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Explosão de carro-bomba no Afeganistão pode ter sido erro americano

Investigação do 'New York Times' aponta que veículo era dirigido por funcionário de empresa humanitária, e carregava galões de água confundidos com bomba

Por Redação
Atualizado em 11 set 2021, 16h20 - Publicado em 11 set 2021, 15h45

No dia 29 de agosto, um míssil americano foi disparado contra um veículo que as autoridades americanas acreditavam ser um carro-bomba do Estado Islâmico em Cabul. A operação foi a última da ocupação americana no Afeganistão, mas uma investigação recente publicada pelo New York Times  levanta dúvidas sobre a versão oficial dos eventos, sugerindo que não havia explosivos no veículo e que o motorista — identificado como um funcionário de uma empresa americana — não tinha relação com o ISIS.

Segundo a reportagem, quem dirigia o carro era Zemari Ahmadi, um trabalhador de longa data do Nutrition and Education International, um grupo humanitário com sede na Califórnia. Vídeos acessados pela publicação e mais de uma dúzia de entrevistas com colegas de trabalho e familiares de Ahmadi apontam que suas viagens naquele dia envolveram o transporte de colegas para o trabalho, e não uma visita a um esconderijo do ISIS, como alegaram os militares.

Uma análise das imagens também mostrou que o que as autoridades interpretaram como bombas sendo carregadas no porta-malas, possivelmente eram galões de água que seriam levados para a família de Ahmadi, já que o fornecimento no bairro havia sido suspenso. “Eu mesmo enchi os contêineres e o ajudei a colocá-los no porta-malas”, disse o vigia da empresa.

Autoridades americanas disseram ao NYT que avistaram o veículo suspeito depois dele ser flagrado saindo de um complexo identificado como um esconderijo do ISIS a cerca de cinco quilômetros do aeroporto de Cabul. Segundo seus parentes, Ahmadi saiu para o trabalho por volta das 9h, e fez três paradas no caminho para pegar dois passageiros e o seu notebook: o último local, a casa do diretor do NEI, ficava perto de onde partiu um foguete lançado pelo ISIS na manhã seguinte, a partir de um Toyota Corolla, um modelo semelhante ao veículo de Ahmadi, com o qual ele pode ter sido confundido.

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Ao longo do dia, um drone continuou a rastrear o veículo, e as autoridades alegaram que interceptaram as comunicações entre o sedã e o suposto esconderijo do ISIS, instruindo-o a fazer várias paradas. Em uma delas, um escritório do NEI, o drone observou Ahmadi e outras três pessoas carregando pacotes pesados ​​no carro, que eles acreditavam poder conter explosivos, mas os passageiros alegam que levavam apenas dois notebooks e os contêineres com água no porta-malas.

Depois de deixar os colegas de trabalho no caminho, Ahmadi foi para casa, onde o veículo foi atingido por um míssil por volta das 16h50. Até agora, os militares reconhecem apenas três vítimas civis da operação, mas os parentes de Ahmadi dizem que 10 membros da família, incluindo sete crianças, foram mortos no ataque. Vizinhos e um oficial de saúde afegão confirmaram que corpos de crianças foram removidos do local, e a família mostrou à publicação fotos de vários corpos de crianças gravemente queimados.

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Desde então, os militares têm justificado a operação citando uma explosão ainda maior que ocorreu depois, mas um exame da cena conduzido pela equipe de investigações NYT na manhã seguinte, e seguido de uma segunda visita quatro dias depois, não encontrou evidências de uma segunda explosão.

Especialistas que examinaram fotos e vídeos também apontaram que, embora houvesse evidências claras de um ataque de míssil, não houve paredes desmoronadas ou explodidas, nem vegetação destruída, e apenas um amassado no portão de entrada, indicando um único choque.

“Isso questiona seriamente a credibilidade da inteligência ou tecnologia utilizada para determinar se este era um alvo legítimo”, disse Chris Cobb-Smith, veterano do Exército britânico e consultor de segurança ao NYT.

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Os familiares questionaram por que Ahmadi teria uma motivação para atacar os americanos, já que havia solicitado refúgio nos Estados Unidos. Seu primo Naser, um ex-empreiteiro militar dos Estados Unidos, também havia se candidatado. “Todos eles eram inocentes”, disse Emal, irmão de Ahmadi. “Estão dizendo que ele era do ISIS, mas ele trabalhava para os americanos.”

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