EUA: Plano democrata de taxar bilionários cai por resistência de moderados
Impostos seriam usados para pagar agenda social e de combate à mudança climática promovida pelo presidente Biden
Um plano montado pelos democratas do Senado dos Estados Unidos para aumentar impostos sobre os 700 bilionários do país colapsou após críticas de membros mais moderados do partido, em meio às tensões sobre o pacote de gastos proposto pelo presidente Joe Biden. Os impostos seriam usados para pagar a agenda social e de combate à mudança climática promovida pelo mandatário.
Agora, negociadores da Casa Branca e do Partido Democrata tentam encontrar novas fontes para pagar a legislação proposta por Biden, que prevê amplos investimentos governamentais em saúde, educação e na luta contra a mudança climática durante a próxima década. Enquanto no início das negociações esperavam simplesmente aumentar impostos sobre empresas e renda individual, houve oposição de Kyrsten Sinema, moderada do Arizona, fazendo com que tivessem que buscar alternativas.
Dada a divisão de 50-50 de representação partidária no Senado, um único voto pode afundar as chances de aprovação de uma medida.
No caso de impostos sobre os ricaços, houve mais vozes dissonantes. Mark Warner, senador democrata da Virgínia, disse fazer sentido que “os americanos absolutamente mias ricos paguem uma fatia justa”, mas acrescentou que “o problema está nos detalhes”, dizendo ser importante não favorecer “um tipo de bem sobre outro”.
Richard Neal, democrata presidente do comitê da Câmara responsável por pautas fiscais, também colocou dúvidas sobre o plano, dizendo que há “muita raiva sobre isso” e que há muita complexidade envolvida para dar certo.
A proposta, criada pelo presidente do comitê de finanças do Senado, Ron Wyden, e apresentada na última quarta-feira, 27, tem como objetivo taxar pessoas com renda anual superior a 100 milhões de dólares ou com mais de 1 bilhão de dólares em ativos por três anos. Atualmente, esses bilionários não pagam impostos sobre os ganhos de capital latentes, os lucros guardados em grandes portfólios de ações.
Em abril, o Fundo Monetário Internacional chegou a citar os Estados Unidos como um exemplo de país onde houve um intenso aumento de desigualdade durante a pandemia. Enquanto famílias do topo puderam optar pelo trabalho remoto, grupos vulneráveis, como hispânicos e negros, perderam emprego e renda.
A solução para a recuperação econômica, segundo o FMI, seria justamente aumentar os impostos para os mais ricos e para as empresas que tiveram lucros substanciais durante o surto de Covid-19. Um dos alvos principais são os setores que se beneficiaram com o seguido abre e fecha da economia, notadamente os gigantes da tecnologia.
Entre os cerca de 700 impactados estão Elon Musk, da Telas, Jeff Bezos, da Amazon e Mark Zuckerberg, do Facebook
À rede CNN, a secretária do Tesouro, Janet Yellen, reconheceu na última semana que o plano “facilitaria a obtenção de ganhos de capital, que representam uma parte extremamente importante da receita das pessoas mais ricas e que atualmente não são taxados”.
Depois da frustração com as respostas negativas, autoridades da Casa Branca reconheceram a derrota e retiraram o plano da mesa, segundo o Financial Times. Uma opção mais viável, ainda estudada, é um plano para um imposto mínimo sobre lucros corporativos das 200 maiores empresas americanas, em uma tentativa de compensar a falta do aumento em impostos corporativos.
A medida faria com que as empresas que registram mais de 1 bilhão em lucros a acionistas paguem ao menos 15% de volta em impostos. Embora grupos empresariais tenham levantado preocupações, o projeto parece agradar o mais mais moderados do Partido Democrata.