EUA estão atentos à pressão contra acordo com Brasil, diz porta-voz
Fala de representante do Departamento de Estado acontece um dia antes de encontro de Biden e Bolsonaro em cúpula sobre clima
O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Ned Price, afirmou em entrevista à imprensa nesta quarta-feira-, 21, que o governo americano está ciente e prestando atenção em documentos feitos por senadores americanos e pela sociedade civil que pressionam contra um possível acordo ambiental com o governo brasileiro.
Um dos documentos, uma carta assinada por um grupo de 15 senadores proeminentes do Partido Democrata americano e divulgada na última sexta-feira, pede que o presidente Joe Biden não conceda auxílio monetário ao Brasil por conta do histórico do presidente Jair Bolsonaro em relação ao meio ambiente. Entre os senadores estão os ex-pré-candidatos à Presidência Bernie Sanders e Elizabeth Warren.
Os congressistas demandaram que qualquer apoio à preservação da Amazônia estivesse condicionado a um progresso significativo na redução do desmatamento. Além disso, alertam que o fracasso em atingir as metas de redução afetará o apoio à candidatura do Brasil à OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), um dos maiores objetivos de Bolsonaro.
“Nós definitivamente estamos prestando atenção nestas cartas. Gostaria de adicionar que estamos ouvindo também os nossos parceiros no governo brasileiro, sobre o que eles estão pensando em fazer e no que de fato estão fazendo. Entendemos que essa questão depende de uma cooperação global e é claro que o Brasil é um parceiro chave”, disse o porta-voz.
A fala de Price acontece um dia antes de Biden encontrar-se com Bolsonaro e outros chefes de Estado em uma cúpula sobre clima organizada pelos americanos, que ocorrerá on-line na quinta-feira e sexta-feira.
Além do documento feito pelos senadores, uma outra carta aberta foi enviada para que o presidente Joe Biden rejeite qualquer acordo ambiental. Celebridades internacionais como Leonardo DiCaprio, Kate Perry, Jane Fonda e Joaquin Phoenix assinam o documento junto a brasileiras como Gilberto Gil e Sonia Braga.
“Compartilhamos suas preocupações de que ações urgentes devem ser tomadas para enfrentar as ameaças à Amazônia, ao nosso clima e aos direitos humanos, mas um acordo com Bolsonaro não é a solução”, diz o documento. “A integridade deste ecossistema crítico está se aproximando de um ponto de não retorno devido às crescentes ameaças à floresta tropical e aos seus guardiões pelo governo Bolsonaro, incluindo desmatamentos, incêndios e ataques aos direitos humanos”.
Na semana passada, Bolsonaro enviou uma carta que trata do compromisso em cessar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030. Em texto, ele definiu metas e compromissos brasileiros em relação ao meio ambiente, bioeconomia, regularização fundiária, zonas ecológico-econômicas e pagamentos por serviços ambientais.
As negociações bilaterais com o Brasil sobre o meio ambiente começaram no dia 17 de fevereiro, lideradas por John Kerry, enviado especial do governo Biden para o clima. Em resposta ao documento apresentado pelo governo brasileiro, o ex-senador americano afirmou em suas redes sociais que o compromisso de Bolsonaro contra o desmatamento ilegal é importante, e que os EUA aguardam “ações imediatas e engajadas com a população indígena e com a sociedade civil para que o anúncio tenha resultados tangíveis”.
A cooperação internacional em relação ao meio ambiente foi uma dos principais pontos da campanha do novo líder da Casa Branca para intensificar a luta contra as mudanças climáticas. Biden propôs que o Brasil receba um pacote de 20 bilhões de dólares para combater o desmatamento – e que o país deve sofrer repercussões se falhar.
Na época, Bolsonaro classificou os comentários de Biden como “lamentáveis”, acusando-o de imperialista. Agora, na carta enviada esta semana, ele disse apoiar o desenvolvimento sustentável com alternativas econômicas para os moradores empobrecidos da região e que para cumprir suas metas vai precisar de recursos externos, acrescentando que a ajuda do governo americano seria “muito bem-vinda”.