Uma das estratégias-chave de Evo Morales para chegar ao poder, a mobilização popular, está se voltando contra ele. O maior sindicado da Bolívia convocou uma greve geral por tempo indeterminado e uma marcha de protesto para exigir aumento salarial superior aos 15% oferecidos pelo governo.
De acordo com o secretário da Central Operária Boliviana (COB), Pedro Montes, a greve deve começar na segunda-feira. Já a manifestação deve reunir trabalhadores a partir da localidade de Caracollo. A partir daí, haverá uma marcha de 200 quilômetros pelo Altiplano boliviano até La Paz.
O presidente Evo Morales conhece bem essa forma de reivindicação, a qual ele mesmo recorreu sistematicamente quando era sindicalista até depois de chegar ao poder. Em outubro de 2008, ele convocou suas bases sociais para uma marcha exatamente entre Caracollo e La Paz. Naquela época, os manifestantes exigiam do Congresso a aprovação de lei que permitisse a ele submeter o projeto de uma nova Constituição à consulta popular.
Poucos meses depois, em abril de 2009, Morales iniciou uma greve de fome com outros líderes sindicais para forçar o Congresso a aprovar uma nova lei eleitoral. Entre esses líderes estava Pedro Montes, o dirigente máximo da COB, que agora convocou o protesto contra o presidente.
A correspondente da BBC na Bolícia, Mery Vaca, registrou que a relação entre o presidente Evo Morales e os sindicatos bolivianos começou a esfriar no mês passado, quando se tornou público o decreto de reajuste salarial, em meio a protestos sociais que rechaçaram sua proposta. Ainda que a COB não queira falar até agora em ruptura com o processo de mudanças conduzido pelo presidente, seus dirigentes criticaram fortemente as medidas adotadas pelo governo sobre o aumento salarial.
Reivindicações – Os sindicatos querem, além do aumento salarial de 15%, uma nova lei de aposentadoria e novas políticas de desenvolvimento. Cada sindicato tem suas próprias exigências: enquanto os policiais pedem 25% de aumento, os professores defendem um valor mínimo para o aumento de 1 100 pesos bolivianos (cerca de 250 reais). Tais demandas se tornaram públicas na semana passada em diversos protestos em La Paz. Algumas manifestações acabaram em confrontos com a polícia.