Era do fogo: a fúria da natureza nos Estados Unidos em 2020
No desrespeito ao ambiente, o drama americano tem conexão com a pirotecnia criminosa na Amazônia e no Pantanal brasileiros

Em 2020, o que a impressão a olho nu indicava, a estatística confirmou, amargamente — o estado da Califórnia, o mais rico dos Estados Unidos, queimou como não se via há muito tempo. O equivalente a 16 000 quilômetros quadrados de vegetação, dez vezes a área da cidade de São Paulo, ardeu em chamas. Foram 8 200 mil focos de incêndio, o dobro do recorde anterior, de 2018. Para apagá-los, em sucesso apenas parcial, foram deslocados mais de 20 000 bombeiros, celebrados como heróis. A consequência: 31 mortes e dezenas de milhares de pessoas deslocadas de suas residências, numa corrida emoldurada pelo permanente céu alaranjado, que seria bonito, não fosse trágico. Uma indagação se impôs: como assim, tanto descaso numa região de primeiríssimo mundo e conhecimento científico no apogeu? Houve, claro, interferência do ser humano, com casos de torres de energia elétrica derrubadas acidentalmente e fagulhas espalhadas por fogos de artifício em festas nas cercanias de Los Angeles. Nesse aspecto, o do desrespeito ao ambiente, o drama americano tem conexão com a pirotecnia criminosa na Amazônia e no Pantanal brasileiros (veja na pág. 62) — a irresponsabilidade é a mesma.
No entanto, rigorosos levantamentos da atual temporada incendiária nos Estados Unidos revelaram a fúria da natureza, numa conjunção de fatores. Em agosto, como nunca antes, houve uma saraivada de raios afeitos a acender a faísca de galhos secos. Em outubro, choveu muito pouco, na comparação com outros anos. “A receita do fogo na Califórnia é antiga, e, desde que haja gente para começar uma queimada, a natureza está ali, à disposição”, diz Park Williams, climatologista da Universidade Columbia. “No entanto, nos últimos anos, as mudanças climáticas aceleraram o descontrole.” E então, em moto contínuo, volta-se a nós, humanos — é sobejamente sabido que a mão da civilização alterou o equilíbrio ecológico, atalho para as cenas tristes californianas. “Não basta contratar mais bombeiros ou ter mais aviões”, disse Thom Porter, diretor do Departamento Florestal e Proteção a Incêndios da Califórnia. “Precisamos que todas as partes do sistema sejam adaptadas para nos ajudar a enfrentar as adversidades que a mudança climática está criando.” Será um desafio e tanto, como foi no ano que se encerra.
Publicado em VEJA de 30 de dezembro de 2020, edição nº 2719
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