Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

FHC: Brasil perdeu liderança e só lhe resta ter paciência com Venezuela

Regime será derrubado apenas em médio prazo, com as fissuras nas Forças Armadas provocadas pelo colapso econômico

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 12 jun 2019, 19h25 - Publicado em 12 jun 2019, 17h18

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou nesta quarta-feira, 12,  que o Brasil a perdeu capacidade de liderar uma solução pacífica para a crise da Venezuela. Segundo ele, a “posição muito ideológica” do Itamaraty apartou Brasília de possíveis negociações com Caracas, e restou apenas ao setor militar brasileiro contatos fluídos – e valiosos – com as Forças Armadas venezuelanas. Nesse sentido, diz, resta ao Brasil o exercício da “paciência histórica”, sem se precipitar.

“Só nos resta levar com jeito e paciência essa história”, lamentou o ex-presidente durante o debate “Ruptura ou Transição na Venezuela”, na Fundação FHC. “O Brasil tinha capacidade de atuar e precisa voltar a ter. O nosso guia tem de ser o interesse nacional, sem nos precipitarmos em alianças”, completou, referindo-se ao alinhamento do Brasil com a posição dos Estados Unidos nessa questão.

Na avaliação de FHC, há um cerco grande na Venezuela, que poderá levar a uma transformação nas Forças Armadas, ainda coesas em seu apoio ao regime de Nicolás Maduro. Além de se preocupar com a própria questão da saída de Maduro do poder, o Brasil enfrentará o problema de lidar com as forças que venham a se consolidar no país vizinho.

Juan Guaidó é um líder simbólico, não tem força política”, afirmou FHC, referindo-se ao líder oposicionista que se autoproclamou presidente interino do país. “A Venezuela vai ser nossa vizinha para sempre”, completou, para ilustrar a necessidade de equilibrar a crença brasileira nos valores democráticos e do estado de direito com o pragmatismo na condução da política externa para a questão venezuelana.

O embaixador Rubens Barbosa, diretor do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), sublinhou ser a crise na Venezuela uma “questão de segurança nacional” para o Brasil, por suas implicações nas áreas de defesa, financeira e diplomática. Nesse último aspecto, sublinhou, o Brasil, sendo uma potência regional, isolou-se e não tem mais como contribuir para uma solução pacífica.

“A contaminação ideológica colocou o Brasil a reboque de Washington. O Brasil está isolado até mesmo nos Brics (o fórum Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), mudou sua ênfase sobre a questão na Organização dos Estados Americanos e nas Nações Unidas e, no Grupo de Lima, concordou com precedentes perigosos”, afirmou.

Continua após a publicidade

Para o diretor do Irice, o governo de Jair Bolsonaro choca-se com a própria Constituição brasileira ao reconhecer um governo paralelo, na Venezuela, que não detém nem o controle território nem a capacidade de adotar políticas. Também por seu apoio às sanções americanas contra a estatal petroleira PDVSA e pelo reconhecimento dos representantes de Guaidó na OEA, na ONU e no próprio Brasil.

Segundo Barbosa, a posição do Brasil “é incômoda” porque não está assentada no interesse nacional. O país deveria atuar para mitigar e para não aprofundar a crise e influir nas negociações entre o regime e a oposição mediadas pela Noruega. “O Brasil está alijado desse e dos outros processos”, lamentou.

“O Itamaraty está atuando como um agente provocador. Está com um discurso ultrarradical, a reboque do Grupo de Lima e faz restrições às negociações promovidas pela Noruega entre o governo de Maduro e a oposição, porque o chanceler Ernesto Araújo as considera como manobras dilatórias.”

Asfixia

O grande impasse vivido pelo Brasil neste momento diz respeito ao fato de Nicolás Maduro resistir às pressões externas em favor de uma transição democrática e até mesmo às sanções aplicadas pelos Estados Unidos, em especial sobre pagamentos devidos à PDVSA e a seus ativos, segundo o ex-ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Sérgio Amaral, último embaixador do Brasil em Washington.

Continua após a publicidade

“A asfixia financeira não levará a Venezuela ao colapso em curto prazo. Mas, sim, em médio prazo”, afirmou Amaral. “O colapso total da economia da Venezuela poderá levar à fissura das Forças Armadas, que é como acabam os regimes ditatoriais sem intervenções militares externas”, completou.

Amaral ressaltou que a possibilidade de intervenção militar americana saiu do radar. O tema não está entre as prioridades da Política Estratégica de Defesa dos Estados Unidos, que deixou de se concentrar no terrorismo para voltar a ter como alvos as grandes potências. Mais especificamente, a China. Também pesou a avaliação de que uma iniciativa militar teria repercussão negativa.

Para o embaixador, entre os aliados do regime de Caracas, a China e a Rússia não causam preocupações. A questão está na atuação de Cuba, que mantém o aparato de segurança de Maduro e garante a unidade do setor militar venezuelano. Daí a retomada de sanções dos Estados Unidos à ilha.

Amaral relatou ter mantido conversas com representantes diplomáticos de Cuba e da Venezuela em Washington no ano passado para tratar de um tema de interesse do Brasil – uma saída para Maduro e seus principais colaboradores, para abrir caminho à transição democrática. Chegou a fazer gestões com autoridades dos Estados Unidos, que sinalizaram com um aval a essa solução. “Parei esses contatos com a iminência da mudança do governo (no Brasil)”, afirmou. “O Brasil poderia ter desempenhado um papel maior se tivéssemos tido mais tempo.”

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.