Fidel Castro e seu tempo
Ele incendiou a imaginação revolucionária, inseriu Cuba no mapa mundial, exportou a luta armada — e morreu em franco descompasso com sua época
O jipe militar verde que levava a urna com as cinzas de Fidel Castro já passara fazia algum tempo, mas os cubanos com uniforme de repartições públicas que haviam sido trazidos em ônibus fretados para saudar o cortejo fúnebre no Malecón, na orla de Havana, às 6 da manhã da quarta-feira 30, não saíam do lugar, como se esperassem ordens. Finalmente, uma mulher olhou em volta e arriscou: “Já se pode ir”. Cinquenta e sete anos e onze meses depois que Fidel fez a marcha da vitória entre Santiago de Cuba e Havana — no fim da qual o então líder revolucionário foi aclamado pelo povo por ter derrubado a ditadura de Fulgêncio Batista —, seu corpo iniciou o trajeto inverso em um contexto melancólico.
Ao longo dessas quase seis décadas, o rebelde pertinaz inseriu Cuba no mapa do mundo, despertou sonhos planetários de igualdade e justiça, incendiou a imaginação de toda uma geração de esquerda, mas acabou criando sua própria ditadura e converteu-se em um tirano turrão, que insistia em condenar seu povo a viver sob um modelo econômico e político abandonado pela maior parte da humanidade há 25 anos. Morto aos 90 anos no último dia 25, em Havana, de causa não revelada, Fidel transmitiu o poder para o irmão Raúl em 2008, mas continuava sendo a bússola que definia os rumos do país.
“Por mais dura e terrível que seja a solução, não há outra.”
Em carta ao presidente soviético Nikita Kruschev, propondo um ataque nuclear aos Estados Unidos se Cuba fosse invadida durante a Crise dos Mísseis (1962)
“Cuba não vai desmoronar, porque não somos frágeis e defendemos nossos ideais sobre bases muito firmes e sólidas.”
Sobre o fim da União Soviética (1991)
“Estamos diante da arma mais poderosa que já existiu, a comunicação.”
Em entrevista, descobrindo a internet com quase vinte anos de atraso (2010)
“O assassinato de um ser humano desarmado e rodeado de familiares constitui um fato detestável.”
Sobre a retomada das relações diplomáticas entre EUA e Cuba (2015)
“Eu não confio na política dos Estados Unidos, nem troquei palavra alguma com eles.”
Sobre a morte do terrorista Osama Bin Laden, no Paquistão (2011)
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