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EUA desmascaram espião russo que se disfarçava de brasileiro, diz FBI

Sergey Cherkasov, funcionário do Departamento Central de Inteligência (GRU), se apresentava em Washington como Victor Muller Ferreira

Por Da Redação
Atualizado em 3 abr 2023, 10h49 - Publicado em 29 mar 2023, 09h57

Um homem que se apresentava em Washington, D.C., nos Estados Unidos, como o estudante de pós-graduação brasileiro Victor Ferreira foi desmascarado como espião do serviço de inteligência russo, cujo nome verdadeiro é Sergey Cherkasov, de acordo com uma acusação de autoridades americanas divulgada nesta quarta-feira, 29.

Cherkasov passou quase uma década construindo a persona fictícia de Ferreira, de acordo com uma acusação do Departamento de Justiça apresentada na Justiça Federal na sexta-feira 24. Ele chegou aos Estados Unidos em 2018, quando foi aprovado na pós-graduação da Universidade Johns Hopkins, na capital americana, fingindo ser um esforçado estudante brasileiro de relações internacionais. Aos 33 anos, se passou por um aluno de 20.

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Agente do Departamento Central de Inteligência (GRU) e originário de Kaliningrado, Cherkasov fazia parte de um círculo fechado de manipuladores russos cujo objetivo era se infiltrar em D.C., forjando conexões com os órgãos americanos de segurança, do Departamento de Estado à CIA.

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Uma certidão de nascimento substituta, com o nome de “Victor Muller Ferreira”, foi supostamente emitida em 2009, um ano antes de Cherkasov entrar no Brasil, de acordo com arquivos de tribunais brasileiros. Depois, há registro de uma carteira de motorista com o mesmo nome, mas com a foto de alguém que não era Cherkasov. Tudo isso sugere que oficiais russos abriram caminho para o espião com antecedência.

Aproveitando-se de vulnerabilidades no sistema de imigração e manutenção de registros do Brasil, o Kremlin também contou com ajuda de autoridades brasileiras. Um tabelião que assinou muitas das submissões fraudulentas de Cherkasov recebeu presentes, incluindo um colar Swarovski, de acordo com a acusação dos Estados Unidos.

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Depois de se firmar, Cherkasov passou a coletar documentos de residência adicionais sob a identidade de Ferreira, incluindo uma identidade de contribuinte, uma nova carteira de motorista com uma foto que realmente correspondesse à sua aparência, bem como um passaporte brasileiro. Durante os primeiros anos no Brasil, o espião trabalhou em uma agência de viagens – que o FBI suspeita ser dirigida por outro agente russo –, que fechou desde então.

A “lenda” de Cherkasov – o termo de espionagem para a história fabricada de sua identidade – era complicada e trágica. Victor Ferreira teria tido uma infância difícil após a morte da mãe, passando de mão em mão por uma série de cuidadores substitutos e partidas prolongadas do país. Para reforçar essa biografia, o GRU adulterou documentos para registrar o agente como filho de Juraci Eliza Ferreira, brasileira falecida em 1993. Na verdade, ela morreu sem filhos, segundo registros de tribunal.

Durante seus dois anos em Washington, o espião apresentou relatórios a seus chefes no serviço de inteligência militar da Rússia, com foco na resposta de altos funcionários do governo de Joe Biden às movimentações do exército russo antes da guerra na Ucrânia, de acordo com uma declaração do FBI.

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Depois de se formar, o Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia chegou a oferecer-lhe um estágio de seis meses no ano passado – assim que a corte começou a investigar crimes de guerra russos na Ucrânia, o que seria uma oportunidade única para infiltrar-se.

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No entanto, após um alerta do FBI, autoridades holandesas rejeitaram Cherkasov, colocando-o em um avião de volta ao Brasil em abril, onde ele foi preso ao pousar e agora cumpre pena de 15 anos de cárcere por fraude de documentos (em relação à sua identidade falsa).

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O caso revelou vulnerabilidades persistentes nas defesas ocidentais, mais de uma década depois que o FBI prendeu 10 agentes russos, ganhou as manchetes globais e gerou uma popular série de televisão, “The Americans”. Funcionários da Casa Branca reconhecem que a agência descobriu a identidade de Cherkasov e afiliação ao GRU somente após sua chegada aos Estados Unidos, de acordo com reportagem do jornal The Washington Post.

Por outro lado, autoridades americanas encontraram no computador de Cherkasov um tesouro de evidências, de acordo com registros da Justiça Federal, incluindo e-mails para sua equipe de espiões, detalhes sobre “depósitos mortos” onde mensagens secretas poderiam ser deixadas, registros de transferências ilícitas de dinheiro – e um história pessoal repleta de erros, que ele parece ter composto enquanto tentava memorizar detalhes de sua vida fictícia (uma aversão ao cheiro de peixe perto de uma ponte no Rio de Janeiro, um pôster da Pamela Anderson em uma oficina mecânica onde supostamente trabalhava).

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Segundo investigação do Post, Cherkasov é apenas uma minúscula peça de uma operação contínua de redes de inteligência russas em toda a Europa e Estados Unidos, que começou após a invasão russa da Ucrânia e causou graves danos às agências de espionagem do Kremlin.

A Rússia negou que Cherkasov seja um espião. Alegando que ele, na verdade, é um traficante de heroína procurado que fugiu do país para evitar ser preso, Moscou pediu sua extradição do Brasil.

Não está claro se Washington também pedirá a extradição de Cherkasov, mas autoridades americanas justificam que tê-lo perto pode ajudar a impedir a Rússia de garantir o retorno de seu espião. Os Estados Unidos acusam-no de operar ilegalmente como agente estrangeiro, bem como de fraude bancária, eletrônica e de visto.

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