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EUA pedem ‘coragem’ ao papa em luta contra perseguição religiosa na China

A distância é cada vez maior entre a atual hierarquia da Igreja Católica e o governo do presidente Donald Trump

Por Da Redação
Atualizado em 1 out 2020, 09h53 - Publicado em 30 set 2020, 11h41

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, pediu nesta quarta-feira 30 “coragem” ao papa Francisco, durante uma visita a Roma para combater as perseguições religiosas, em particular na China. A declaração provoca tensão com o Vaticano na véspera de seu encontro com o número dois da Santa Sé, o cardeal Pietro Parolin.

“Peço a todos os líderes religiosos para que encontrem coragem para enfrentar a perseguição religiosa contra suas próprias comunidades, e contra outras religiões”, declarou Pompeo ao lado do arcebispo britânico Paul Gallagher, responsável pelas relações da Santa Sé com outros Estados. “Os líderes cristãos devem defender seus irmãos e irmãs no Iraque, na Coreia do Norte e em Cuba”, completou, após um violento ataque a Pequim, que acusa de reprimir as minorias católica e muçulmana uigur.

“Em nenhuma outra parte como na China a liberdade de culto é tão atacada”, afirmou Pompeo, que cita com frequência o compromisso assumido pelo papa João Paulo II, na década de 1980, contra o bloco soviético, em nome do que o pontífice polonês chamava de “risco da liberdade”.

“Que a Igreja e aqueles que sabem que, no fim, todos prestaremos contas diante de Deus possam ser tão corajosos em nossa época”, afirmou o chefe da diplomacia americana.

As relações entre Estados Unidos e Vaticano ficaram tensas após a assinatura em setembro de 2018 de um histórico acordo “provisório” entre a Santa Sé e Pequim sobre a nomeação de bispos. Buscado pelo papa Francisco para reunificar uma igreja chinesa dividida em duas (a oficial e a clandestina), o acordo dá ao pontífice a última palavra para designar os bispos chineses e, desde então, dois prelados foram nomeados.

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Pompeo já havia criticado a diplomacia do Vaticano há dez dias, em um artigo publicado na revista religiosa conservadora americana First Things. No texto, ele pediu a ruptura do acordo entre a Santa Sé e a China e fez um apelo para que o pontífice condenasse a perseguição religiosa na China.

Os comentários foram mal recebidos no Vaticano, reconheceu nesta quarta-feira o arcebispo Gallagher, para quem Pompeo “violou as regras da diplomacia”.

O peso das eleições

A distância é cada vez maior entre a atual hierarquia da Igreja Católica e o governo do presidente Donald Trump. “Me parece que a atual Presidência americana atua apenas na perspectiva das eleições. Buscam a reeleição de Trump e atuam seguindo apenas esta lógica”, advertiu na segunda-feira o cardeal hondurenho Oscar Arnulfo Rodríguez Maradiaga.

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Mike Pompeo não se reunirá com Francisco, semanas antes das eleições presidenciais americanas. Um encontro privado nunca esteve previsto na agenda, de acordo com fontes do Vaticano.

“O tema da China não importa, o que buscam é o voto dos católicos dos Estados Unidos”, opinou Massimo Faggioli, historiador e teólogo italiano, professor da Universidade de Villanova. Para o analista, o governo “tenta converter em votos para Trump um certo sentimento anti-papa Francisco e anti-Vaticano, que cresceu nos últimos anos”.

Pompeo, um fervoroso cristão evangélico, intensificou o discurso religioso para reconquistar o eleitorado que contribuiu em grande medida para a vitória de Donald Trump em 2016.

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De acordo com o Pew Research Center, a igreja católica americana está dividida em dois setores: um, a favor dos republicanos, formado em sua maioria por brancos; e outro, a favor dos democratas, formado em geral por latinos. O voto católico pode, portanto, ser decisivo nas eleições presidenciais.

O papa Francisco também é atacado pelos católicos ultraconservadores americanos, que o chamam de “comunista” e foi alvo de campanhas de descrédito por parte de setores que se opõem às suas posições contra a pena de morte, a favor dos imigrantes e de defesa do meio ambiente.

Pompeo também se reuniu com o chanceler italiano, Luigi di Maio, e com o primeiro-ministro Giuseppe Conte. As relações bilaterais, a crise provocada pela Covid-19 e o desenvolvimento da tecnologia 5G estão entre os temas que devem ser abordados, assim com a relação da Itália com a China.

(Com AFP)

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