Exército de Mianmar justifica golpe apesar de pressão internacional
Militares alegaram fraude nas eleições e afirmaram que sistema eleitoral foi incapaz de solucionar o problema
Inevitável. Foi assim que o comandante do Exército de Mianmar, Ming Aung Hlaing, justificou nesta terça-feira, 2, o golpe de Estado que os militares aplicaram contra a governante e Nobel da paz, Aung San Suu Kyi.
“Este caminho era inevitável para o país e, por isso, tivemos que escolhê-lo”, alegou o general, de acordo com a página oficial do Exército no Facebook.
Os comentários do militar foram feitos pouco antes de uma reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas e depois que o partido de Aung San Suu Kyi, líder de fato do governo deposto, pediu sua “libertação” imediata.
Os Estados Unidos, depois de definirem a situação como um “golpe”, alertaram que reduziriam sua ajuda à Mianmar. A ONU e a União Europeia (UE) também condenaram o golpe. Pequim, por sua vez, se recusou a criticar qualquer pessoa, limitando-se a pedir a todas as partes que “resolvam suas diferenças”.
Na segunda-feira 1, o Exército assumiu o controle político do país por um ano depois de prender vários membros do governo, além de Suu Kyi. Os militares justificaram o golpe com uma suposta fraude nas eleições de novembro do ano passado e alegaram que a Comissão Eleitoral foi “incapaz de resolver o problema”.
Até agora o vice-presidente, Myint Swe, que foi nomeado para o cargo pelos militares, assumiu a Presidência interina e deu todos os poderes a Hlaing.
O Parlamento de Mianmar ria realizar a primeira sessão do ano pouco antes do golpe.
“Não tenho pena de Suu Kyi”, assim declarou um refugiado rohingya em Bangladesh após saber sobre o golpe de Estado em seu país natal, segundo a emissora Al Jaazera.
A líder deposta pelos militares, apesar de seu Nobel da Paz que foi concedido por ela ter ido contra a ditadura militar em Mianmar nos anos 1980 – os mesmos militares que a retiraram do cargo –, é acusada de expulsar milhares de pessoas da minoria muçulmana rohingya do país. Atualmente, Suu Kyi é investigada pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por genocídio.
O comandante do Exército, Min Aung Hlaing é considerado um pária nos países ocidentais, devido à violenta repressão dos militares contra a minoria muçulmana rohingya.
Aung San Suu Kyi, apesar das críticas internacionais, continua sendo idolatrada em seu país. A “Dama de Yangun”, que viveu muito tempo no exílio, retornou a Mianmar em 1988 e se tornou a maior figura da oposição contra a ditadura militar. Passou 15 anos em prisão domiciliar até ser liberada pelo Exército em 2010.