Filho de Kadafi foi traído por guia contratado para a fuga
Saif al Islam prometeu pagar R$ 2,4 milhões por ajuda para chegar ao Níger
O filho do ditador Muamar Kadafi preso no sul da Líbia há três dias só foi capturado graças à traição de um guia que ele havia contratado para ajudá-lo a fugir. Saif al Islam prometeu pagar 1 milhão de euros (cerca de 2,4 milhões de reais) para que Yussef Saleh al Hotmani cruzasse a fronteira do Níger com ele. Mas, quando estavam a caminho, o guia o entregou às forças de segurança líbias.
Entenda o caso
- • A revolta teve início no dia 15 de fevereiro, quando 2.000 pessoas organizaram um protesto em Bengasi, cidade que viria a se tornar reduto da oposição.
- • No dia 27 de março, a Otan passa a controlar as operações no país, servindo de apoio às tropas insurgentes no confronto com as forças de segurança do ditador, que está no poder há 42 anos.
- • Após conquistar outras cidades estratégicas, de leste a oeste do país, os rebeldes conseguem tomar Trípoli, em 21 de agosto, e, dois dias depois, festejam a invasão ao quartel-general de Kadafi.
- • A caçada pelo coronel terminou em 20 de outubro, quando ele foi morto por rebeldes em sua cidade-natal, Sirte. Um mês depois, seu filho e herdeiro político Saif al Islam foi capturado durante tentativa de fuga.
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Al Hotmani disse que informou o comando revolucionário no sul do país por onde passaria o comboio do filho do ditador, formado por dois carros, na noite de sexta-feira. Os veículos foram foi abordados numa parte do deserto cercada por montes, local onde o guia combinou a abordagem com os combatentes – cinco deles eram da própria tribo de Al Hotmani. Saif estava no primeiro carro.
“Quando nós chegamos no local escuro, o tiroteio foi muito preciso, levou apenas cerca de meio minuto para capturar o primeiro carro”, disse o guia, que instruiu propositalmente os integrantes do comboio a deixar um espaço de três quilômetros entre os veículos para não levantar suspeitas. Na verdade, a estratégia deu aos integrantes da emboscada tempo para se reagruparem enquanto esperavam o segundo carro. Vestido com túnica e lenço marrons, trajes típicos dos beduínos, Saif al Islam tentou fugir, mas foi capturado. “Nós o tratamos como um prisioneiro de guerra”, contou o guia.
Julgamento – Detido, Saif al Islam aguarda na Líbia seu julgamento. Nesta terça, o ministro da Justiça e Direitos Humanos do país, Mohamed Allagui, afirmou que ele não será entregue ao Tribunal Penal Internacional (TPI), contrariando expectativa da corte sediada em Haia, na Holanda. “Em uma palavra, não o entregaremos”, enfatizou Allagui, pouco depois do promotor Luis Moreno Ocampo chegar ao país para discutir o caso com o Conselho Nacional de Transição (CNT).
O tribunal emitiu em 27 de junho a ordem de captura do filho de Kadafi, por crimes contra a humanidade. Ele, que era considerado herdeiro político do ditador, teria assumido “um papel-chave para executar um plano” concebido pelo pai para “reprimir por todos os meios” o levante popular, de acordo com a denúncia do TPI. O primeiro-ministro interino da Líbia, Abdel Rahim al Kib, já confirmou que ele permanecerá no país, com a promessa de que terá “um julgamento justo, no qual os direitos e a lei internacional estejam garantidos”.
O ditador também era acusado de crimes contra a humanidade, em processo aberto na mesma época do de seu filho e encerrado somente nesta terça-feira pelo TPI. A ordem de prisão só foi retirada após a apresentação do atestado de óbito, de Muamar Kadafi, morto em outubro. “O propósito de uma causa penal é determinar a responsabilidade individual, por isso a jurisdição não pode ser exercida sobre uma pessoa falecida”, explica um documento divulgado pela corte.
(Com agências EFE e France-Presse)