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EUA retiraram referência a ameaças terroristas de documento sobre Bengasi

Rede de TV revela que administração Obama trabalhou para evitar acusações de que nada fez sobre ameaças à representação americana na Líbia em um momento crucial, às vésperas das eleições presidenciais

Por Da Redação
10 Maio 2013, 19h58

No final de janeiro, a secretária de estado americana Hillary Clinton testemunhou no Congresso sobre a maneira como o governo Obama reagiu ao ataque ao consulado do país em Bengasi, na Líbia – um incidente que resultou na morte do embaixador e mais três funcionários. Quando um senador republicano acusou a administração Obama de ter deliberadamente, nas primeiras manifestações públicas sobre o caso, enganado o público a respeito do que havia acontecido, Hillary deu uma resposta ríspida que foi muito aplaudida pelos democratas. “Que diferença isso faz agora?”, disse ela – uma frase acompanhada de quatro tapas sobre a mesa. A diferença – bastante clara na política americana – é que um governo não tem autorização de mentir para seus eleitores. E como ficou claro nesta sexta-feira, depois de uma reportagem da rede de televisão ABC News, foi exatamente isso o que a administração fez: manipulou a informação disponível, de modo a sugerir que não havia indícios de inteligência mostrando que grupos terroristas ameaçavam o consulado – e que portanto não houvera negligência com as medidas de segurança. Um e-mail obtido pela rede de televisão mostra que a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, orientou a equipe que preparava o comunicado a ser divulgado sobre o caso a retirar dele uma menção às ameaças terroristas. “Isso pode ser indevidamente usado por congressistas para atacar o departamento por não ter dado atenção aos avisos”, escreveu Victoria. Fica explícito o objetivo de proteger o governo em meio à campanha eleitoral que reelegeria Obama.

A reportagem da ABC vem à tona no momento em que parlamentares republicanos sobem o tom das críticas à inação do governo diante das ameças. Um dos principais focos das críticas é Hillary Clinton, secretária de Estado no primeiro mandato de Obama e apontada como potencial candidata democrata para a disputa presidencial de 2016. A administração Obama negou as acusações, mas tudo indica que a dor de cabeça está apenas no início para o presidente. No Congresso, os democratas têm se esforçado para minimizar os ataques republicanos. No entanto, a reportagem da ABC reaviva um assunto que o governo preferia ver arquivado. A imprensa americana não deu destaque ao assunto e, com isso, acabou se unindo aos esforços democratas para tentar reduzir a importância da grave denúncia.

Insegurança em Bengasi – Stevens e os outros três funcionários (um deles diplomata e os demais ex-membros do grupo de elite Seal, da Marinha) foram mortos por homens armados com fuzis semiautomáticos e lançadores de granadas que se misturaram a uma multidão enfurecida de líbios reunida em frente ao consulado. Eles protestavam contra um filme produzido na Califórnia e divulgado na internet considerado ofensivo a Maomé, o fundador do islamismo. Acredita-se que Steven e o outro diplomata, Sean Smith, tenham morrido asfixiados pela fumaça de um incêndio provocado pelos terroristas. Os ex-Seals Tyrone Woods e Glen Doherty morreram em um segundo ataque, numa emboscada contra um comboio formado para evacuar o consulado. O ataque ocorreu no dia 11 de setembro, aniversário de onze anos dos atentados terroristas em Nova York.

Cinco dias depois, a representante dos EUA nas Nações Unidas, embaixadora Susan Rice, afirmou que o ataque não era “organizado ou premeditado”, e sim resultado de uma manifestação “espontânea” contra o filme. Em várias entrevistas, Susan usou o documento alterado para sustentar sua tese. Demorou mais três dias para que a administração Obama passasse a classificar o atentado como terrorismo. Antes mesmo da “oficialização”, porém, os indícios de que os Estados Unidos estavam tentando direcionar a interpretação sobre o caso para o caminho que lhe era favorável já estavam evidentes. O chefe do Congresso Geral Nacional, principal autoridade da Líbia, Mohamed Magarief, atribuiu mais de uma vez o ataque a terroristas ligados à Al Qaeda. Em outubro, a rede de televisão CNN divulgou que os Estados Unidos sabiam que o grupo terrorista Ansar al-Sharia estava por trás do atentado duas horas depois do ataque.

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Hillary e Susan No mesmo mês, Hillary Clinton assumiu a responsabilidade pelas falhas que levaram ao incidente. “Assumo a responsabilidade”, disse, admitindo que o fazia para evitar qualquer “exploração política” do episódio. “Sei que estamos perto de uma eleição”. Ela afirmou ainda que “o presidente e o vice-presidente não teriam conhecimento sobre decisões específicas que são feitas por profissionais de segurança”. Quando Hillary deu essas declarações, ex-funcionários responsáveis pela segurança de missões diplomáticas americanas já haviam admitido que a proteção ao consulado em Bengasi era insuficiente. Eric Nordstrom disse, em uma reunião na Câmara dos Representantes que havia solicitado mais recursos, mas a resposta foi desanimadora. “No lugar de receber os recursos que pedia, fui criticado e me disseram para fazer o possível com os meios existentes”.

Apenas no final de novembro Susan Rice admitiu que sua descrição do ataque foi incorreta. A senadores republicanos, tentou se justificar dizendo que não teve a intenção de enganar a população americana e que suas declarações foram baseadas em informações da inteligência americana – que agora se sabe que foram alteradas exatamente para enganar. Apesar do discurso, Susan não convenceu os congressistas e acabou tendo de desconsiderar sua candidatura para suceder Hillary no Departamento de Estado – algo até então dado como certo. A próxima a ter de abrir mão de uma candidatura deverá ser a própria Hillary.

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