva global’ com as contribuições adicionais ao FMI.
Lagarde classificou os US$ 430 milhões adicionais comprometidos na última sexta-feira pelo G20 (que reúne as principais economias desenvolvidas e emergentes) e os membros do FMI como a ‘grande conquista’ da reunião. ‘Para as reformas em longo prazo e a consolidação fiscal é bom ter um grande guarda-chuva’, assegurou Lagarde, que tinha estabelecido a meta de US$ 400 milhões como um desafio quase pessoal.
Apesar de evitar falar sobre as dúvidas em relação a Espanha e Itália, que sofreram nos últimos dias uma alta nas gratificações de risco de suas dívidas soberanas, Lagarde apoiou as reformas e os ‘sérios esforços’ aplicados pelos Governos desses países.
O único ponto que ainda ficou pendente na reunião foi a contribuição da China, Brasil e Rússia, que apoiaram o reforço da reserva do FMI, mas evitaram concretizar um número exato.
Outro foco da reunião foi a insistência das nações emergentes, com China e Brasil a frente, para acelerar o processo de reforma do sistema de cotas (que determinam o poder de voto e o acesso a financiamento) no seio do FMI ao considerá-lo ‘lento e limitado’.
O ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, disse que o ‘equilíbrio atual é profundamente prejudicial para a credibilidade da instituição’. Como exemplo, Mantega ressaltou a parcela de Luxemburgo superior à da Argentina ou África do Sul, ou da Bélgica superior à Indonésia ou Nigéria.
Diante do assunto, os EUA, o maior contribuinte e com a maior percentagem de voto, se limitou a apoiar as instituições multilaterais sem comprometer mais fundos, algo especialmente complicado em ano de eleições presidenciais.
No entanto, o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, reconheceu que a reforma é ‘essencial para melhorar a legitimidade e efetividade do fundo’ e solicitou o avanço de uma reforma por parte dos europeus.
Essa partilha de poder deve centralizar as discussões da próxima reunião anual do FMI em outubro, em Tóquio. EFE