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Feridos nos protestos desafiam sistema de saúde frágil de Gaza

Hospital Al-Shifa recebeu boa parte dos manifestantes atingidos pelo Exército de Israel; energia elétrica está ligada durante quatro a seis horas por dia

Por EFE 23 Maio 2018, 14h07

Muletas e pinos ensanguentados nas pernas, como os usados pelo jovem Wadie Ras, identificam os feridos nos recentes protestos dos palestinos nos hospitais da Faixa de Gaza. Atendidas em sistema frágil de saúde local, centenas de pessoas feridas se submeteram a complexos tratamentos e conviverão com sequelas físicas de longa e até perpétua duração.

Diante da gravidade do ferimento produzido “por uma bala explosiva” disparada pelo Exército israelense, Ras foi o primeiro a ser operado no Hospital Al-Shifa, no dia 14 de maio, quando mais de 60 palestinos morreram na Grande Marcha do Retorno, agravada na ocasião pela mudança da embaixada dos Estados Unidos em Israel para Jerusalém.

O Exército de Israel disse que os protestos iniciados em março, que deixaram um total de 114 palestinos mortos, foram organizados pelo movimento Hamas, que se valera deles para cometer “ataques terroristas”. Por isso, respondeu em legítima defesa.

A Anistia Internacional considera que o grande número de feridos, principalmente nos membros inferiores, parece mais com de uma guerras do que a resposta a uma manifestação. Afirma que atiradores de elite utilizaram rifles com  munição de caça, que se expande e se espalha dentro do corpo.

“Muitos vão precisar de reabilitação ortopédica e, depois, de tratamentos reconstrutivos e físicos. Além de todo esse impacto, a pessoa vai ter limitações de locomoção, e há o impacto econômico para a sociedade”, advertiu Gabriel Salazar, coordenador de saúde do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

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O palestino Ali Mohammed Abu Hashem deu entrada em 13 de abril e precisou da amputação imediata da perna direita por ferimento de bala. Ele é uma das 26 pessoas que até o momento perderam uma parte do corpo entre os mais de 3 mil feridos nos protestos, conforme dados do Ministério da Saúde da Faixa de Gaza.

“Depois de 27 dias de tratamento, a inflamação está controlada, e o ferimento finalmente fechou. Espero que a situação melhore”, disse Hashem, que divide um quarto no hospital com outros cinco feridos nos protestos.

Salazar explicou que durante oito semanas houve uma demanda grande no hospital, recebia centenas de pacientes por dia. Muitos receberam alta prematuramente para abrir espaço a novos pacientes, em meio ao alerta sobre as últimas mobilizações de 14 e 15 de maio.

A alta precoce – o que significa enviar a pessoa para casa, em muitos casos, com recursos limitados e alto nível de pobreza – aumenta o risco de infecção para o paciente que precisa, em média, de duas ou três cirurgias e, em casos mais complicados, de amputações.

No último dia 14 foi registrado o maior número de mortes em Gaza desde a operação militar israelense de 2014. Naquela ocasião, dois mil palestinos haviam morrido nos 50 dias anteriores. Tratou-se de uma crise que fez os médicos aprenderem e planejarem formas de enfrentar emergências com capacidade limitada.

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“Um setor de saúde frágil, em si, impõe uma situação tão aguda quanto importante, na qual a maioria dos casos é complexa e crítica e tem dificuldades. Qualquer hospital da Europa teria enfrentado desafios”, disse Salazar.

O sistema de saúde público de Gaza, região isolada há 11 anos pelo bloqueio imposto por Israel, sofre com a limitação de equipamentos, materiais e remédios por ser dependente do Ministério da Saúde da Autoridade Nacional Palestina (ANP), na Cisjordânia, e devido às restrições israelenses.

A energia elétrica, que só está ligada durante quatro ou seis horas por dia, e as deficiências de saneamento tornam a situação ainda mais delicada.

Os protestos conhecidos como a Grande Marcha do Retorno, promovidos por setores sociais e políticos para reivindicar o direito dos refugiados a voltarem para as suas cidades de origem, levaram um grande número de jovens a manifestar sua frustração com a falta de oportunidades.

Agora, esses mesmos jovens enfrentam meses ou semanas de tratamento, diante de um futuro incerto, que pode derivar uma falta de mobilidade temporária ou até permanente.

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“Embora não tenhamos novos casos, teremos remanescentes que precisarão de cirurgia. A falta de provisões e de capacidade não vai acabar agora”, alertou o especialista, que ressaltou as consequências psicológicas que tudo isso terá em uma sociedade que já se sente castigada e abandonada.

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